Aline Pereira Ghammachi, uma freira brasileira de 41 anos, natural de Macapá (AP), foi afastada do cargo de madre-abadessa do Mosteiro San Giacomo di Veglia, na Itália.
Seu afastamento ocorreu em 21 de abril de 2025. O motivo apresentado para o afastamento foi uma denúncia anônima que alegava maus-tratos e desvio de recursos. Esta denúncia foi enviada ao papa Francisco em 2023.
Ghammachi contou à CNN que expressou desejo em ser freira desde os 15 anos. Após concluir a graduação em administração de empresas, mudou-se para a Itália em 2005 para ingressar no convento. Em 2018, aos 34 anos, tornou-se a madre-abadessa mais jovem da Itália.
Antes de ingressar no mosteiro, Gammachi diz que fazia o que gostava, saía com amigos, estudava, frequentava a paróquia e era feliz. Segundo ela, não faltava nada em sua vida no Brasil.
Atividades e acusação
Sob a liderança de Ghammachi, o mosteiro em Vittorio Veneto se abriu para a comunidade e o mundo, mesmo dentro das regras rigídas da vida em monastério. A vida das freiras é centrada em oração, trabalho e vida comunitária.
Durante sua gestão, o mosteiro passou a oferecer auxílio a mulheres vítimas de violência, pessoas autistas e implementou uma horta comunitária. As monjas também cultivavam aloe, o horto (integrado a um projeto com jovens com dificuldades), a vinha (produzindo Prosecco orgânico), além de produzirem mel, hóstias, cremes e óleos essenciais.
Aline Ghammachi nega as acusações de maus-tratos e desvio de recursos. Ela afirma que as contas do mosteiro dos últimos cinco anos de sua gestão foram auditadas e aprovadas pela igreja.
Ela recorreu da decisão de afastamento junto ao Supremo Tribunal da Assinatura Apostólica, a mais alta corte da Igreja Católica.
A freira brasileira questiona a condução do processo, que ocorreu durante o período de Páscoa e após o falecimento do papa. Ela afirma não ter tido acesso aos relatórios da denúncia anônima e desconhecer as acusações específicas. Uma testemunha presente no dia do afastamento relatou que não foram dadas explicações para a decisão e que foi imposto silêncio às freiras.
Comentários sobre aparência
Ghammachi também menciona comentários sobre sua aparência física, afirmando que ouviu de membros da igreja que era “bonita demais para ser freira”. Ela relata que tais comentários foram feitos em várias ocasiões, como “brincadeiras”.
“É muito bonita para ser freira, muito bonita, muito jovem, bonita para ser abadessa”, relata a freira sobre os comentários que ouvia.
Para a Abadessa, esses comentários, por vezes, poderiam ser considerados assédios disfarçados e usados como forma de “chacota”. Ela ressalta que a beleza não deve ser um fator determinante para a vocação religiosa.
Após o afastamento de Aline Ghammachi, duas postulantes deixaram o mosteiro. Além disso, cinco freiras registraram queixa contra a nova madre comissária. Ghammachi relata que a nova comissária tentou “fazer uma lavagem cerebral” nas freiras, incentivando-as a aceitar o sofrimento e a injustiça.
A CNN tentou contato com o Vaticano para obter um posicionamento sobre o caso, mas não obteve retorno até o momento.
Este conteúdo foi originalmente publicado em Quem é Aline Ghammachi, a brasileira “bonita demais para ser freira” no site CNN Brasil.