Apneia do sono na infância: tratamento ortodôntico precoce pode melhorar qualidade de vida

A apneia do sono na infância é uma condição que pode afetar significativamente o desenvolvimento e a qualidade de vida das crianças. Estudo nacional publicado em 2024 na revista International Journal of Oral Science, aponta que uma em cada 30 crianças brasileiras apresenta apneia obstrutiva do sono (AOS), e que 63,2% das crianças pré-escolares possuem algum tipo de problema oclusal, como mordida cruzada ou maxila estreita — fatores que podem agravar a condição.

A apneia obstrutiva do sono é caracterizada por interrupções recorrentes da respiração durante o sono, levando a roncos, sono agitado, cansaço excessivo durante o dia, dificuldades de concentração, além de problemas comportamentais e de aprendizagem. “O que muitos pais ainda não sabem é que alterações no desenvolvimento ósseo e na mordida das crianças estão entre as principais causas da AOS, e que o tratamento ortodôntico precoce é uma das estratégias mais eficazes para evitar ou corrigir o problema desde a infância”, explica Ingrid Ledra, presidente da seção catarinense da Associação Brasileira de Ortodontia (ABOR-SC). 

Esse será um dos principais temas do VI Congresso Catarinense de Ortodontia, que ocorre nos dias 4 e 5 de abril, em Florianópolis, reunindo especialistas do Brasil e do mundo. Jorge Faber, um dos primeiros dentistas do mundo a tratar a apneia do sono, com mais de 29 anos de experiência na área, ministrará a palestra “Apneia do sono e ronco: condensando 29 anos de experiência”, para compartilhar os avanços clínicos e científicos mais recentes.

Davi Martins, iniciou o tratamento aos 4 anos de idade, após dificuldades percebidas na fala e no formato da mordida. “Era difícil compreendê-lo na sua fala. Passamos por várias sessões de fonoaudiologia, mas sem resultados. Depois que ele começou o tratamento ortodôntico, com o expansor no céu da boca, foi uma mudança radical”, conta a mãe, Tatiane Martins. Além de melhorar a comunicação, o tratamento impactou positivamente na alimentação, respiração e na convivência social, especialmente no ambiente escolar. “As professoras sempre comentavam sobre a dificuldade de entendimento, e hoje, depois do tratamento, tudo mudou”, relata. Agora, com 9 anos, Davi segue em acompanhamento com alinhamento dentário, e a mãe reforça a importância de ter iniciado cedo. “Na época eu tinha muitas dúvidas, mas confiei na profissional e hoje vejo o quanto fez diferença, tanto estética quanto funcional. Sempre digo para outras mães: procurem um especialista, começar o tratamento cedo é mais prático e faz toda a diferença na autoestima e na vida social da criança”.

De acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria, o simples relato dos pais sobre ronco frequente ou respiração pela boca pode indicar um quadro de apneia e precisa ser investigado. “Deformidades de crescimento da maxila, como mordida cruzada e sobremordida, por exemplo, podem ser corrigidas com ortopedia funcional dos maxilares, especialmente quando tratadas ainda na infância”, elucida Ingrid. 

Se na infância o tratamento pode evitar complicações futuras, muitos adultos ainda convivem com a apneia sem saber. Marcílio Mandu, de 47 anos, é um exemplo disso. Por anos, sofreu com roncos intensos e dificuldades respiratórias e resolveu procurar um especialista, que indicou a ortodontia  associada a cirurgia ortognática, que corrigiu a apneia e outros problemas respiratórios e estéticos. “Hoje, minha autoestima é outra. Além dos meus roncos terem acabado, não tenho mais vergonha de sorrir em fotos”. Segundo ele, a respiração melhorou também na prática de esportes, e a disposição para as atividades diárias aumentou consideravelmente. “Acordar cansado era rotina. Hoje, isso ficou para trás”, completa.

O palestrante Jorge Faber é considerado referência internacional, com mais de 100 artigos publicados, editor-emérito do Dental Press Journal of Orthodontics, ex-editor do Journal of the World Federation of Orthodontists e precursor de técnicas como o uso de impressão 3D em odontologia e o Surgery First (Benefício Antecipado). Atualmente, é professor na Universidade de Brasília e dedica grande parte do seu trabalho ao atendimento clínico de pacientes com apneia do sono.

Além de Faber, o Congresso contará com palestras de André Weisheimer (Harvard), Eustáquio Araújo (Saint Louis University), Lincoln Issamu Nojima (presidente do Board Brasileiro de Ortodontia) e Flávia Artese (embaixadora do Brasil na Associação Americana de Ortodontia). O evento é organizado pela Associação Brasileira de Ortodontia – Seção Santa Catarina (ABOR-SC) e será realizado na Associação Catarinense de Medicina (ACM).

“A apneia do sono infantil é um tema que precisa de mais atenção, inclusive dos ortodontistas, que muitas vezes são os primeiros a identificar sinais como mordida aberta, mordida cruzada ou maxila atrésica, que impactam diretamente na respiração das crianças”, reforça Ingrid Ledra. 

As inscrições para o congresso estão abertas e a programação completa pode ser conferida no site: www.ortofloripa.com.br.

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