
Após 114 anos, fêmea da espécie periquito cara-suja colocou seis ovos férteis no Planalto da Ibiapaba. Três filhotes já nasceram. Vídeo mostra periquito cara-suja, espécie nativa do Ceará e ameaçada de extinção
O periquito cara-suja, espécie nativa do Ceará e ameaçada de extinção, se reproduziu na Reserva Natural Serra das Almas (RNSA), localizada no Planalto da Ibiapaba, entre os municípios de Crateús (CE) e Buriti dos Montes (PI), após 114 anos sem registros reprodutivos na região.
O nascimento de três filhotes da espécie (Pyrrhura griseipectus) é considerado um marco histórico. O feito é resultado da ação do Projeto Refaunar Arvorar, uma iniciativa do Parque Arvorar — equipamento de educação e conservação ambiental vinculado ao Beach Park — em parceria com as ONGs Aquasis e Associação Caatinga, com apoio do Ibama.
“O nascimento simboliza o início de um novo ciclo de vida para a espécie no seu habitat original”, declara Leanne Soares, gerente do Parque Arvorar.
Conheça o periquito cara-suja
Três filhotes de periquito cara-suja nasceram na Reserva Natural Serra das Almas (RNSA)
Divulgação
O periquito cara-suja foi completamente extinto em algumas regiões do Nordeste ao longo dos últimos 50 anos e, até 2017, figurava na Lista Nacional de Espécies Ameaçadas de Extinção como “criticamente em perigo” (CR).
No Ceará, a última vez que a reprodução da espécie foi registrada na região foi no início do século passado. Atualmente, muitas das áreas onde a espécie já foi encontrada não oferecem mais condições ambientais adequadas para sua sobrevivência.
Graças às ações de conservação, a espécie passou da classificação de “criticamente em perigo” (CR) para “em perigo” (EN) na lista vermelha. A expectativa é que o risco de desaparecimento continue diminuindo nos próximos anos.
A população estimada de periquitos cara-suja em vida livre hoje varia entre 1.500 e 2.000 indivíduos, segundo Fábio Nunes, gerente do Projeto Cara-suja da Aquasis. Ele aponta que os principais fatores que ameaçam a espécie são a captura para o tráfico de animais e a destruição de seu habitat natural.
“Em meio a caatinga, restam pouquíssimos ambientes adequados — há escassez de árvores com cavidades naturais, essenciais para sua reprodução”, explica Fábio.
Ele também destaca a importância ecológica do cara-suja, revelando que suas interações com as plantas demonstram o papel benéfico da ave no meio ambiente. “O cara-suja atua como dispersor de sementes e ainda facilita a ação de outros dispersores, ao abrir caminhos e tornar os recursos mais acessíveis. Ou seja, ele desempenha um papel ecológico fundamental, e preservar essa ave significa também manter essas interações ecológicas essenciais para o equilíbrio do ecossistema”, afirma.
Nascimento de três filhotes
Vídeo mostra ovo colocado por periquito cara-suja
A fêmea responsável por colocar os ovos foi acolhida pelo Parque Arvorar em setembro de 2024, após uma ação coordenada com o Ibama. Ela passou por uma série de exames clínicos, avaliação comportamental e reabilitação antes de ser considerada apta a integrar o projeto de reintrodução.
Em dezembro do ano passado, a ave foi integrada ao projeto Refaunar, que tem como objetivo o repovoamento de espécies nativas em áreas onde haviam desaparecido. Após o aval dos órgãos competentes, a fêmea foi encaminhada para a RNSA — uma área protegida de 6.285,38 hectares —, onde se reproduziu. A ave colocou seis ovos férteis, dos quais três filhotes já nasceram.
“Ainda é só o início: reintroduzir animais na natureza exige monitoramento constante e enfrentar desafios complexos. Mas o nascimento dos filhotes já é um sinal positivo de que essa espécie está se adaptando ao ambiente e pode repovoar a região com sucesso. Seguimos comprometidos para garantir que esse recomeço prospere!”, pontua Fábio.
O gerente explica que o objetivo da reintrodução da espécie é alcançar um nível de diversidade genética semelhante ao da população original, na Serra de Baturité, que é de 90%. Para isso, o monitoramento das populações é feito diariamente.
As ações incluem:
Fornecimento de alimentação suplementar;
Acompanhamento dos locais de dormida;
Comportamento reprodutivo;
Taxa de sobrevivência das aves.
“É um processo longo e ainda está em fase inicial. Na Serra da Aratanha, onde realizamos a primeira reintrodução, já estamos no terceiro ano reprodutivo. Acompanhamos o nascimento dos filhotes, monitoramos a taxa de sobrevivência e continuamos oferecendo alimentação suplementar para garantir o sucesso da população. Mesmo que os periquitos já estejam se alimentando na natureza, com território estabelecido e se reproduzindo de forma natural, seguimos com o monitoramento pós-soltura para assegurar a consolidação da população”, explica.
Assista aos vídeos mais vistos do Ceará: