Delegações do Irã e dos Estados Unidos retomaram na sexta-feira (23) as negociações para resolver uma disputa de décadas sobre o programa nuclear de Teerã. As conversas acontecem em Roma, na Itália.
Há muito em jogo para ambos os lados. O presidente americano Donald Trump quer restringir o potencial de Teerã de produzir uma arma nuclear que poderia desencadear uma corrida armamentista nuclear regional e talvez ameaçar Israel. A República Islâmica, por sua vez, quer o fim das sanções à sua economia baseada no petróleo.
O ministro das Relações Exteriores iraniano, Abbas Araqchi, e o enviado de Trump para o Oriente Médio, Steve Witkoff, lideram uma quinta rodada de negociações, por meio de mediadores omanenses.
“Esta rodada de negociações é especialmente delicada… precisamos ver quais questões serão levantadas pela outra parte… e com base nisso, prosseguiremos com nossas posições”, disse o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores iraniano, Esmaeil Baghaei, à TV estatal em Roma.
Tanto Washington quanto Teerã assumiram uma posição dura em público sobre o programa de intensificação de enriquecimento de urânio do Irã, que poderia potencialmente dar ao país espaço para construir uma ogiva nuclear. Apesar disso, Teerã diz que não tem tais ambições e que os propósitos são puramente civis.
O Irã insiste que as negociações são indiretas, mas autoridades americanas disseram que as discussões — incluindo a última rodada em 11 de maio em Omã — foram “diretas e indiretas”.
Antes das negociações, Araqchi escreveu na rede social X: “…Zero armas nucleares = temos um acordo. Zero enriquecimento = NÃO temos um acordo. Hora de decidir.”
A secretária de imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt, disse a repórteres na quinta-feira (22) que Trump acredita que as negociações com o Irã estão “indo na direção certa”.
O secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, disse na terça-feira (20) que Washington estava trabalhando para chegar a um acordo que permitiria ao Irã ter um programa de energia nuclear civil, mas não enriquecer urânio, embora admitisse que isso “não será fácil”.
O líder supremo iraniano, aiatolá Ali Khamenei, que tem a última palavra em questões de Estado, rejeitou as exigências para interromper o refino de urânio, considerando-as “excessivas e ultrajantes”, alertando que tais negociações provavelmente não produziriam resultados.
Entre os obstáculos restantes está a recusa de Teerã em enviar para o exterior todo o seu estoque de urânio altamente enriquecido – possível matéria-prima para bombas nucleares – ou em se envolver em discussões sobre seu programa de mísseis balísticos, que poderia transportar ogivas por longas distâncias.
O Irã diz que está pronto para aceitar alguns limites ao enriquecimento, mas precisa de garantias inequívocas de que Washington não renegará um futuro acordo nuclear.
Tensões entre países
Em seu primeiro mandato, em 2018, Trump abandonou um pacto nuclear de 2015 entre as principais potências e o Irã. Desde que retornou ao poder este ano, ele restaurou uma campanha de “pressão máxima” sobre Teerã e reimpôs sanções abrangentes dos EUA que continuam a prejudicar a economia iraniana.
O Irã respondeu aumentando o enriquecimento muito além dos limites do pacto de 2015.
Wendy Sherman, ex-subsecretária dos EUA que liderou a equipe de negociação dos EUA que chegou ao acordo de 2015, observou que Teerã apresenta o enriquecimento como uma questão de soberania.
“Não acho que seja possível fechar um acordo com o Irã em que eles literalmente desmantelem seu programa, desistam de seu enriquecimento, mesmo que isso fosse o ideal”, disse ela à Reuters.
O custo do fracasso das negociações pode ser alto. Israel, arqui-inimigo do Irã, vê o programa nuclear iraniano como uma ameaça existencial e afirma que jamais permitiria que o establishment clerical obtivesse armas nucleares.
O ministro de assuntos estratégicos de Israel e o chefe do serviço de inteligência estrangeira Mossad também estarão em Roma para conversas com os negociadores dos EUA, disse uma fonte a par do assunto à Reuters.
Araqchi disse na quinta-feira (22) que Washington teria responsabilidade legal se Israel atacasse instalações nucleares iranianas, após uma reportagem da CNN de que Israel poderia estar preparando ataques.
Três fontes iranianas disseram na terça-feira (20) que a liderança clerical não tem um plano de recuperação claro caso os esforços para superar o impasse fracassem.
Este conteúdo foi originalmente publicado em EUA e Irã retomam negociações para acordo nuclear no site CNN Brasil.