
O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), fez duras críticas ao deputado federal Guilherme Boulos (PSOL/SP), em entrevista concedida nesta quarta-feira (14) à CNN Brasil, ao comentar sobre a dispersão do fluxo de usuários de drogas da Cracolândia e sobre a desocupação da Favela do Moinho, ambas localizadas na região central de São Paulo.
Nunes, que aponta como um dos fatores para o esvaziamento da Cracolândia a ação policial de combate ao tráfico na Favela do Moinho, alega que Boulos teria influenciado politicamente na decisão do governo federal de paralisar o processo de cessão, ao estado de SP, da área onde está localizada a comunidade e, consequentemente, interromper o processo de desocupação.
Desde o dia 22 de abril, o governo de São Paulo, junto com a prefeitura, iniciou uma operação de remoção das famílias da comunidade, o que causou protestos dos moradores contrários à desocupação.
A justificativa do poder público é que se trata de uma área insalubre, com alto risco de incêndios e alagamentos, entre linhas de trem. O espaço é murado e tem apenas uma entrada, sendo, de acordo com relatórios do Ministério Público de São Paulo, um ponto de comando para atividades ilícitas, incluindo o tráfico de drogas, armazenamento de armas e realização de “tribunais do crime”.
Impasse com o governo federal
Mas a ação de desocupação com uso de forças policiais acabou provocando a interferência do governo federal que, na noite desta terça, comunicou a paralisação do processo de cessão da área.
Os moradores relataram truculência da polícia. Na terça, uma criança desmaiou, segundo eles, por causa da inalação de gás lançado pelos policiais durante a ação.

O terreno da Favela do Moinho pertence à União e o governo do estado entrou com um pedido de cessão para instalar ali um parque. O processo estava em andamento, segundo o governo federal.
Para o prefeito Nunes, a interrupção da ação trabalha a favor dos traficantes.
“Quem acompanha as ações que estão sendo realizadas na favela do Moinho sabe que lá foi preso o Léo do Moinho, grande traficante da Cracolândia”, aponta ele.
Influência no SPU
E o prefeito prossegue defendendo a retirada das famílias do Moinho. “Então é importante a gente tirar as pessoas daquela situação e acabar com o tráfico de drogas. Mas, vem agora o governo federal, por uma ação do deputado federal Guilherme Boulos, associado à irmã do traficante Léo do Moinho, querer impedir essa ação importante para poder dar condição indigna para as pessoas lá”, acusou o prefeito de São Paulo.
E Nunes continuou com a denúncia.
“Quem tem ali o domínio sobre aquele terreno onde tá a favela do Moinho é a SPU [Secretaria do Patrimônio da União], do governo federal. Quem cuida desse setor é um indicado de Guilherme Boulos. Foi Guilherme Boulos que indicou toda a equipe superintendente da SPU. Eles estão usando politicamente a SPU contra a cidade de São Paulo, contra as pessoas de bem, querendo impedir um trabalho importante”, acrescentou.

Negociaço de meses
O prefeito defendeu que a desocupação foi resultado de uma negociação que durou meses envolvendo a Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo (CDHU) e as famílias que ali residem.
“Mas tenho um recado pra vocês; nós não temos medo não. Vamos enfrentar isso, o Tarcísio [de Freitas, governador de São Paulo/Republicanos] e eu vamos proteger aquelas famílias que estão vivendo ali sob a coação do tráfico de drogas. (…) É uma irresponsabilidade que o SPU está fazendo, utilizando politicamente esse indicado do seu Guilherme Boulos, que sempre esteve ao lado desse tipo de gente”, afirmou o prefeito.
Muro da Cracolândia
Antes disso, na mesma entrevista, Ricardo Nunes já havia criticado o partido de Boulos por ter representado judicialmente contra um muro de alvenaria que a prefeitura levantou em janeiro, na Cracolândia, separando a área dos usuários de drogas e a Rua General Couto Magalhães.

“O Psol fez uma representação no STF [Supremo Tribunal Federal], a mais alta Corte do País, para contestar o muro, que estava lá há mais de um ano e não tinha nada de isolamento. Era um muro de segurança para proteger as pessoas, sob efeitos de drogas, que poderiam ser atropeladas. Como tem gente que é do contra, que não quer que as coisas não se resolvam. Tomou tempo do ministro do STF e da minha equipe com isso”, criticou.
A reportagem fez vários contatos com a assessoria de Guilherme Boulos solicitando um posicionamento do deputado a respeito das declarações de Ricardo Nunes, mas, até o momento, não obteve resposta. Assim que houver retorno, a matéria será atualizada.