Lobo-terrível: cientista admite ser impossível recriar espécie extinta

A pesquisadora Beth Shapiro, cientista-chefe da Colossal Biosciences — startup que alegou ter recriado uma espécie de lobos pré-históricos — disse que a empresa nunca afirmou ter trazido a espécie de volta da extinção e que tal feito é impossível.

Em entrevista à New Science nesta quinta-feira (22), ela defendeu que “Nós nunca escondemos que era isso. As pessoas ficaram bravas porque nós os chamávamos de lobos terríveis [….] Mas a questão é que dissemos desde o começo que são lobos cinzentos com 20 edições“.

Shapiro disse que a empresa apenas usou o nome da espécie extinta para simplificar o entendimento do público e que sempre deixaram claro que essa não era uma “recriação” dos lobos-terríveis.

“Não é possível trazer de volta algo idêntico a uma espécie que já existiu. […] É transformador e uma ciência inovadora — só não é desextinção”, disse a cientista-chefe da Colossal Biosciences.

Em entrevista à New Science, Richard Grenyer, pesquisador da Universidade de Oxford, comentou que a afirmação de Shapiro vai contra o que a empresa anunciou sobre a restauração dos animais extintos.

“Acredito que há uma séria inconsistência entre o conteúdo da declaração e as ações e o material publicitário — incluindo o conteúdo padrão do site, não apenas o briefing  de imprensa sobre o lobo terrível — da empresa”, disse.

Relembre o caso

A startup Colossal Biosciences anunciou em abril que conseguiu recriar a espécie de lobos pré-históricos a partir de um DNA antigo. Eles estão extintos há 12 mil anos, mas a empresa afirmou que três exemplares nasceram em outubro e estão sendo mantidos em uma reserva natural de localização desconhecida.

O código genético foi obtido a partir de fragmentos de lobos-terríveis recuperados dos poços de La Brea, um sítio de piche — áreas onde uma forma espessa de petróleo bruto aflora à superfície da Terra — em Los Angeles, nos Estados Unidos.

A Colossal Biosciences teria, então, conseguido recuperar o material 500 vezes mais do que qualquer equipe de pesquisadores anterior a partir de um dente com 13 mil anos e de um crânio com 72 mil anos, e criado os três filhotes.

O DNA que, de fato, pertenceu aos lobos-terríveis da pré-história não foi inserido no genoma do lobo cinzento, ele foi usado como modelo a ser replicado.

Cientistas discordaram do retorno da extinção

Quando a Colossal Biosciences usou o termo “des-extinguir” para se referir ao processo e ao nascimento dos três filhotes de pelo branco, alguns cientistas discordam que estejamos presenciando o “renascimento” de uma espécie.

O paleoecologista da Universidade de Otago, Nic Rawlence, se manifestou sobre o anúncio em suas redes sociais: “Este não é um lobo terrível. É um lobo cinzento com características de lobo terrível, um ‘híbrido’.”

Em entrevista à BBC, ele explicou: “DNA antigo é como se você colocasse DNA fresco em um forno de 500 graus durante a noite. Ele sai fragmentado — como cacos e poeira. Você pode reconstruí-lo, mas não é bom o suficiente para fazer alguma coisa com ele.”

A paleoecologista Jacquelyn Gill, da Universidade de Maine, também defendeu que não é possível dizer que a espécie voltou da extinção, em entrevista à Scientific American.

“Este é um lobo cinzento geneticamente modificado”, disse ela. “Tenho mais de 14 genes neandertais em mim, e não me chamaríamos de neandertal.”

O que é a Colossal Biosciences

Uma startup de biotecnologia tem sede em Dallas, nos Estados Unidos, e busca “redefinir a extinção e estabelecer padrões para a ciência por trás dela”, segundo o site oficial. 

De acordo com a página da empresa, ela promove uma aplicação funcional de tecnologia avançada de edição genética destinada a reconstruir o DNA da megafauna perdida e de outras criaturas que tiveram um impacto mensuravelmente positivo nos ecossistemas.

Fundado pelo empresário Ben Lamm e pelo geneticista da Universidade de Harvard George Church em 2021, a Colossal conta com um aporte de US$ 435 milhões (cerca de R$ 2,6 bilhões).

O conselho da empresa conta com diversos estudiosos da área, além de celebridades como Chris Hemsworth, George R. R. Martin, Joe Manganiello, Steve Aoki e Tom Brady.

Além dos lobos, a intenção da startup norte-americana é reverter a extinção dos mamutes-lanosos, dos tilacinos (conhecidos como tigres-da-Tasmânia) e dos dodôs. Para realizar esse feito, os cientistas usam DNA antigo, clonagem e tecnologia de edição genética para alterar os genes de animais que ainda habitam, nosso planeta.

Espécie de lobo extinta há 12 mil anos é “recriada”; entenda

*Com informações de Flávio Ismerim, Marina Toledo e Fernanda Pinotti, da CNN, e Katie Hunt, da CNN Internacional

Este conteúdo foi originalmente publicado em Lobo-terrível: cientista admite ser impossível recriar espécie extinta no site CNN Brasil.

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