Livros de colorir melhoram desempenho escolar, apontam especialistas

Em uma lista recente dos 10 livros mais vendidos no país da plataforma PublishNews, seis são livros de colorir, sendo as duas primeiras posições ocupadas por títulos da coleção “Bobbie Goods” (HarperCollins). O fenômeno editorial é uma espécie de reedição do sucesso do livro “Jardim Secreto”, em 2015, da ilustradora Johanna Basford. Dez anos depois, são as ilustrações com traços fofinhos que têm agradado crianças e adolescentes. 

Outras séries similares aos “Bobbie Goods” já foram publicadas e há versões pirateadas em regiões de comércio popular de todo o Brasil. O sucesso dos livros também tem impulsionado a venda de canetas coloridas. Para especialistas em educação, a tendência é positiva por funcionar como uma alternativa relaxante ao uso excessivo de telas e propor vantagens que impactam positivamente os estudos. 

Segundo Rebeca Veras, especialista de Formações Pedagógicas do SAS Educação, a popularidade de “Bobbie Goods” e afins pode ser explicada por diversos fatores. “Em um mundo cada vez mais digital e acelerado, atividades desconectadas e criativas como colorir oferecem momentos de relaxamento, ludicidade e foco. Além disso, os livros são visualmente atrativos, têm forte apelo estético e muitas vezes são promovidos por influenciadores digitais, o que amplia seu alcance. As imagens fofas e acolhedoras dos desenhos também estão alinhadas com a tendência do ‘cozy’ [aconchegante, em português], que valoriza o conforto e o bem-estar”, observa. 

Estímulo à coordenação motora e à atenção 

Para George R. Stein, fundador e CEO da Pedagog.IA – Inovação em Aprendizagem, colorir auxilia na coordenação motora fina, fundamental para tarefas como escrever e manipular objetos. “Do ponto de vista cognitivo, a atividade estimula a atenção, o foco e a percepção visual, além de incentivar a criatividade e a expressão individual, pois cada escolha de cor e estilo é única”, pontua. 

Colorir ainda pode funcionar como uma forma de autorregulação emocional de crianças e adolescentes, ajudando a reduzir a ansiedade e o estresse ao proporcionar momentos de tranquilidade e concentração. “É uma oportunidade de se desconectar de pressões externas e se engajar em uma atividade prazerosa e livre de julgamentos”, comenta George. 

Ana Claudia Favano, psicóloga, educadora parental e gestora da Escola Internacional de Alphaville, também destaca o bem-estar emocional como um ganho relevante. “Atividades manuais como colorir podem estimular a mente, ativar o sistema nervoso parassimpático, responsável pelo relaxamento, e reduzir o tempo de tela em qualquer idade. E ainda podem aproximar os adultos das crianças quando feitas coletivamente”, diz. 

Para Ana Carolina Souza, neurocientista da Nêmesis Neurociência, colorir é um estímulo de baixa complexidade e envolve uma atividade motora que exige movimentos repetitivos, o que induz à abstração. “Isso ajuda a aumentar a sensação de calma e a reduzir a ansiedade, favorecendo também o que chamamos de estado de fluxo [flow], que é quando a pessoa se envolve em uma atividade que considera engajadora e estimulante e que exige concentração”, fala. 

Benefícios se estendem à escola 

Um dos benefícios mais relevantes dos livros de colorir é a capacidade de concentração, sem a qual os alunos não são capazes de se manter atentos às aulas, o que prejudica seu aprendizado.  

Outro ponto é que, ao estimular a coordenação motora fina, colorir contribui para o desenvolvimento da escrita, tornando-a mais precisa e fluida. Além disso, a atividade exige atenção aos detalhes, habilidade essencial para o aprendizado em sala de aula.  

“O ato de colorir também pode melhorar a capacidade de organização e planejamento, já que a criança precisa escolher cores, delimitar espaços e seguir sequências. Esse tipo de raciocínio pode ser transferido para outras tarefas escolares, como a resolução de problemas matemáticos ou a elaboração de textos”, fala George. 

A redução da ansiedade e do estresse ajuda a criar um ambiente mental mais propício para o aprendizado. Crianças e adolescentes que conseguem se autorregular emocionalmente tendem a ter mais facilidade para lidar com desafios acadêmicos e sociais, o que impacta positivamente o desempenho escolar. O próprio fato de poderem trocar dicas e sugestões com outras crianças que compartilham a paixão contribui positivamente para a percepção de pertencimento e conexão social.   

Tendência tem lado negativo 

Nas redes sociais, conteúdos de influenciadores com técnicas de colorir extremamente elaboradas ou desenhos pintados com materiais de valor elevado podem gerar frustração e sentimentos de comparação e inadequação. 

É importante lembrar que o conteúdo postado é muitas vezes editado, cuidadosamente produzido e não representa a realidade. Pais, responsáveis ou adultos de referência podem ajudar os jovens a valorizarem o processo criativo, e não apenas o resultado, e promoverem o acesso a materiais dentro das possibilidades da família, reforçando que a criatividade e o bem-estar não dependem de produtos caros. 

Existe também um risco, apontado principalmente por alguns educadores de artes, de se limitar o desenvolvimento criativo artístico das crianças. “A constante exposição à desenhos padronizados com um nível alto de estética e detalhes pode desestimular a espontaneidade e a criação”, salienta George. 

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Este conteúdo foi originalmente publicado em Livros de colorir melhoram desempenho escolar, apontam especialistas no site CNN Brasil.

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