A Universidade de Nova York (NYU na sigla em inglês) informou que reteve o diploma de um estudante que condenou o genocídio em Gaza, durante um discurso de formatura na quarta-feira (14) — uma ação que a instituição classificou como violação do compromisso do aluno em cumprir as regras da universidade.
Logan Rozos disse aos membros de sua turma que “ao buscar em meu coração hoje para me dirigir a todos vocês… a única coisa apropriada a dizer neste momento e para um grupo tão grande é um reconhecimento das atrocidades que acontecem atualmente na Palestina”.
A NYU “condenou veementemente” “a escolha feita por um estudante na formatura da Escola Gallatin”, disse o porta-voz da universidade, John Beckman, em comunicado após a cerimônia de quarta-feira.
A temporada de formaturas nos campi dos Estados Unidos ocorre em meio à repressão contínua da administração Trump contra estudantes que participam de manifestações pró-palestinas.
No início deste ano, a NYU estava entre as instituições citadas pelo Departamento de Justiça como tendo “experimentado incidentes de antissemitismo”.
Em seu discurso, Rozos referiu-se repetidamente às ações de Israel em Gaza como “genocídio”, que ele afirmou ser “política e militarmente” apoiado pelos EUA e “pago com nossos impostos”.
Segundo ele, suas observações pretendiam “falar por todas as pessoas de consciência, todas as pessoas que sentem o dano moral desta atrocidade”.
Aplausos irromperam da multidão quando o graduando mencionou Gaza pela primeira vez, e alguns professores da universidade, sentados atrás dele, aplaudiram brevemente.
Algumas vaias também podiam ser ouvidas na multidão.
Sem nomear Rozos, Beckman declarou que o orador “mentiu sobre o discurso que iria fazer e violou o compromisso que assumiu de cumprir nossas regras”.
“A universidade está retendo seu diploma enquanto buscamos ações disciplinares”, continuou o porta-voz, acrescentando que a escola está “profundamente arrependida que o público tenha sido submetido a essas observações e que este momento tenha sido roubado por alguém que abusou de um privilégio que lhe foi conferido”.
A CNN tentou contato com Rozos e a NYU para mais detalhes.
A biografia estudantil dele não estava mais no site da Gallatin na noite de quinta-feira (15).
Formação em Crítica Cultural e Economia Política
O aluno se formou em Crítica Cultural e Economia Política e foi membro da Trupe de Teatro Gallatin, segundo uma versão arquivada do site da Gallatin. Ele foi selecionado pelos colegas para fazer o discurso de formatura do programa, informou a Associated Press.
A cerimônia de formatura para toda a NYU foi realizada na quinta-feira (8).
Um grupo pró-Israel diz que forneceu aos EUA uma lista de manifestantes para deportar, alarmando apoiadores dos estudantes.
A Liga Anti-Difamação condenou o que descreveu como “comentários divisivos e falsos sobre a atual guerra Israel/Hamas” e agradeceu à NYU “por sua forte condenação e busca de ação disciplinar”, segundo comunicado na rede social X.
We are appalled to hear that during @NYuniversity graduation a student speaker altered their approved speech to make divisive and false comments about the current Israel/Hamas war. We are thankful to the NYU administration for their strong condemnation and their pursuit of…
— ADL New York / New Jersey (@ADL_NYNJ) May 15, 2025
Ao mesmo tempo, o Conselho de Relações Islâmico-Americanas defendeu o “discurso de formatura pró-palestino e anti-genocídio” e pediu à NYU que liberasse o diploma do orador.
O Conselho descreveu as ações disciplinares em curso contra aqueles que participam de protestos pró-palestinos como uma “traição às liberdades americanas e ao povo americano”, conforme comunicado no X.
(1/3) The New York chapter of the Council on American-Islamic Relations (CAIR-NY) today strongly called on New York University (NYU) to release a diploma withheld from a student over his pro-Palestinian, anti-genocide commencement address.https://t.co/aT9arM4JBj
— CAIR New York (@CAIRNewYork) May 15, 2025
No ano passado, estudantes e professores foram presos na NYU durante protestos realizados em universidades em todo o país.
A instituição abriu mais de 180 processos disciplinares contra estudantes e professores ligados a manifestações sobre a guerra em Gaza após os protestos do ano passado, segundo uma investigação do jornal estudantil Washington Square News.
Israel iniciou sua guerra em Gaza após o ataque do Hamas em outubro de 2023, no qual militantes mataram 1.200 pessoas e fizeram 251 reféns.
Segundo números fornecidos pelo Ministério da Saúde em Gaza, a subsequente campanha militar israelense matou mais de 53 mil palestinos.
O ministério não diferencia civis e militantes.
Em janeiro, o exército israelense disse haver matado 20mil membros do Hamas desde 7 de outubro.
Este conteúdo foi originalmente publicado em Universidade de Nova York retém diploma de estudante após fala sobre Gaza no site CNN Brasil.