México: Ex-advogada de El Chapo pode se tornar juíza no país

Quando os moradores do estado de Ciudad Juárez votarem nas primeiras eleições judiciais do México, no próximo mês, Silvia Delgado estará na cédula de votação, apesar de ter sido advogada do famoso chefe do tráfico de drogas Joaquín “El Chapo” Guzmán, ex-chefe do Cartel de Sinaloa, em 2016.

Antes das eleições de 1º de junho, organizações civis, associações de juízes e alguns legisladores mexicanos estão expressando sérias preocupações sobre uma votação que, segundo alguns críticos, pode comprometer o Estado de Direito do país.

A polêmica reforma judicial foi proposta pelo ex-presidente Andrés Manuel López Obrador e apoiada por sua sucessora, a presidente Claudia Sheinbaum.

Ambos afirmaram que a reforma eliminaria a corrupção no falho judiciário mexicano e permitiria que o povo decidisse quem deveria ser juiz.

Cerca de cinco mil candidatos disputam mais de 840 cargos federais, incluindo todos os juízes da Suprema Corte.

Mas, a pouco mais de uma semana da votação, o grupo mexicano de direitos humanos Defensorxs afirma ter identificado cerca de 20 pessoas concorrendo a cargos com indiscrições criminais, alegações de corrupção ou ligações anteriores com cartéis.

Delgado talvez seja a candidata que mais ganhou as manchetes.

Ela visitava El Chapo semanalmente na prisão para compartilhar atualizações antes de ele ser extraditado para os Estados Unidos e, eventualmente, condenado à prisão perpétua.

Em uma tarde recente na cidade fronteiriça de Ciudad Juárez, Delgado enfrentou o calor para distribuir panfletos e conversar com eleitores em frente a uma escola local.

Mãe solteira, que criou quatro filhos e se formou em Direito, Delgado é sincera sobre o motivo pelo qual aceitou o cargo, afirmando que foi um grande passo como jovem advogada; e que daria novamente.


Ex-advogada El Chapo. • Reprodução/Reuters

Críticos afirmam que a reforma, uma das mais abrangentes já tentadas nos últimos anos por qualquer país do Hemisfério Ocidental, arrisca remover os freios e contrapesos do partido governista Morena e permitir que grupos do crime organizado tenham maior influência sobre o sistema judiciário.

Os candidatos não podem usar materiais de campanha que os vinculem a um partido político, participar de eventos organizados por partidos ou aceitar doações de qualquer tipo.

O líder do Senado, Gerardo Fernández Norona, membro poderoso do partido governista, disse à Reuters que o foco na elegibilidade de certos candidatos era uma guerra midiática “racista e classista” com o objetivo de desacreditar as eleições.

A autoridade do Instituto Nacional Eleitoral (INE) deixou claro que nomes não podem ser removidos antes da votação.

Claudia Zavala, assessora eleitoral do INE, afirmou que o órgão deveria ter sido incluído anteriormente no processo de seleção, conduzido por membros da comissão selecionados pelo Congresso, pelo Judiciário e pelo Executivo.

Agora, tudo o que o INE pode fazer é uma revisão pós-eleitoral de quaisquer reclamações formais sobre candidatos, a fim de provar que uma pessoa é inelegível para ocupar o cargo, explicou Zavala.

Se um vencedor não atender aos requisitos, a vaga será atribuída ao segundo colocado.

 

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