A Polícia Federal (PF) indicou, em relatório que baseou uma operação na semana passada contra fraudes bilionárias no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), movimentos atípicos envolvendo a investigada Cecília Rodrigues Mota, que iam de mais de 30 viagens em um ano, até compras de itens de luxo incompatíveis com sua renda declarada.
Segundo os investigadores, Cecília teria feito 33 viagens entre o período de 2 de janeiro de 2024 e 12 de novembro de 2024.
Em comparação, no mesmo período de 2023, ela teria realizado apenas oito viagens. Os translados, considerados pela PF como “volume atípico”, incluíam destinos domésticos, mas também internacionais como: Dubai, Paris e Lisboa.
Cecília atuava como presidente de fachada de diversas associações utilizadas para aplicar golpes em aposentados e pensionistas, de acordo com as investigações. Nessas viagens que realizava, estava acompanhada, de acordo com a Polícia, de beneficiários dessas empresas. O que chama atenção, aponta o relatório, é que alguns deles carregavam consigo “muitos volumes de bagagem”.
Alguns deles estiveram presentes em 15 viagens, por exemplo, e receberam repasses de valores altos, alcançando a casa dos R$ 400.000.
Um outro investigado teria recebido R$ 1 milhão de Cecília somente no mês de março de 2024 e outros R$ 6 milhões de uma empresa de Antonio Carlos Camilo Antunes, que ficou conhecido como “careca do INSS“.
“Nesse contexto, reforçam-se as evidências de conexão entre os operadores financeiros do esquema investigado e as viagens por eles realizadas”, diz um trecho do relatório.
De acordo com a Polícia Federal, as pessoas físicas e jurídicas relacionadas a Cecília receberam R$ 14.081.937,35 de entidades associativas e de empresas intermediárias a elas relacionadas.
“CECÍLIA é servidora pública federal aposentada e advogada. Conforme narrado na IPJ 060/2024, o escritório profissional de CECÍLIA recebeu valores de associações investigadas e remeteu-os a pessoas jurídicas pertencentes a familiares de servidores do INSS”, explica outra parte do documento.
Além dessas transações, a PF diz ter localizado também “movimentos financeiros que não condizem com a capacidade econômica declarada”, apontando o envio de valores para empresas como Tifffany-Brasil, além de gastos com estabelecimentos como Hugo Boss, Prada e Hotel Fasano.
“Observa-se que o seu comportamento transacional é de entrada e saída de recursos de maneira rápida, o que demonstra pressa na evasão dos recursos recebidos, deixando saldo irrisório na conta, se comparado com a movimentação financeira transacionada no período.”
Em outro trecho, os investigadores apontam: “Verifica-se, nesse cenário, que o incremento substancial no salário de contribuição declarado por CECÍLIA é contemporâneo aos repasses advindos das entidades associativas e suas intermediárias”.
Policial envolvido e passagens “em cima da hora”
No decorrer das investigações, a Polícia Federal identificou a existência de “relações financeiras” entre as entidades associativas e pessoas físicas e jurídicas ligadas ao procurador federal da Advocacia-Geral da União Virgilio Antonio Ribeiro de Oliveira — que atua também como Procurador-Geral da Procuradoria Federal Especializada do Instituto Nacional do Seguro Social — e as associações investigadas, em nome de Cecília Rodrigues Mota, dentre outras.
“Ao todo, pessoas físicas e jurídicas relacionadas a VIRGILIO ANTONIO RIBEIRO DE OLIVEIRA receberam um total de R$11.997.602,70 de empresas intermediárias relacionadas às entidades associativa.”
Ele também realizava uma série de viagens internacionais. Dentre as quais, a polícia solicitou imagens de seu desembarque após notar um “movimento concertado dos investigados” depois de uma reportagem veiculada a partir das viagens de Cecília.
Nas imagens do desembarque de Virgilio no aeroporto de Congonhas, na data de 28 de novembro de 2024, ele aparece com o policial federal Philipe Roters Coutinho, que também foi alvo da operação.
Nas imagens, os dois e mais um homem “embarcam em viatura ostensiva da polícia federal, para uso exclusivo em serviço por policiais federais”.
Sobre Philipe, a PF também identificou “movimentações em viagens com perfil de compra atípico”. O relatório aponta para a compra de passagens “em cima da hora e voos ‘bate/volta’, principalmente para Brasília”.
A CNN tenta contato com os citados. O espaço está aberto.
Este conteúdo foi originalmente publicado em Fraude no INSS: PF apontou viagens internacionais e compra de itens de luxo no site CNN Brasil.