Congonhas: Tragédia que Ecoa, série documental da Netflix

Mais de 15 anos após o maior desastre da aviação comercial regular do Brasil, a tragédia ocorrida no Aeroporto de Congonhas volta ao centro das atenções com a estreia da série documental “Congonhas: Tragédia Anunciada”, lançada recentemente pela Netflix. A produção, dirigida por Angelo Defanti, mergulha nos bastidores do acidente que, em 17 de julho de 2007, vitimou 199 pessoas e abalou profundamente a confiança na segurança aérea do país.

Com apenas três episódios, o documentário é suficiente para provocar reflexões e reações intensas. Depoimentos de familiares e profissionais que viveram de perto o drama ajudam a reconstituir o cenário de caos, dor e revolta. Em um dos trechos mais emocionantes, uma espectadora desabafa:
“Pensei muitas vezes em não ver esse documentário e reviver esse momento trágico, e evitar em lembrar o pior dia da minha vida. (…) Foi o dia em que perdemos a minha tia, tão jovem, com uma vida inteira pela frente de apenas 21 anos, e o meu priminho, um anjinho de apenas 1 ano de idade. Só de lembrar, sinto um nó na garganta, um aperto no peito e uma dor profunda e uma ferida que jamais irá cicatrizar.”

A narrativa da série resgata não apenas o drama humano, mas também o contexto de um setor em colapso. O acidente da TAM ocorreu em meio ao chamado “apagão aéreo brasileiro”, um período de instabilidade que começou em 2006, após a colisão entre um Boeing da Gol e um jato Legacy, que deixou 154 mortos.

As causas do desastre

De acordo com o Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos), a queda do Airbus A-320 foi resultado de uma série de fatores: falhas operacionais, erro dos pilotos e brechas nas regulamentações da época. Durante o pouso em Congonhas, apenas uma das alavancas de propulsão foi colocada em marcha lenta; a outra permaneceu em aceleração, dificultando a frenagem. Além disso, o reversor de empuxo estava desativado, algo que era permitido mesmo com a pista molhada.
Durante o pouso, apenas uma das alavancas de propulsão em marcha lenta foi acionada, e a outra ficou em modo de aceleração, o que significa que o avião não estava preparado para pousar corretamente, como se fosse decolar mais uma vez.

Repercussões e mudanças

O impacto do acidente foi profundo. Embora as autoridades afirmem que as reformas não foram motivadas exclusivamente por esse episódio, diversas alterações estruturais e operacionais foram implementadas. A pista principal de Congonhas foi reformada, novos sistemas de controle de tráfego aéreo foram instalados, e passaram a ser feitas medições mais rigorosas da textura e do atrito da pista.
As empresas destacam, porém, que as mudanças não foram motivadas apenas por um acidente, mas por um conjunto de fatores.

Indenizações e justiça

No plano jurídico, a Airbus, fabricante da aeronave, assinou um acordo em 2017, ano em que a tragédia completou uma década. O pacto previa o pagamento de mais de R$ 30 milhões a 33 famílias de vítimas. Ainda em 2022, restava apenas um processo pendente de resolução judicial.

Feridas que permanecem abertas

A dor das perdas ainda é latente para muitos que perderam familiares no voo. As entrevistas realizadas pela produção da Netflix revelam o trauma prolongado de quem não pôde sequer se despedir.
Entre os relatos estão lembranças sobre a demora para identificação de todas as vítimas, a impossibilidade de se despedir dos entes queridos, muitos corpos foram pulverizados na queda, e a demora para receber o corpo.

Profissionais que atuaram no resgate também relatam os efeitos psicológicos do ocorrido. “Momento que marcou profundamente a todos nós. Minha missão ali foi servir com o máximo de humanidade e respeito. Cada vida perdida e cada família impactada seguem sempre em nossas orações”, relatou um policial envolvido na operação.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.