Guerra em Gaza: Israel espera que Hamas se renda para encerrar conflito

Israel desencadeou uma extensa operação terrestre em Gaza no último domingo (18), além de uma intensa campanha aérea que, segundo autoridades de saúde do local, matou mais de 100 pessoas durante a noite e fechou o último hospital em funcionamento no norte do território.

Essa operação terrestre do exército israelense em Gaza acontece ao mesmo tempo em que mediadores internacionais pressionam por progresso nas negociações de cessar-fogo.

O Hamas e Israel iniciaram negociações indiretas na capital do Catar, Doha, no sábado (17), com o alto funcionário do grupo militante, Taher Al-Nunu, confirmando que “negociações sem pré-condições” haviam começado, de acordo com a emissora de TV Al Aqsa, administrada pelo Hamas.

Embora exista certo otimismo em torno das negociações, um avanço parece incerto. Israel indicou no domingo (18) uma abertura para encerrar a guerra em Gaza caso o Hamas se renda, uma proposta que o grupo militante dificilmente irá aceitar.

O Hamas afirmou que irá libertar todos os reféns israelenses se houver garantias de que Israel vai encerrar a guerra.

“Se o Hamas quiser negociar o fim da guerra por meio da rendição do Hamas, estaremos prontos”, respondeu uma fonte israelense.

Negociações entre o Hamas e Israel

Ainda no domingo (18), um líder sênior do Hamas disse à CNN que o grupo havia concordado em libertar entre sete a nove reféns israelenses em troca de um cessar-fogo de 60 dias e a libertação de 300 prisioneiros e detidos palestinos.

Horas depois, outro líder sênior do grupo, Sami Abu Zuhri, negou e contradisse a proposta, publicando uma declaração no Telegram do canal de TV Al-Aqsa:

“Não há verdade nos rumores sobre o acordo do movimento para libertar nove prisioneiros israelenses em troca de um cessar-fogo de dois meses”, escreveu o sênior do grupo.

“Estamos prontos para libertar todos os prisioneiros de uma só vez, desde que a ocupação se comprometa com o cancelamento das hostilidades sob garantias internacionais, e não entregaremos os prisioneiros da ocupação enquanto ela insistir em continuar sua agressão contra Gaza indefinidamente”, completou Zuhri na mensagem.

O exército israelense afirmou que uma nova campanha militar, chamada “Carruagens de Gideão”, referência a um guerreiro bíblico e anunciada na noite de sexta-feira (16), trouxe o Hamas de volta à mesa de negociações.

E devido à “necessidade operacional”, o Gabinete do Primeiro-Ministro de Israel afirmou no domingo (18) que o país permitirá a entrada de uma “quantidade básica de alimentos” na Faixa de Gaza, para evitar uma crise de fome no território, que, segundo Israel, colocaria em risco a operação.

A campanha foi lançada “para atingir todos os objetivos da guerra em Gaza, incluindo a libertação dos reféns e a derrota do Hamas”, afirmaram as Forças de Defesa de Israel (IDF) em um comunicado.

“Durante a operação, aumentaremos e expandiremos nosso controle operacional na Faixa de Gaza, incluindo a segmentação do território e a transferência da população para sua proteção em todas as áreas em que operamos”, disse a porta-voz das IDF (Forças de Defesa de Israel), Effie Defrin, no domingo (18).

Mas analistas e autoridades afirmam que é mais provável que o Hamas tenha concordado em retomar as negociações após a visita do presidente dos EUA, Donald Trump, ao Oriente Médio.

“Após as discussões entre o Catar e os EUA durante a visita do presidente Trump a Doha, há uma nova pressão por parte de mediadores dos Estados Unidos, Catar e Egito para verificar se um novo acordo de cessar-fogo pode ser alcançado”, disse à CNN uma autoridade com conhecimento das negociações.

Estados Unidos como mediador de um cessar-fogo

Na semana passada, Netanyahu orientou a equipe de negociação israelense a se dirigir ao Catar para conversas, mas deixou claro que está comprometido apenas em negociar uma proposta apresentada pelo enviado dos EUA para o Oriente Médio, Steve Witkoff.

Essa proposta pede a libertação de metade dos reféns em troca de um cessar-fogo temporário, porém isso não garante o fim da guerra.

Trump esteve em Doha na última quarta-feira (14) como parte de uma viagem ao Oriente Médio que ignorou Israel. O líder americano disse este mês que queria o fim da “guerra brutal” em Gaza.

O presidente dos EUA também contornou Israel duas vezes neste mês para fechar acordos bilaterais com grupos militantes regionais.

O Hamas libertou um refém israelense-americano na semana passada, e os Houthis concordaram em parar de atirar em navios americanos no Mar Vermelho, prometendo continuar lutando contra Israel.

Trump, no entanto, negou que Israel tenha sido marginalizado. “Isso é bom para Israel”, disse ele. Mas, na quinta-feira (15), ele disse que queria que os EUA “tomassem” Gaza e a transformassem em uma “zona de liberdade”.

“Tenho ideias para Gaza que considero muito boas: torná-la uma zona de liberdade, deixar os Estados Unidos se envolverem e torná-la apenas uma zona de liberdade”, disse Trump durante a visita ao Catar.


Trump junto do emir (líder) do Catar, Tamim bin Hamad al Thani, durante sua visita ao Oriente Médio na última semana. • Win McNamee/Getty Images via CNN Newsource

Enquanto estava no Golfo, Trump também reconheceu que as pessoas estão morrendo de fome em Gaza e disse que os EUA “resolveriam” a situação no território.

Famílias mortas e ataques a hospitais

Enquanto isso, a ONU e importantes organizações humanitárias estão alertando sobre a nova ofensiva israelense em Gaza, afirmando que os civis estão sofrendo o impacto do ataque.

Mais de 300 pessoas foram mortas e mais de 1.000 ficaram feridas depois de Israel intensificar os ataques aéreos desde quinta-feira (15), de acordo com uma contagem da CNN com dados desta semana disponibilizados pelo Ministério da Saúde palestino.

De acordo com o departamento, famílias inteiras foram mortas enquanto dormiam juntas.

Na área de Al-Mawasi, no sul de Gaza, uma criança, os dois irmãos mais novos e os pais, que viviam em um campo de deslocados, foram mortos no sábado (17), disse o Dr. Munir al-Barsh, diretor do Ministério da Saúde palestino, à CNN.

Com a continuação dos bombardeios e o aumento do número de mortos, o sistema de saúde de Gaza está sendo levado ao limite.

Na última semana, o exército israelense realizou ataques perto de vários hospitais no território, incluindo o Hospital Indonésio em Beit Lahiya, o último centro médico em funcionamento no norte de Gaza, deixando-o fora de serviço.

O Dr. Marwan Al-Sultan, diretor do hospital, disse na sexta-feira (16) que houveram “explosões extremamente intensas” ao redor do hospital, que cortaram as conexões com os ventiladores que alguns dos pacientes precisam para se manterem vivos.

A CNN entrou em contato com o exército israelense para obter comentários sobre o ataque, já que as Forças de Defesa de Israel (IDF) já haviam acusado o Hamas de se esconder em instalações médicas.

No domingo (18), Al-Sultan disse à organização de caridade britânica de Assistência Médica para Palestinos (MAP) que o hospital está “completamente sitiado”, que ninguém consegue chegar até ele e que sua unidade de terapia intensiva também está sendo atingida.

“Estamos profundamente desamparados”, disse ele, acrescentando que a situação é “além do alarmante”.

O hospital Al-Awda, no norte de Gaza, passou por uma “noite angustiante” com bombardeios nas proximidades do hospital, disse o diretor da unidade, Dr. Mohammed Salha, à MAP no domingo (18).

Salha afirmou que os sistemas médicos do hospital, como oxigênio para ventiladores, eletricidade e abastecimento de água, foram severamente danificados.

Drones sobrevoando a área dificultaram a movimentação das equipes médicas dentro e fora do hospital, e a escassez de suprimentos médicos e combustível estava dificultando a continuidade da prestação de cuidados essenciais pelo local.

No domingo (18), o Ministério da Saúde palestino afirmou que “todos os hospitais públicos no norte da Faixa de Gaza estão fora de serviço”.

Risco de fome em Gaza

Antes de Israel anunciar no domingo (18) que permitirá a entrada de uma “quantidade básica de alimentos” na Faixa de Gaza, a ONU alertou que toda a população do território, de mais de 2 milhões de pessoas, corre o risco de fome após 19 meses de conflito e deslocamento em massa.

A situação se agravou principalmente depois do bloqueio israelense à ajuda humanitária por 11 semanas.

Uma organização apoiada pelos EUA, a Fundação Humanitária de Gaza (GHF), encarregada de fornecer ajuda, comemorou o anúncio israelense sobre a permissão de entrada de ajuda alimentar em Gaza como um “mecanismo de transição” até que o grupo esteja totalmente operacional.

A organização sem fins lucrativos foi criada a pedido do governo americano para ajudar a aliviar a fome em Gaza, ao mesmo tempo em que atende às exigências israelenses de que a ajuda não chegue ao Hamas.

Em um comunicado, o diretor executivo do grupo, Jake Wood, afirmou: “O anúncio de hoje marca um importante passo intermediário. Esperamos que o novo mecanismo de ajuda da GHF, incluindo o estabelecimento de quatro Locais de Distribuição Segura, esteja em funcionamento antes do final do mês.”

A nova organização tem sido criticada por altos funcionários humanitários, que alertam que ela é insuficiente, pode colocar civis em perigo e até mesmo incentivar seu deslocamento forçado.

A localização dos pontos iniciais apenas no sul e no centro de Gaza pode ser vista como um incentivo ao objetivo publicamente declarado de Israel de expulsar a população do norte de Gaza, alertou a ONU.

Mas a fundação afirma ter pedido a Israel que ajude a estabelecer pontos de distribuição no norte. A ONU também avisou que o envolvimento do exército israelense na segurança dos locais pode desencorajar os destinatários da ajuda.

O Ministro da Segurança Nacional de Israel, Itamar Ben-Gvir, classificou a decisão do Gabinete do Primeiro-Ministro sobre a ajuda humanitária como um “erro grave”, afirmando que qualquer ajuda que entrasse em Gaza “certamente alimentaria o Hamas”.

O número de pessoas mortas pela ofensiva israelense em Gaza após os ataques de 7 de outubro de 2023 já ultrapassa 53.000, sendo a maioria mulheres e crianças, informou o Ministério da Saúde na quinta-feira (15).

Apesar da retomada das negociações no Catar, Omar Qandil, cujo irmão, cunhada e sobrinha de 4 meses foram mortos em um ataque aéreo noturno no centro de Gaza, disse sentir que o mundo fez vista grossa ao sofrimento deles.

“A política atual é matar os vivos e apagar os mortos. Cada bombardeio, cada atraso, cada indecisão aumenta o perigo”, disse Qandil.

Os reféns vivos enfrentam perigo mortal imediato, e corremos o risco de perder os mortos para sempre”, disse Hagai Levine, chefe da equipe de saúde do fórum, que, segundo o grupo, foi coautor de um relatório sobre os perigos que a mais recente operação israelense representa para os reféns.

Este conteúdo foi originalmente publicado em Guerra em Gaza: Israel espera que Hamas se renda para encerrar conflito no site CNN Brasil.

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