Sob a sombra da guerra tarifária imposta ao mundo pelo presidente norte-americano, Donald Trump, a reunião de chanceleres dos Brics, que começa nesta segunda-feira (28) no Rio de Janeiro, prepara uma defesa conjunta do sistema de comércio global, coordenando sua resposta à enxurrada de novas tarifas dos Estados Unidos.
A expectativa é que a reunião no Rio produza uma declaração conjunta do grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, e recentemente ampliado para incluir mais seis nações, criticando “medidas unilaterais” sobre o comércio.
“Os ministros estão negociando uma declaração para reafirmar a centralidade das negociações comerciais multilaterais como o principal eixo de ação no comércio”, disse o embaixador brasileiro Maurício Lyrio.
“Eles reafirmarão suas críticas às medidas unilaterais de qualquer origem, que tem sido uma posição de longa data dos países do Brics”.
O grupo expandido do Brics, que acrescentou Egito, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia e Irã no ano passado, enfrenta grandes desafios mediante as ações comerciais dos EUA.
A China, que foi atingida por tarifas de 145% sobre suas exportações para os Estados Unidos, pressionou por um tom mais severo no comunicado, mas, de acordo com uma fonte familiarizada com as negociações, o texto final será crítico, mas sem nominar diretamente os EUA, como gostariam os chineses.
O bloco como um todo tem sido alvo de críticas de Trump, que ameaçou com mais 100% de tarifas se o Brics avançar com uma moeda única para substituir o dólar nas relações comerciais — uma proposta que, na verdade, não está no horizonte, especialmente depois da expansão do grupo.
Como mostrou a Reuters em fevereiro, o bloco busca maneiras de ampliar o comércio entre os países e diminuir a dependência do dólar, usando moedas locais e outras formas de reduzir os custos das transações.
Clima
De olho na cúpula climática da ONU que o Brasil sediará em novembro, os ministros do Brics também discutirão uma posição compartilhada sobre o financiamento climático, uma prioridade fundamental para a Presidência brasileira do bloco este ano.
As principais nações em desenvolvimento, incluindo a China, enfrentam uma pressão crescente das nações mais ricas para contribuir com o financiamento de iniciativas de adaptação e mitigação nos países mais pobres.
“O que não está em pauta é a revisão de quais países devem pagar pela transição energética e os países que podem eventualmente, de forma voluntária, também financiá-la. Essa distinção é absolutamente fundamental”, disse Lyrio.
“A obrigação de financiar a luta contra as mudanças climáticas e a transição energética nos países em desenvolvimento é dos países ricos”, acrescentou.
Ao abrir a reunião, o chanceler brasileiro, Mauro Vieira, chamou a atenção para a capacidade do bloco, que hoje representa 40% da população mundial, de defender a paz e o multilateralismo.
“Esta reunião acontece em um momento em que nosso papel como grupo é mais vital do que nunca. Enfrentamos crises globais e regionais convergentes, com emergências humanitárias, conflitos armados, instabilidade política e a erosão do multilateralismo. Essas crises desafiam os próprios fundamentos da paz e da segurança internacionais e exigem um compromisso renovado com a ação coletiva”, afirmou Vieira.
“Defendemos a diplomacia em vez do confronto e a cooperação em vez do unilateralismo”.
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Este conteúdo foi originalmente publicado em Países do Brics discutem resposta conjunta às políticas comerciais de Trump no site CNN Brasil.