A nova atualização sobre as “regra de proteção” do Bolsa Família, realizada nesta quinta-feira (15) pelo governo federal, não deve ser benéfica ao governo Lula nas eleições de 2026, segundo especialistas. A mudança afeta aqueles que passam a ter renda superior ao limite de entrada no programa. Eles continuam recebendo o programa, desde que sigam em situação de vulnerabilidade.
A nova norma, que entra em vigor a partir de junho, só terá efeito na folha de pagamento em julho de 2025. As famílias que tiverem um aumento de renda passarão a receber o auxílio em um período de transição de apenas um ano. Atualmente, o prazo é de dois anos.
Para o cientista político Eduardo Grin, a nova medida não deve trazer impactos positivos ao governo. “Não estou seguro que essas novas regras do Bolsa Família vão ter impacto eleitoral positivo para o governo porque já é direito incorporado, embora o Lula deverá ter votos no Nordeste nesse segmento, porque é muito importante isso para o Nordeste, mas eu acho que essa mudança da regra pode até não gerar benefício para o governo porque ela reduz o alcance dessa medida protetiva de dois anos para um, e ainda assim com 50% do salário, diante do ajuste fiscal promovido”, afirmou o especialista à CNN.
Grin acrescentou ainda que a mudança “pode ser aproveitada pela oposição, justamente porque o governo está retirando direitos e benefícios que, certamente dirão que Bolsonaro dava mais, etc e tal. Então acho que esse pode ser um efeito que pode ter. Quanto a ter efeito positivo, eu acho que ele vai ser mais localizado no Nordeste, que é um onde o Lula e o PT sempre tem mais votos”.
Leandro Consentino, cientista político e professor de Relações Internacionais do Insper, afirmou à CNN que o Bolsa Família “é de fato um ativo importante desse governo” e por isso, considera a medida “arriscada”, visto que “pode causar um dano ao governo”.
“Acho que seria uma medida arriscada, porque você tá cortando direitos que de alguma forma as pessoas entendem como direitos adquiridos. Então, você pode abrir o flanco para que a oposição explore isso politicamente tão perto das eleições. É uma medida de risco, mas o governo deve estar fazendo isso para tentar sanear algumas contas, porque também tá querendo expandir gastos em outros lugares, inclusive ouve-se falar, inclusive, em aumento do valor do Bolsa Família, então pode ser que ele queira cortar esse tipo de continuidade do benefício visando aumentar. Você tira de um lado para dar para o outro”, avaliou Consentino.
“Eu acho que visivelmente vai ser ruim para o governo do ponto de vista do impacto na imagem de que tá tirando algum direito, vai ser recebido como algo negativo”, prosseguiu o especialista.
O que muda?
Hoje, o valor máximo para entrar na modalidade de proteção do Bolsa Família é de R$ 759. Com a medida, passará a ser R$ 706. Ou seja, uma família que passa a ter uma renda per capita (por pessoa) entre R$ 218 até R$ 706 por mês, seguirá beneficiada por 12 meses, e não mais 24, recebendo 50% do valor do programa.
As famílias que já integram a regra de transição não serão impactadas e vão continuar recebendo o benefício por 24 meses.
“A lógica é evitar o cancelamento imediato do benefício, reconhecendo que a superação da pobreza não ocorre de forma automática com a obtenção de um emprego. Trata-se de um processo gradual, que exige um período de adaptação e estabilização no novo cenário”, alega o Ministério do Desenvolvimento Social (MDS).
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