O Hamas executou seis palestinos em Gaza e atirou em outros 13 nas pernas por supostos saques, afirmou o grupo em um comunicado. O caso ocorreu em meio ao bloqueio de ajuda humanitária de Israel, que já está avançando para o terceiro mês.
Divulgado na sexta-feira (2), o comunicado do Hamas afirmou que realizaria mais execuções contra “todos os criminosos que conseguirmos alcançar nos próximos dois dias”.
Desde a semana passada, gangues armadas têm tomado cada vez mais as ruas da Cidade de Gaza, buscando alguns dos suprimentos de comida restantes e desafiando o controle do Hamas sobre o território, de acordo com jornalistas da CNN em Gaza.
O Hamas afirma que algumas dessas “gangues criminosas” estão colaborando com Israel. “Um alerta foi emitido — aqueles que o ignoram assumem total responsabilidade”, disse o grupo.
As execuções — e a promessa do Hamas de que mais se seguirão — são um lembrete claro de que o grupo, mesmo enfraquecido após mais de 18 meses de guerra, mantém o poder em Gaza.
Crise de fome se alastra pelo território
À medida que os suprimentos de comida começaram a escassear no território costeiro, os palestinos ficaram cada vez mais desesperados para encontrar o que restasse.
Na noite de quarta-feira (30), milhares de pessoas invadiram uma instalação da ONU e vários armazéns na Cidade de Gaza em busca de restos de refeições, como farinha ou comida enlatada, de acordo com um jornalista que testemunhou um desses casos.
O Hamas alegou que alguns dos supostos saqueadores estavam colaborando com Israel.
Já no sábado (3), o Ministério do Interior e da Segurança Nacional do Hamas afirmou que “um grupo de foras da lei, colaboradores da ocupação, surgiu para ameaçar a vida dos cidadãos, espalhando medo e caos em alguns bairros e atacando propriedades públicas e privadas”.
Cenas de fome em massa se tornaram muito mais comuns à medida que a população de mais de 2 milhões de palestinos de Gaza se aproxima da fome. Israel impôs um bloqueio total a Gaza em 2 de março, interrompendo o fornecimento de ajuda humanitária, incluindo alimentos e medicamentos, para o território sitiado.

O Dr. Ahmad Al-Farra, chefe do departamento de pediatria do Complexo Médico Nasser em Gaza, alertou no fim de semana que “uma catástrofe sanitária iminente está ameaçando a vida de milhares”.
“Estamos enfrentando o perigo de uma onda massiva de mortes por desnutrição se a atual crise humanitária continuar sem solução”, disse ele à CNN.
No início do sábado, Janan Saleh Al-Sakkafi, de dois meses de idade, morreu devido à desnutrição no Hospital Al-Rantisi, disse o Dr. Munir Al Barsh, Diretor Geral do Ministério da Saúde em Gaza, à CNN.
O Departamento de Estado dos EUA afirmou que uma ajuda humanitária poderia ser anunciada “nos próximos dias”, o que permitiria que alimentos e medicamentos necessários cheguem à população palestina sem serem desviados pelo Hamas ou pela Jihad Islâmica.
“As salvaguardas estão finalmente em vigor. Israel permanece seguro, o Hamas de mãos vazias e os moradores de Gaza com acesso a ajuda essencial”, disse um porta-voz do Departamento de Estado.
O porta-voz descreveu o projeto como um elemento de “pensamento criativo”, mas não forneceu detalhes sobre como ele funcionaria em Gaza. Uma fundação privada não identificada gerenciaria o mecanismo de ajuda e a entrega dos suprimentos humanitários a Gaza, disse o porta-voz.
Desde que assumiu o poder no enclave em 2007, o Hamas executou dezenas de suspeitos, incluindo alguns acusados de colaborar com Israel.
Enquanto isso, o exército israelense continua pressionando, com o chefe do Estado-Maior, Eyal Zamir, afirmando no domingo que as Forças de Defesa de Israel (IDF) emitiriam “dezenas de milhares” de ordens aos reservistas na próxima semana, para intensificar sua ofensiva no enclave.
Khader Al-Za’anoun, da Wafa, a agência de notícias oficial palestina, contribuiu para esta reportagem.
Este conteúdo foi originalmente publicado em Guerra em Gaza: Hamas executa palestinos que saquearam alimentos no site CNN Brasil.