Após anos varrendo para debaixo do tapete um dos capítulos mais sombrios da sua história, a Igreja Católica colocou oficialmente o combate aos abusos sexuais cometidos por membros do clero no centro das discussões que definirão o sucessor do Papa Francisco. A escolha do novo líder da Igreja teve início nesta quarta-feira (7), com a reunião dos cardeais na Capela Sistina, e promete ser marcada por debates sobre a crise que abalou profundamente a confiança dos fiéis ao redor do mundo.
De acordo com comunicado divulgado pelo Vaticano, três grandes temas estão na pauta dos cardeais: “a evangelização, a relação com outras religiões e o tema do abuso”. A inclusão explícita dos crimes sexuais na lista de prioridades indica uma guinada em direção à transparência e à responsabilização, um tema que ganhou força sob a liderança do Papa Francisco.




“Aplaudimos o reconhecimento dos cardeais de que pôr fim à crise de abuso deve ser prioridade para o próximo Papa. A Igreja, presente em todo o mundo por meio de paróquias, escolas, hospitais e orfanatos, cuida de dezenas de milhares de crianças. Proteger essas crianças do abuso deve ser a obrigação mais sagrada do novo Pontífice”, declarou à agência AFP Anne Barrett Doyle, co-diretora da organização norte-americana Bishop Accountability, que monitora casos de violência sexual dentro da Igreja.
Francisco, que faleceu no último 21 de abril aos 88 anos, assumiu o papado em 2013 num cenário em que novas denúncias vinham à tona quase diariamente, abalando a reputação da instituição milenar. Seu pontificado, considerado o mais firme até hoje no enfrentamento do problema, teve momentos simbólicos.
Saiba mais
Um marco ocorreu em 2018, durante visita ao Chile, onde em, primeiro momento, Francisco havia defendido publicamente um bispo acusado de acobertar os crimes de um padre pedófilo. Entretanto, tempo depois, o Papa afirmou que havia cometido “graves equívocos” e exigiu a renúncia de todos os bispos do país.
Agora, o conclave que decidirá quem será o próximo Papa acontece com a responsabilidade de manter e aprofundar esse legado. Francisco não apenas quebrou o silêncio imposto por décadas, mas também abriu caminho para que o futuro líder da Igreja enfrente os escândalos com a seriedade que exige.