Seis semanas antes do cardeal americano Robert Prevost se tornar o papa Leão XIV, o grupo ativista Rede de Sobreviventes de Abusados por Padres (SNAP) apresentou uma queixa contra ele, juntamente com outros líderes da Igreja, ao Secretário de Estado do Vaticano, cardeal Pietro Parolin.
O grupo alegou que Prevost “prejudicou os vulneráveis e causou escândalo” ao lidar mal com duas situações – em Chicago, 2000, e no Peru, 2022 – envolvendo padres acusados de abuso sexual.
Os ativistas afirmaram que, como supervisor provincial da ordem agostiniana em Chicago, em 2000, Prevost permitiu que um padre acusado de abusar de pelo menos 13 menores vivesse no Convento de St. John Stone, da ordem agostiniana, em Hyde Park, a meio quarteirão da Escola Primária St. Thomas the Apostle. O padre, James Ray, estava proibido desde 1991 de realizar trabalhos paroquiais ou de estar sozinho com menores – restrições que a Arquidiocese de Chicago observou ao solicitar a Prevost que permitisse que Ray morasse no convento, segundo a denúncia.
Nas décadas de 1980 e 1990, Prevost atuou como pároco e autoridade diocesana no Peru. Ele retornou ao país em 2015, quando o papa Francisco o nomeou Bispo da Diocese de Chiclayo, no Peru. Em 2022, três mulheres apresentaram uma denúncia à Prevost, acusando dois padres de abuso sexual ocorridos em 2007, quando eram menores de idade, conforme relatado pelo The Pillar, um projeto de jornalismo investigativo católico.
As mulheres entraram com queixas civis, alegando que a diocese não agiu e nem informou as autoridades civis sobre as alegações. Mas os promotores encerraram o caso um mês depois, dizendo que o prazo de prescrição havia expirado, de acordo com a queixa do SNAP.
A diocese negou as alegações das mulheres, afirmando que Prevost se encontrou com elas pessoalmente quando apresentaram a queixa inicial. A diocese afirmou ter suspendido um padre após a queixa e que o outro não estava mais no ministério devido à sua idade avançada e problemas de saúde. Também afirmou ter encaminhado a queixa para autoridades superiores em Roma, para um escritório conhecido como dicastério para a Doutrina da Fé. Mas o dicastério encerrou o caso em 2023.
A queixa do SNAP alega que Prevost, como bispo, não abriu uma investigação, não informou adequadamente os promotores civis e nem restringiu o número de padres envolvidos. As mulheres também disseram que os investigadores da igreja nunca conversaram com elas, disse Pearson, do SNAP, à CNN.
O sucessor de Prevost como Bispo de Chiclayo, Guillermo Cornejo, reabriu o caso em 2023 e pediu uma nova investigação, depois que uma das três mulheres tornou públicas suas acusações, conforme relatado pelo The Pillar.
Rodolfo Soriano Nuñez, sociólogo da Cidade do México que escreveu extensivamente sobre a Igreja Católica Romana e sua forma de lidar com o abuso sexual clerical, disse que Prevost foi um dos poucos bispos no Peru que tentou abordar o abuso sexual cometido por padres, criando uma comissão para lidar com esses casos.
Enquanto serviu como Bispo de Chiclayo, Prevost disse ao jornal La Republica em 2019: “Rejeitamos acobertamentos e sigilo” sobre casos de abuso sexual. Ele instou as pessoas a denunciarem se tiverem conhecimento de abuso contra menores por um padre.
Este conteúdo foi originalmente publicado em Organização acusa papa Leão XIV de lidar mal com casos de abuso no site CNN Brasil.