Nos últimos meses, um item que costuma ser básico nas prateleiras dos supermercados brasileiros tem ganhado destaque, e não é de um jeito bom. O preço do ovo disparou e, segundo o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA-15), o aumento foi de 13,13% apenas em março. Quem vai às compras já percebeu: o ovo não está mais tão acessível como antes. Mas o que está por trás dessa alta? Quais são os motivos para que um alimento tão simples tenha se tornado tão caro?
Primeiro, a exportação. Como o Brasil é um grande exportador de ovos, a demanda internacional acabou fazendo com que o mercado interno sentisse a pressão. “Surgiu a necessidade de ovos em outros países, e, com isso, o Brasil aumentou as exportações. Isso reduziu a oferta no mercado interno e fez com que o preço subisse”, explica Ciro Burgos, coordenador de Ciências Econômicas da UniDomBosco. Ou seja, a procura lá fora foi mais lucrativa, e o brasileiro ficou com menos ovos no mercado.


Mas a história não para por aí. Outro fator essencial para a alta dos preços é a escassez de ração. Com as mudanças climáticas afetando a produção de milho, um dos principais ingredientes das rações para galinhas, os custos para os produtores aumentaram. E esse aumento não é pequeno: “O milho praticamente dobrou de preço de 2024 para 2025”, diz José Carlos de Lima Jr., professor da Harven Agribusiness School. Ou seja, o ovo não é o único culpado aqui, o milho também entrou na dança, e as galinhas não ficaram imunes ao impacto.
E se você pensava que os ovos poderiam ser produzidos em grandes quantidades o tempo todo, engano seu. A sazonalidade das granjas também afeta a produção. Como outros produtos agrícolas, os ovos têm suas flutuações ao longo do ano. “O começo do ano já é um período de entressafra, então é normal que a produção diminua nesse período”, pontua Burgos. Ou seja, é aquela história: quando o mercado está mais vazio, o preço sobe.
Mais informações
Mas a cereja do bolo para esse aumento é o novo hábito do brasileiro. Com a carne ficando cada vez mais cara, o ovo se tornou uma alternativa mais acessível. E, mesmo com a carne voltando a cair um pouco de preço, o consumo de ovos não diminuiu. “O ovo virou substituto para outros alimentos. E, por mais que a carne tenha dado uma aliviada no preço, as pessoas continuam consumindo mais ovos”, revela Burgos.
E é aí que está o grande desafio para os produtores: aumentar a oferta de ovos. Acontece que, mesmo com investimentos em novas granjas e mais galinhas, a produção não consegue dar conta do aumento da demanda de imediato. “É um processo que leva tempo. A produção de ovos não pode ser aumentada do dia para a noite”, finaliza Lima Jr.