A Dra. Alaa al-Najjar deixou seus dez filhos em casa na sexta-feira (23) quando foi trabalhar na emergência do Complexo Médico Nasser, no sul da Faixa de Gaza.
Horas depois, os corpos de sete crianças — a maioria gravemente queimada — chegaram ao hospital, segundo o Ministério da Saúde de Gaza. Eram os próprios filhos da Dra. Najjar, mortos em um ataque aéreo israelense contra a casa da família, informou a Defesa Civil de Gaza.
A mais velha tinha 12 anos, a mais nova apenas três. Os corpos de mais duas crianças — um bebê de sete meses e uma criança de dois anos — continuavam presos sob os escombros até a manhã de sábado (24).
Apenas um de seus filhos — gravemente ferido — sobreviveu. O marido da Dra. Najjar, que também é médico, ficou gravemente ferido no ataque.
A Defesa Civil e o Ministério da Saúde disseram que a casa da família, localizada em um bairro de Khan Younis, no sul de Gaza, foi alvo de um ataque aéreo israelense.
Em resposta a um pedido de comentário da CNN, o exército israelense afirmou que aeronaves “atingiram vários suspeitos que foram identificados operando a partir de uma estrutura próxima às tropas das FDI na área de Khan Younis.” Disse também que estava revisando a alegação de que civis haviam sido mortos.
A Defesa Civil de Gaza divulgou um vídeo gráfico do local do ataque.
As imagens mostravam socorristas colocando um homem ferido em uma maca enquanto outros tentavam apagar o incêndio que consumia a casa. Eles recuperaram os restos carbonizados de várias crianças dos escombros e os envolveram em lençóis brancos.
“Aniquilando famílias inteiras“
Munir al-Barsh, Diretor-Geral do Ministério da Saúde de Gaza, disse que o marido da Dra. Najjar havia acabado de voltar para casa quando a residência foi atingida.
“Nove dos filhos deles foram mortos: Yahya, Rakan, Raslan, Gebran, Eve, Rival, Sayden, Luqman e Sidra”, publicou Barsh no X (antigo Twitter). Ele disse que o marido da Dra. Najjar estava na unidade de terapia intensiva.
“Esta é a realidade que nossa equipe médica em Gaza enfrenta. As palavras são insuficientes para descrever a dor. Em Gaza, não são apenas os trabalhadores da saúde que são alvos — a agressão de Israel vai mais longe, aniquilando famílias inteiras”, afirmou Barsh.
Ahmad al-Farra, um médico do Complexo Médico Nasser, disse à CNN que a Dra. Najjar continuou trabalhando, apesar de ter perdido seus filhos, enquanto verificava periodicamente o estado de saúde de seu marido e do único filho sobrevivente, Adam, que tem 11 anos.
Tanto o pai quanto o filho passaram por duas cirurgias no hospital e ainda estão recebendo tratamento, disse Farra.
Youssef Abu al-Reesh, um alto funcionário do Ministério da Saúde, afirmou que a Dra. Najjar havia deixado seus filhos em casa para “cumprir seu dever e sua vocação em relação a todas aquelas crianças doentes que não têm outro lugar senão o Hospital Nasser.”
Reesh contou que, quando chegou ao hospital, a viu “de pé, calma, paciente, serena, com os olhos cheios de aceitação. Não se ouvia nada dela, a não ser murmúrios suaves de (glorificação de Deus) e (busca de perdão).”
A Dra. Najjar, de 38 anos, é pediatra, mas como a maioria dos médicos em Gaza, ela tem trabalhado na sala de emergência durante o ataque de Israel ao território.