Por que os fãs da Lady Gaga são chamados de ‘monstrinhos’?


Cantora adotou em 2009 o termo ‘little monsters’ para identificar seu público. Desde então, o nome evoluiu de uma brincadeira nos shows a um símbolo de comunidade global — com direito a manifesto, gestos característicos, rede social própria e demonstrações de afeto mútuo entre a artista e seus admiradores. Little monsters na porta do Copacabana Palace fazem o gesto identitário
Adriana Rezende/TV Globo
Há 2 meses, ao receber um prêmio, Lady Gaga direcionou palavras emocionadas aos “little monsters”, ou “monstrinhos”, como chama carinhosamente seus fãs. “Obrigada por sempre me verem com clareza, desde os tempos de ‘The Fame’ até ‘Mayhem’ [álbuns]. Porque vocês me enxergaram, eu aprendi a me enxergar”, disse a cantora.
Dezenas de monstrinhos estão desde a manhã de terça-feira (29) na porta do Copacabana Palace à espera de um adeusinho. Essas dezenas vão virar milhares neste sábado, quando Gaga se apresenta de graça no palco montado no Posto 2. A expectativa de público é de 1,6 milhão de little monsters.
Quer ver de casa? A transmissão começa às 21h15 no Multishow e no Globoplay com a dupla Dedé Teicher e Laura Vicente, e na TV Globo logo após a novela “Vale Tudo”, com Kenya Sade e Ana Clara. Você também pode acompanhar a transmissão aqui no g1.
Gênese
Lady Gaga no clipe de ‘Bad Romance’
Reprodução
O apelido nasceu em meados de 2009. Naquele verão, durante os shows da turnê do álbum “The Fame”, a artista começou espontaneamente a chamar a plateia de “my little monsters” (meus monstrinhos).
A inspiração veio da própria estética que Gaga desenvolvia na época: ela preparava o lançamento de “The Fame Monster”, expansão de seu álbum de estreia, que explorava figuras grotescas para representar medos internos e exageros da fama.
O comportamento dos espectadores em seus concertos — “contorcendo-se, gritando e dançando” de forma intensa — lembrou Gaga de criaturas ferozes, o que fez o apelido cair como uma luva para definir aquele público apaixonado.
Batizar a própria base de fãs não era inédito no mundo do pop, mas Gaga foi pioneira em fazê-lo em grande escala no Ocidente. “Little monsters” deixou de ser apenas uma brincadeira e logo se tornou uma identidade coletiva.
Trecho de ‘Bad Romance’, de Lady Gaga
Reprodução
A consolidação da comunidade
À medida que seus “monstrinhos” se multiplicavam, Lady Gaga estreitava ainda mais os laços com eles. Os fãs passaram a chamá-la de “Mother Monster” (Mãe Monstro), apelido criado por uma admiradora em Chicago e prontamente adotado por Gaga.
No final de 2009, quando lançou “The Fame Monster”, a cantora incluiu um presente especial para os fãs mais devotos: o “Manifesto of Little Monsters”, encartado na edição deluxe do álbum (leia a íntegra abaixo).
Nele, Gaga descrevia a mitologia em torno de sua relação com o público — chegando a se declarar “uma espécie de bobo da corte devotado” no “reino” de seus fãs. A importância simbólica desse manifesto foi tão grande que trechos foram usados como introdução durante a turnê Monster Ball (2009-2011), 1ª grande série de shows de Gaga, já batizada em homenagem aos “monstros” que a seguiam.
Nos palcos, a estética monstruosa ganhou vida. No clipe de “Bad Romance”, Gaga e seus dançarinos fazem um gesto de garra com a mão — movimento que, na turnê seguinte, se converteria no símbolo oficial dos Little Monsters.
Bastava Gaga erguer os dedos curvados em forma de garra, gritando “paws up!” (“patas para cima!”), para a multidão responder em uníssono. Esse sinal rapidamente virou a saudação dos fãs, dentro e fora dos shows.
Conexão emocional
No início de 2010, poucos meses após começar a usar o apelido, ela fez a 1ª tatuagem em homenagem ao seu público: as palavras “Little Monsters” inscritas no braço esquerdo. A cantora divulgou uma foto aos seguidores com a legenda: “Olha o que fiz na noite passada. Little monsters para sempre, no braço que segura meu microfone.”
Mais tarde, em 2014, imortalizou uma “monster paw” (garra de monstro) nas costas. “É o símbolo dos meus fãs, que levantam suas patas no ar todas as noites desde que nos tornamos uma comunidade”, explicou Gaga. “Eu prezo o significado dela — a lealdade, devoção e força que compartilhamos. Quis gravá-la em mim para sempre.”
Em 2012, Gaga lançou sua própria rede social, batizada LittleMonsters.com, para reunir admiradores do mundo inteiro. A plataforma permitia que fãs interagissem, compartilhassem artes e recebessem mensagens da própria cantora.
Durante a turnê Born This Way Ball, Gaga criou o “Monster Pit”, área especial próxima ao palco para fãs fantasiados. Em cada show, coroava simbolicamente um “rei” ou “rainha” do Monster Pit, convidando-os ao palco ou ao camarim. A interação direta reforçava o sentimento de pertencimento.
Outros ícones pop seguiram o exemplo batizando seus fãs (Beliebers, Swifties, BeyHive), mas Gaga foi a pioneira. Em discursos e entrevistas, diz que seus monstrinhos a fazem sentir compreendida. Não por acaso, dedicou a música “Born This Way” a eles. Para muitos, assumir-se um Little Monster significou encontrar um espaço onde ser “estranho” é motivo de orgulho.
A cantora Lady Gaga desembarcou no Aeroporto Internacional do Galeão, na Zona Norte do Rio de Janeiro, no dia 29 de abril de 2025
Dilson Silva/AgNews
Manifesto dos Little Monsters
Há algo de heroico na maneira como meus fãs operam suas câmeras. Tão precisamente e intrincadamente, tão orgulhosamente e metodicamente. Como reis escrevendo a história de seu povo. É a natureza prolífica deles que tanto cria quanto adquire o que mais tarde será percebido como o “reino”. Assim, a verdadeira verdade sobre os fãs da Lady Gaga reside neste sentimento: Eles são os reis. Eles são as rainhas. Eles escrevem a história do reino, enquanto eu sou algo como um bobo da corte devotado.
É na teoria da percepção que estabelecemos nosso vínculo. Ou, a mentira, devo dizer, pela qual matamos. Não somos nada sem nossa imagem. Sem nossa projeção. Sem o holograma espiritual de quem percebemos ser, ou melhor, de quem aspiramos nos tornar, no futuro.
Quando você estiver sozinho,
eu também estarei sozinha,
E isso é a fama.
Amor e arte.
12-18 1974
Lady Gaga
Ranking dos álbuns da Lady Gaga (do pior ao melhor)
Adicionar aos favoritos o Link permanente.