
A Rua dos Protestantes, tradicional ponto de concentração da Cracolândia no centro de São Paulo, amanheceu vazia na última terça-feira (13). Pouco antes disso, o governador do estado, Tarcísio de Freitas (Republicanos), disse que o local estava “com os dias contados”.
“A Cracolândia vai acabar. Quando começamos o governo, eram 2 mil pessoas lá todos os dias. Hoje de manhã, eram 53”, disse Tarcísio em entrevista a um podcast. Segundo ele, o governo estadual tem desmontado a estrutura do crime organizado por trás do “fluxo”, como é chamado o aglomerado de usuários.
Tarcísio explicou que o tráfico usava a Cracolândia para desvalorizar imóveis, adquirir propriedades e lavar dinheiro. Segundo ele, o governo atuou para “desidratar” esse fluxo – para isso, fechou estabelecimentos, lacrou imóveis e cortou canais de comunicações.
“Estamos fazendo agora a ação no Moinho para dar dignidade às pessoas. Mas o Moinho também funcionava como uma fortaleza do tráfico. Tinha até antena interceptando rádio da polícia. Hoje temos 50, 70 pessoas na Cracolândia durante o dia. Aquela cena que a gente via já está ficando no passado”, afirmou o governador.
Desde a manhã desta terça (13), a Rua dos Protestantes está praticamente vazia, com apenas viaturas da Polícia Militar e da Guarda Civil Metropolitana no local. Os dependentes químicos que costumavam circular pela região sumiram, e nem a prefeitura, nem o governo estadual detalham quais ações motivaram esse esvaziamento.
Veja o trecho do podcast
A CRACOLÂNDIA VAI ACABAR. Estamos fazendo o que nunca foi feito, o que ninguém teve coragem de fazer. Por isso, reforço aqui meu compromisso: a Cracolândia vai acabar. pic.twitter.com/LO4ee9GFiy
— Tarcísio Gomes de Freitas (@tarcisiogdf) May 12, 2025
Nunes: problema não está resolvido
O próprio prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), se disse “surpreso” com o esvaziamento repentino. Ele reconheceu que a administração intensificou ações no local nos últimos anos, o que gradativamente foi reduzindo o número de usuários.
No entanto, em relação à situação atual, ele diz que a prefeitura está tentando entender o movimento na Rua dos Protestantes e que o problema ainda não está resolvido. Isso porque, apesar da dispersão do grupo do ponto principal, usuários foram vistos em outras regiões do centro, como o entorno do Minhocão, Santa Cecília, Belenzinho e até em avenidas mais afastadas.
Outro ponto mencionado pelo prefeito foram as ações recentes do Estado e da prefeitura na Favela do Moinho, como a transferência das 821 famílias que lá viviam. Segundo ele, traficantes operavam um dos principais pontos de abastecimento da Cracolândia no local.
“Na ação da Polícia Civil com o Ministério Público e da Polícia Militar, foi preso o Léo do Moinho, que é o grande traficante daquela região”, apontou o prefeito. “Com o abafamento das operações do tráfico de drogas, evidentemente, sem a droga presente, você tem uma facilidade maior de convencer as pessoas a irem para tratamento”, completou.
“A gente já tem pré-informações de que existe uma movimentação para um outro local. (…) Mas nós estamos caminhando para poder resolver essa situação. A gente tem que, durante alguns dias, ainda manter a sobrevigilância (…) O governador Tarcísio [de Freitas/ Republicanos] e eu colocamos uma coisa como meta: nós vamos todo dia trabalhar para fazer enfrentamento àquela situação; tanto do ponto de vista criminal, prender traficante, como do ponto de vista de saúde e assistência social, de dar tratamento para as pessoas”, finalizou o prefeito de São Paulo.
Secretaria de Segurança Pública
O Portal iG procurou a Secretaria de Segurança Pública do Estado (SSP/SP) nesta terça-feira (14) para saber se há atualizações nas ações realizadas na região central e aguarda novo posicionamento da pasta.
A secretaria enviou um comunicado que detalha as ações das autoridades de segurança nos últimos anos. Segundo a nota, houve uma redução expressiva no número de pessoas que se concentravam para o uso de drogas no centro devido às ações integradas realizadas pelos órgãos do Governo de São Paulo, como “o combate ao crime organizado, intensificado na atual gestão da SSP”.
“Priorizamos o combate ao tráfico de drogas desde o início da gestão por entendermos se tratar de um crime que movimenta os demais delitos da região central. Então, uma série de ações em segurança pública asfixiou financeiramente o crime organizado, desestabilizando a estrutura que mantinha o fluxo”, explicou o secretário da Segurança Pública, Guilherme Derrite.

Dados divulgados pela SSP indicam que, entre janeiro de 2023 e abril de 2025, cerca de 6,5 toneladas de drogas foram apreendidas e mais de 15 mil criminosos presos na região central, incluindo aproximadamente 4 mil foragidos da Justiça. Ainda segundo o balanço, os roubos caíram 43,9% e os furtos, 28,8%, na área das cenas abertas em 2024, em comparação com o ano anterior.
A secretaria também destacou que OS policiais passaram por capacitação para lidar com pessoas em situação de vulnerabilidade social, com o objetivo de saber separar o dependente químico do criminoso.
“Desde 2023, o Governo de São Paulo conta com o HUB de Cuidados em Crack e outras drogas, que oferece tratamento continuado a dependentes químicos. Em 2024, foram 45,9 mil atendimentos realizados, com 26,4 mil pacientes atendidos. Destes, 20 mil foram encaminhados para instituições como hospitais especializados, comunidades terapêuticas, UBSs, AMEs e Hospitais Gerais”, diz a nota.