A Venezuela realizará novas eleições neste domingo (25), que pela primeira vez combinarão eleições regionais, parlamentares e do conselho legislativo.
A campanha eleitoral transcorreu em clima de normalidade: as pessoas, em meio ao trânsito e ao barulho habitual de buzinas, seguem suas rotinas diárias sem nenhum sinal do clima tenso que costuma tomar conta das cidades antes de uma votação.
Ao todo, serão eleitos um total de 569 cargos: 285 deputados à Assembleia Nacional (para o período de 2026 a 2031), 260 legisladores estaduais e 24 governadores.
A campanha começou em 29 de abril e durou até 22 de maio. Apenas algumas faixas com a imagem de um candidato foram vistas na capital, além de comícios pouco frequentados que ocasionalmente atrapalhavam a rotina diária de cidades como Caracas.
Enquanto isso, alguns cidadãos parecem desconhecer o chamado para votar, enquanto outros reagem com apatia.
Eleição prevê representantes para Essequibo
Nesse processo, os cidadãos votarão para eleger um governador em cada um dos 23 estados e, pela primeira vez, também no estado de Essequibo, território disputado com a Guiana perante a Corte Internacional de Justiça (CIJ).
Além disso, seis deputados serão eleitos para a Assembleia Nacional e sete para a assembleia legislativa regional como representantes de Essequibo.
A CIJ expressou sua oposição à votação em um território que não foi alocado por meio de seus mecanismos.
Para essas eleições, duas paróquias e um município do estado de Bolívar, no sul do país, estavam aptos a votar, com 21 mil eleitores formando o distrito eleitoral.
O vice-presidente do Conselho Nacional Eleitoral, Carlos Quintero, anunciou na segunda-feira (19) que 15.736 centros de votação e mais de 27 mil seções eleitorais serão montados para o pleito, enquanto 412 mil agentes de segurança serão mobilizados para garantir que o evento ocorra sem problemas.
Campanhas após a controversa eleição presidencial
O líder venezuelano, Nicolás Maduro, pediu à equipe oficial de campanha VEN25+ — parte da aliança de partidos conhecida como Grande Polo Patriótico — que ajuste a máquina eleitoral para garantir a vitória nas próximas eleições.
Mais uma vez, o partido no poder denuncia — sem apresentar provas — que a paz do processo está ameaçada e que 38 pessoas foram presas por suposto envolvimento nessas ações.
Após a denúncia, os voos para a Colômbia foram imediatamente suspensos e os apoiadores foram incentivados a votar no domingo “pela estabilidade do país”, sob o lema “Vote sim, vote não à violência”.
O evento acontece cerca de 10 meses depois de uma polêmica eleição presidencial, cujo resultado levou à reeleição de Nicolás Maduro após enfrentar o líder da oposição Edmundo González.
Oposição pede boicote: “Já votei no dia 28 de julho”
A veracidade dos números anunciados continua sendo questionada por atores e organizações políticas, tanto nacionais quanto internacionais, incluindo o Carter Center e o painel de especialistas das Nações Unidas, que acreditam que o anúncio não refletiu a vontade popular.
Esta é a principal razão expressa pela líder da oposição e fundadora do movimento político Vente Venezuela, María Corina Machado, não só para não se candidatar, mas também para pedir aos seus seguidores que não participem do processo, seja como candidatos ou como eleitores.
Sua mensagem pede desobediência sob o lema “Já votei no dia 28 de julho”, frase que tem aparecido em alguns grafites de cidades do país, em meio a relatos de perseguição e ameaças contra opositores como Machado e seus colaboradores mais próximos.
Essa situação levou a própria líder a permanecer escondida. Enquanto isso, ela é frequentemente acusada por altos funcionários do governo, sem provas, de estar ligada a ações conspiratórias.
Outro setor da oposição, liderado pelo duas vezes candidato à presidência Henrique Capriles, agora aspirante ao Congresso, está em uma sintonia diferente. Capriles, juntamente com os ex-parlamentares Tomás Guanipa e Stalin González, entraram na corrida legislativa, argumentando que a participação é importante para defender o direito ao voto.
Por sua vez, Juan Requesens, ex-deputado, concorreu a dois cargos: governador do estado de Miranda e deputado.
Requesens ficou detido por mais de dois anos na sede do Serviço Bolivariano de Inteligência (SEBIN) em El Helicoide e, posteriormente, mantido em prisão domiciliar, acusado de participar de uma tentativa de assassinato contra Maduro, sem que nenhuma prova fosse apresentada.
Ele se declarou inocente das acusações e foi libertado como medida humanitária, sem maiores detalhes divulgados.
Capriles disse à imprensa esta semana, enquanto a campanha estava chegando ao fim, que durante suas viagens ele viu que algumas pessoas ainda não sabiam que haveria eleições, e acusou o governo de tentar fazer uma votação clandestina ao não fornecer informações adequadas.
A CNN contatou o Conselho Eleitoral Nacional, mas não recebeu resposta até a publicação desta reportagem.
Pesquisas de opinião demonstram pouco interesse da população
O diretor do VotOScopio, Eugenio Martínez, disse à CNN que várias pesquisas de opinião pública mostram pouca conscientização sobre a eleição, o que de certa forma afeta a disposição de votar.
O jornalista, também especializado em fontes eleitorais, observa que a disposição da votação não difere muito daquela registrada em eleições anteriores, nas quais a oposição se dividiu, com um setor pedindo abstenção.
Algumas pessoas pensam que, embora a tendência seja de participação muito menor, o impacto é muito sério.
Esta é a opinião de Benigno Alarcón, diretor do Centro de Estudos Políticos e Governamentais da Universidade Católica Andrés Bello, que afirma que a confiança nos processos eleitorais se perdeu devido “ao que aconteceu no ano passado com a eleição presidencial”.
Alarcón estima que a participação não ultrapassará 20% e que, neste caso, tentam construir uma participação da oposição para apoiar o processo eleitoral, o que, segundo ele, é algo “típico das autocracias eleitorais”.