Vencedora do 1º Prêmio Mulheres e Ciência do CNPq defende participação feminina na ciência durante a maternidade: ‘Não pode ser punida por ser mãe’


Criada pela mãe e os avós em Itapetininga, no interior de SP, Mariangela Hungria é engenheira agrônoma pela ESALQ-USP, com mestrado e doutorado em ciência do solo, além de pós-doutorados nos EUA e na Espanha. Mariangela Hungria é engenheira agrônoma formada pela USP
Mariangela Hungria/Arquivo pessoal
Criada pela mãe e pelos avós em Itapetininga, no interior de SP, Mariangela Hungria se tornou uma das maiores referências do mundo em biotecnologia do solo.
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Engenheira agrônoma pela USP, com mestrado e doutorado em ciência do solo, além de pós-doutorados nos EUA e na Espanha, ela soma mais de 500 publicações científicas, já orientou mais de 200 alunos e coleciona prêmios, incluindo a Comenda da Ordem Nacional do Mérito Científico, o Prêmio Cláudia em Ciências e a inclusão na lista da Forbes como uma das mulheres mais influentes do agronegócio. Recentemente, foi uma das vencedoras do 1º Prêmio Mulheres e Ciência do CNPq.
Desde 1991, Mariangela atua como pesquisadora na Embrapa Soja e também leciona na UEL e UTFPR. Mas se recorda que encontrou ainda na infância, na avó, professora de ciências no Instituto Peixoto Gomide, sua maior inspiração: “Ela fazia experiências comigo no quintal, me ensinava com paixão. Esse exemplo foi determinante para a minha trajetória”.
Seu caminho também foi influenciado por Joana Döbereiner, cientista que a contratou e acreditou em seu potencial. De lá para cá, foram vários tipos de reconhecimento obtidos, sendo o mais recente o Prêmio do CNPq.
Lançada com o objetivo de valorizar e reconhecer a contribuição das mulheres para o avanço da ciência no Brasil, a premiação busca promover diversidade, pluralidade e equidade de gênero, além de incentivar a maior participação feminina nas carreiras de ciência, tecnologia e inovação.
Em sua primeira edição, o Prêmio Mulheres e Ciência recebeu 1.134 propostas: 697 na categoria Estímulo, 410 na categoria Trajetória e 27 na categoria Mérito Institucional.
Em Ciências Exatas, da Terra e Engenharias, Mariangela foi a vencedora pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).
Mariangela Hungria foi uma das vencedoras do 1º Prêmio Mulheres e Ciência do CNPq
Mariangela Hungria/Arquivo pessoal
Valorização das mulheres na ciência
Mariangela destaca a importância de políticas para incentivar a participação feminina na ciência, especialmente no período da maternidade, quando muitas mulheres são penalizadas pela queda na produtividade acadêmica.
“A mulher não pode ser punida por ser mãe. O início da maternidade é muito idealizado, mas, na prática, é um período desafiador. Se a pesquisadora perde uma bolsa ou um projeto porque teve um filho, isso é um soco no estômago. Precisamos criar mecanismos para que mães pesquisadoras não percam bolsas ou projetos.”
A cientista, que é mãe de duas mulheres, teve a primeira filha no início da sua formação. “Quando minhas alunas me dizem que estão grávidas, eu incentivo: vai dar tudo certo. Porque, se a gente pensar demais, não tem filhos”, ressalta.
Ela também enfatiza o impacto de reconhecer o trabalho das cientistas, que historicamente sempre foram menos lembradas.
“No início, ser mulher na ciência era um desafio ainda maior. Os homens eram os líderes, e nós tínhamos que provar o tempo todo que merecíamos estar ali. Se eu tivesse pensado muito, talvez não tivesse seguido esse caminho. Mas tive exemplos fortes de mulheres que me inspiraram, e hoje retribuo essa força às novas gerações.”
Desde o início da carreira, Mariangela apostou na biotecnologia agrícola, mesmo quando muitos desacreditavam no potencial dos bioinsumos. Hoje, suas tecnologias são aplicadas em milhões de hectares e beneficiam pequenos produtores.
O projeto mais recente, em parceria com uma cooperativa, visa tornar os bioinsumos acessíveis para agricultores familiares. “Essa luta de anos finalmente está dando frutos e pode servir de exemplo para outras cooperativas”, afirma.
Mariangela relembra que sua primeira premiação foi fundamental para custear uma viagem ao exterior com as filhas. Agora, ela deseja retribuir criando uma fundação para apoiar mulheres na ciência, no jornalismo e em projetos sociais.
“A vida me deu muito mais do que eu esperava, e quero dar esse retorno”, diz.
Mariangela relembra que sua primeira premiação foi fundamental para custear uma viagem ao exterior com as filhas
Mariangela Hungria/Arquivo pessoal
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