Em 100 dias de governo Donald Trump nos Estados Unidos, pelo menos 32 países estabeleceram negociações comerciais com a Casa Branca e 16 anunciaram medidas de apoio doméstico aos setores econômicos atingidos diretamente pelo tarifaço americano, segundo a Global Trade Alert — plataforma alimentada por uma organização suíça que monitora barreiras protecionistas em escala mundial.
A lista inclui o Brasil como país que abriu conversas diretamente com o governo Trump, mas também como uma das quatro nações que “ameaçam retaliação” contra os Estados Unidos pela adoção das tarifas recíprocas. União Europeia, França e Costa do Marfim completam esse grupo.
O Global Trade Alert faz referência à Lei de Reciprocidade, aprovada de forma unânime pelo Congresso Nacional e sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 14 de abril.
A nova legislação municia o Brasil com a possibilidade de elevar tarifas contra produtos americanos e fazer uma espécie de “retaliação cruzada”, suspendendo direitos de propriedade intelectual e proteção de patentes, por exemplo.
Enquanto isso, o governo brasileiro continua negociando com a Casa Branca em torno de dois grandes temas: as tarifas recíprocas (alíquota de 10% aplicada sobre todos os produtos importados pelos Estados Unidos) e a sobretaxa de 25% sobre o aço e o alumínio.
“Como as coisas mudam a cada 24 horas, no plano internacional, não há uma diretriz clara e as pessoas estão com muita insegurança sobre o que está acontecendo com o governo dos Estados Unidos”, disse recentemente o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sobre as tarifas de Trump.
De acordo com a Global Trade Alert, além do Brasil, outros 31 países (ou blocos) estão em negociações com a Casa Branca. Por ordem alfabética: África do Sul, Bahamas, Brunei, Camboja, Cazaquistão, Chile, Coreia do Sul, Fiji, Filipinas, Índia, Indonésia, Iraque, Israel, Itália, Japão, Laos, Lesoto, Malásia, Myanmar, Noruega, Paquistão, Peru, Reino Unido, República Dominicana, Singapura, Sri Lanka, Suíça, Tailândia, Taiwan, União Europeia e Vietnã.
A China é classificada como um dos países que já retaliaram Trump. Somente em abril, foram adotadas medidas como um aumento de tarifas para 125% sobre importações americanas, a suspensão de encomendas da Boeing por companhias aéreas chinesas e controle para a exportação de minerais críticos aos Estados Unidos.
Enquanto isso, 16 países (ou blocos) anunciaram medidas de apoio aos setores afetados: África do Sul, Austrália, Canadá, Chile, Colômbia, Coreia do Sul, Espanha, Indonésia, Japão, Reino Unido, Tailândia, Taiwan, União Europeia e Vietnã.
Entre as medidas estão:
- Financiamento subsidiado e apoio para pequenas e médias empresas na cadeia de peças e partes da indústria automotiva (Japão).
- Pacote de US$ 12 bilhões para apoiar a indústria e estabilizar o emprego (Taiwan).
- Crédito de US$ 14 bilhões do Eximbank para ajudar exportadores a “lidar com a crise resultante das novas políticas comerciais americanas” (Coreia do Sul).
- Criação de uma “clínica exportadora” para prover apoio de crédito, consultoria e identificação de novos mercados a empresas prejudicadas nas exportações para os Estados Unidos (Tailândia).
- Apoio financeiro/subsídios à indústria de carne bovina para reagir às tarifas recíprocas dos Estados Unidos (Austrália).
- Nova estratégia, articulada pelo governo e pelo setor privado, de diversificação de mercados para exportações (Colômbia).
Este conteúdo foi originalmente publicado em Cem dias de Trump: 32 países negociam tarifas com EUA; 16 adotaram medidas no site CNN Brasil.