Quando entram na Capela Sistina para participar da eleição de um novo papa, alguns dos cardeais já são considerados “papáveis”, ou seja, potenciais papas há anos. Outros nomes surgem somente depois da morte ou renúncia de um pontífice.
O conclave, como é chamado o processo, é o estágio final de um processo eleitoral secreto que começa discretamente semanas, meses ou até anos antes.
Todos os cardeais, quer procurem o cargo de pontífice ou aqueles que tenham menos vontade, estarão sujeitos à mesma dinâmica imprevisível que torna o conclave uma das eleições mais misteriosas do mundo.
O arcebispo Piero Marini, mestre de cerimônias do conclave de 2005, datou o início da campanha pré-eleitoral de 2013, período após a renúncia do papa Bento XVI, quando viu cardeais conversando em pequenos grupos após se despedirem do então pontífice no Vaticano.
“Foi quando começou a preparação para escolha do novo papa”, disse ele aos jornalistas na época ao explicar os rituais.
O teólogo italiano Massimo Faggioli disse que um dos principais candidatos naquele conclave, o cardeal Angelo Scola de Milão, se preparou durante anos.
Como parte da campanha e para aumentar as chances, o cardeal lançou uma rede de diálogo cristão-muçulmano, em 2004, conhecida como “Oasis”.
“Scola é muito inteligente e construiu sua campanha para o conclave com muito cuidado”, disse ele. “Ele foi muito mais conhecido internacionalmente do que os outros italianos”, acrescentou.
Oasis, uma fundação sediada em Veneza respeitada por seu trabalho com o mundo muçulmano, é mais do que apenas um veículo de campanha e certamente ajudou Scola a aprimorar suas credenciais internacionais.
Campanha na prática
Todos os cardeais podem até negar fazer campanha para uma eleição com o argumento que acreditam a escolher ser guiada pelo Espírito Santo.
Porém, fazer campanha para ganhar votos é a melhor maneira de guiar os eleitores a favor ou contra um candidato a papa.
Assim, um cardeal ambicioso a se tornar pontífice participa com frequência de sínodos, reuniões do Vaticano, visita colegas regularmente e dá palestras que mostram sua sabedoria e habilidades linguísticas. Publicar textos regularmente também é uma estratégia.
Depois que um papa morre ou, em casos raros, renuncia, “grandes eleitores” surgem para promover discretamente candidatos em reuniões pré-conclave chamadas congregações gerais, onde os cardeais se encontram para discutir o futuro da Igreja e procurar o homem que pode liderá-la no futuro.
Geralmente, os cardeais que não estão concorrendo trabalham como “criadores de reis” para angariar votos em conversas informais à margem dessas reuniões, durante jantares em seus restaurantes favoritos em Roma e nos intervalos entre as sessões de votação do conclave.
Quando os cardeais se reuniram para o segundo conclave em 1978, após a morte repentina do papa João Paulo I, o cardeal Franz Koenig, de Viena, reuniu os cardeais de língua alemã, o polonês-americano John Krol e também os cardeais dos EUA, para se juntarem Karol Wojtyla, da Cracóvia, que conseguia ser eleito e se tornaria o papa João Paulo II.
O cardeal Joseph Ratzinger, que se tornaria o papa Bento XVI, teve apoio dos cardeais da Cúria Romana, que são os responsáveis por administrar a Igreja Católica. Isso aumentou suas chances de ser eleito.
Papa Bento x papa Francisco

Na própria Capela Sistina, os cardeais rezam, votam e esperam pelos resultados das eleições. Nenhuma consulta é permitida dentro da Capela, mas eles podem discutir opções sobre refeições na residência atrás da Basílica de São Pedro, onde ficam durante o conclave.
A primeira rodada de votação, na tarde em que entram no conclave, é como uma votação primária, onde os votos são espalhados por um amplo número de candidatos. Alguns são votos de cortesia, lançados para bajular um amigo, antes que a votação séria comece no dia seguinte.
Os cardeais juram segredo, mas uma reportagem na revista italiana Limes após o conclave de 2005 disse que Ratzinger obteve sólidos 47 votos na primeira votação, Jorge Bergoglio, de Buenos Aires — que em 2013 se tornou o papa Francisco — obteve 10 e o restante foi espalhado entre outros nomes.
Os votos começaram a mudar na segunda parte da votação na manhã seguinte, elevando a contagem de Ratzinger para 65 e a de Bergoglio para 35. A revista italiana afirmou que o argentino foi apoiado por vários cardeais moderados alemães, americanos e latino-americanos.
O terceiro turno, pouco antes do almoço, Ratzinger teve 72 votos para Ratzinger e Bergoglio 40, de acordo com a revista. À tarde daquele mesmo dia, o cardeal alemão garantiu o cargo com 84 votos.
A contagem de Bergoglio caiu no quarto turno para 26, indicando que alguns apoiadores tinham aderido ao movimento Ratzinger. “Alguns aparentemente concluíram que essa era a maneira como o Espírito Santo estava movendo a eleição”, disse um cardeal após a votação.
Entre os muitos ditados romanos sobre papas, há um que diz: “Aquele que entra em um conclave como papa sai como cardeal”.
No entanto, isso nem sempre se mostrou verdade.
Em 1939, o cardeal Eugenio Pacelli entrou no conclave como o favorito. Ele ficou a um voto da eleição na segunda votação e venceu na terceira para se tornar o papa Pio XII.
Este conteúdo foi originalmente publicado em Entenda como acontecem as “campanhas” para virar papa no site CNN Brasil.