Paredão de brega, moda anos 2000 e cantinho do choro marcam primeiro dia da Virada Cultural 2025 no Centro de SP


Evento ocorre até este domingo em 21 palcos espalhados pelo Centro e pela periferia. Prefeitura e Secretaria da Segurança ainda não divulgaram balanço. À meia-noite, quando os termômetros marcaram 16 °C, a Gang do Eletro não deixou o público do palco da aparelhagem esfriar
João de Mari/g1
A cultura popular paraense esquentou a noite de sábado (24) e a madrugada deste domingo (25) na Virada Cultural 2005, no Centro de São Paulo.
O evento ocorre até este domingo em 21 palcos espalhados pelo Centro e pela periferia (veja a programação completa aqui).
Os paredões de som e luzes da Aparelhagem crocodilo iluminaram o Vale do Anhangabaú e trouxeram a influência do tecnobrega para uma cidade que não tem tanta familiaridade com o ritmo.
A estética dos anos 2000 esteve presente nas roupas do público jovem em quase todas as ruas da região central. Já quem quis escapar do frenesi assistiu, sentado, às apresentações de choro no Pátio do Colégio.
No Vale do Anhangabaú, em meio às bandeiras do Pará erguidas e casais dançando, algumas pessoas olhavam confusas às interrupções “abruptas” das músicas pelos DJ ‘s paraenses. No estilo, é comum as viradas mais rápidas e frequentes do que outros gêneros musicais.
Mas tinha quem já estava acostumada. A psicóloga Jéssica Rodrigues, natural de Belém, no Pará, vive em São Paulo há nove anos, mas sempre que está em sua terra natal vai às aparelhagens.
O reconhecimento da importância da música e do povo paraense é muito importante para nós.
Perto das 20h de sábado, o pagodeiro Belo se apresentou para milhares de pessoas. A aparelhagem entrou nos intervalos entre as atrações — inclusive quando um problema técnico paralisou o show do cantor por alguns minutos.
Virada Cultural de SP tem 24 horas de programação
À meia-noite, quando os termômetros marcaram 16 °C, a Gang do Eletro não deixou o público do palco da aparelhagem esfriar. Nesse momento, todo mundo parece já ter entendido — e, principalmente, gostado — como o ritmo do Pará funciona.
A psicóloga Jéssica Rodrigues, natural de Belém, no Pará, vive em São Paulo há nove anos, mas sempre que está em sua terra natal vai às aparelhagens
João de Mari/g1
O esquema de segurança concentrou a entrada principal ao local pela esquina da Praça Ramos de Azevedo. Já a saída era feita somente pela rua Formosa, por baixo do Viaduto do Chá. No Vale, tendas de hidratação davam água gratuitamente para o público durante a noite.
A reportagem registrou a condução de um homem para uma viatura. Segundo um PM, ele “estava alcoolizado” e teria “partido para cima” dos agentes. O detido ficou algemado no chão por cerca de 20 minutos e foi impedido pelos policiais de se levantar. A PM não disse para qual DP o levaria.
Procurada pelo g1, a Secretaria da Segurança Pública ainda não passou um balanço de ocorrências da primeira noite da Virada Cultural. A Prefeitura de SP também não divulgou o tamanho do público nem o número de atendimentos realizados.
Segundo um PM, ele “estava alcoolizado” e teria “partido para cima” dos agentes
João de Mari/g1
A moda das ruas
Aposta da Prefeitura de São Paulo para atrair os jovens, as festas de rua também animaram o público. Se a primeira Virada Cultural aconteceu em 2005, os jovens mostraram que a influência daquela época ainda segue viva.
A moda dos anos 2000, tendência na internet e chamada de estética Y2K (de Year 2000), esteve presente nos gostos musicais e nas roupas: calças de cintura baixa, tops curtos e minissaias, tênis robustos, bolsas baguete e estampas gráficas.
A Pista XV de Novembro, dedicada à cultura soundsystem e ao reggae, recebeu Fresh! Dancehall e o DJ jamaicano King Yellowan. Considerado um dos mais importantes da década de 1980 por revolucionar a estética e influenciar o hip hop, Yellowan trouxe um público que sequer era nascido nessa época.
Sentadas em um banco próximo ao palco, as empresárias Yaisa Barbosa e Jaqueline “Bratz de Quebrada”, em referência à boneca lançada no ano de 2001, vieram de Itapecerica da Serra e Itaquaquecetuba, na Grande São Paulo, para assisti-lo em ação.
Jaqueline “Bratz de Quebrada” (à esq.) e Yaisa Barbosa vieram de Itapecerica da Serra e Itaquaquecetuba, na Grande São Paulo, para assistir Yellowman em ação
João de Mari/g1
Viemos também para viver o Centro, porque pra gente, que é mulher, não é um lugar tão tranquilo, mas é daora de se curtir
No Centro, a atenção, segundo elas, tem que ser redobrada. “Tem que vir sempre em grupo, porque a questão da segurança não podemos contar com a PM ou GCM, ainda mais a gente ‘que é de quebrada’, tem essa aparência”, contou Jaqueline, que anda com um aparelho de choque na bolsa.
Os auxiliares de lojista Iago Amaral e Gomes Abrantes, e o controlador de acesso Gustavo Dias, comiam pastel comprado em uma das quatro barracas de comidas que haviam na rua, atrás do pequeno palco, que deixou as passagens laterais abarrotadas para pedestres.
Amaral usava correntes douradas em forma de crucifixo e piercings prateados na boca e no nariz. Ele contou que a escolha das peças é totalmente cultural.
Amaral (à esq.) usava correntes douradas em forma de crucifixo e piercings prateados na boca e no nariz
João de Mari/g1
A cultura está atrelada à moda justamente por conta do hip hop e reggae ser atrelado aos anos 2000. Esses estilos já estão aqui há muito tempo e acabam trazendo as referências para a atualidade. Hoje continuamos o que eles já faziam. Você já vê um cara com os ‘panos largos’ você já pensa ‘esse curte um rap, um reggae’.
O show do jamaicano, que estava previsto para iniciar às 23h, atrasou cerca de 1 hora.
Virada Cultural 2025 – A representante de desenvolvimento de vendas, Érica Caru, e seu amigo trancista Aiymah Alves na Pista XV de novembro
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Já na pista Largo do Café, a Novo Affair, festa que surgiu no final de 2023 com o intuito de celebrar o house music, tocou a partir das 18h. O público foi chegando lentamente, mas às 21h já era difícil acessar os ambulantes para comprar bebidas alcoólicas e água.
Quem quis escapar da agitação preferiu assistir às apresentações de choro no Pátio do Colégio. Por volta das 21h30, o chorinho reuniu um público mais velho que curtiu o show sentados em cadeiras enfileiradas.
Por volta das 21h30, o chorinho reuniu um público mais velho que curtiu ao show sentados em cadeiras enfileiradas
João de Mari/g1
Para vencer o frio, os médicos Lucas Carlini, Gisele Vieira e Gabriel Toro compraram vinho tinto no supermercado para esquentar a apresentação leve, que acontecia com contrabaixo, flauta e acordeon.
Questionados se iriam para o agito das ruas próximas, os amigos disseram que o sossego era planejado.
“Como as ruas estão muito bem iluminadas e sentimos muito mais segurança do que em anos anteriores, no máximo vamos dar um pulo na praça da Sé para ver o movimento, mas voltamos pra cá pra ver Toninho Ferragutti Quinteto às meia-noite.”
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