
Tensão entre países aumentou após ataque israelense matar chefe do Hamas em território iraniano. Irã afirma que irá se vingar. Ciclista passa em frente ao prédio do reator da usina nuclear de Bushehr, nos arredores da cidade de mesmo nome no sul do Irã, em foto de 26 de outubro de 2010
Majid Asgaripour/Mehr News Agency via AP
Organizações internacionais estimam que Israel tenha pelo menos 90 ogivas nucleares, e que o Irã tenha capacidade para produzir essas armas de destruição em massa.
O número de 90 ogivas nucleares é atribuído a Israel por organizações como a Federação dos Cientistas Americanos (FAS, na sigla em inglês) e pelo Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo (Sipri, na sigla em inglês), que fazem estudos sobre os arsenais dessas armas pelo mundo.
O país, que não é signatário do Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares, nunca admitiu ter esse tipo de armamento.
Para Michelly Geraldo, Doutora em Estudos Estratégicos Internacionais especialista em Política e Tecnologia Nuclear, Israel mantém uma postura de ambiguidade estratégica quando o assunto é o seu programa nuclear e isso dificulta mensurar o poder destrutivo das bombas israelenses, diz.
“A busca por manter certo grau de incerteza sobre o programa nuclear serve principalmente a duas estratégias: servir como uma forma de dissuasão contra potenciais adversários, principalmente porque Israel está em uma região cujas dinâmicas são extremamente conflitivas; e minimizar em algum grau a pressão internacional sobre o seu programa nuclear”, diz.
Para Michelly, o uso de armas nucleares por Israel é improvável por causa das consequências da radiação para os países no entorno e o próprio território israelense. “Esse seria o último recurso um país como Israel”, diz.
O Irã, por sua vez, é parte do Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares desde que foi criado, em 1968, mas, desde 2003, tem sofrido sanções por descumpri-lo.
Um acordo que limitava as atividades nucleares do Irã em troca de um alívio nas sanções, o Plano de Ação Conjunto Global (PACG), foi firmado em 2015 entre o país islâmico e o grupo que ficou conhecido como P5+1 (EUA, China, França, Rússia, Reino Unido e Alemanha).
Em 2018, sob o governo Trump, os Estados Unidos deixaram o acordo e, a partir de 2019, o Irã deixou de cumprir sua parte no plano.
Em um relatório divulgado em fevereiro de 2024, a AIEA afirma que, desde 2021, não é autorizada a monitorar parte dos estoques iranianos de água pesada, usada em reatores nucleares, e a verificar a infraestrutura nuclear do país, incluindo as centrífugas que são utilizadas para enriquecer urânio.
E, em julho de 2022, o Irã desligou as 27 câmeras de vigilância posicionadas pela AIEA em suas instalações nucleares.
Não há informações de que o país tenha desenvolvido armas nucleares até aqui. No entanto, o consenso entre institutos de pesquisa e organizações dedicadas à não proliferação nuclear é o de que o país tem a capacidade e a tecnologia para produzi-las.
Em fevereiro, um funcionário que já liderou o programa iraniano anunciou que a República Islâmica tem todas as peças para a fabricação de uma arma “em nossas mãos”.
Em 2022, o ex-ministro das Estradas e Desenvolvimento Urbano do Irã, Mohammad Eslami afirmou que o país tem capacidade técnica para desenvolver uma bomba atômica, “mas não existe tal plano na agenda”.
O Serviço de Pesquisa do Congresso Norte-Americano (CRS, na sigla em inglês) divulgou em 2019 um relatório no qual afirmava que o Irã tinha urânio enriquecido suficiente para produzir pelo menos 8 bombas nucleares.
A versão mais recente desse relatório, divulgada em março de 2024, entretanto, diz apenas que o país teria capacidade para produzir “várias bombas”, sem estimar um número.
Um relatório confidencial da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) divulgado pela agência de notícias AFP em fevereiro de 2024, também indica que o Irã tem 712,2 kg de urânio enriquecido em 20% e de 121,5 kg em 60% — que se aproximam dos 90% necessários para fabricar uma bomba atômica.
Michelly Geraldo explica que a quantidade de urânio necessária para produzir uma bomba nuclear depende do tipo de bomba e da quantidade de quilotons — unidade de energia usada para medir o poder de destruição de uma bomba.
“Com menos de 10 kg de urânio enriquecido a pelo menos 85% ou 90% é possível fazer uma bomba. Há bombas que precisam de 25 kg de urânio, por exemplo. Tudo depende do enriquecimento”, afirma.
O Irã sempre negou qualquer intenção de desenvolver sua capacidade de armas nucleares, insistindo em que suas atividades são inteiramente pacíficas.
Armas nucleares pelo mundo
De acordo com o Anuário Sipri 2023, produzido pela organização, nove países têm armas nucleares: Estados Unidos, Rússia, Reino Unido, França, China, Índia, Paquistão, República Popular Democrática da Coreia (Coreia do Norte) e Israel.
O número é o mesmo que a Federação dos Cientistas Americanos (FAS, na sigla em inglês) apontou em seu último relatório, divulgado em março de 2023. A FAS classifica as ogivas israelenses como “armazenadas”, isso quer dizer que elas não estão prontas para uso, como é o caso das ogivas implementadas.
O levantamento do instituto apontou que existem no mundo, pelo menos, 12.512 ogivas nucleares até janeiro de 2023, quantidade superior às 12.426 ogivas registradas pelo Sipri em 2022. Veja no mapa abaixo onde estão localizadas cada bomba nuclear.
O Sipri apontou, ainda, que os programas de milhões de dólares que visam modernizar as bombas nucleares, como os dos Estados Unidos e da Rússia, levam os países a fugirem do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP), criado em 1968.
O TNP tem como objetivo impedir a propagação de armas nucleares e o desarmamento internacional, ao mesmo tempo que viabilizar a utilização pacífica da energia nuclear e promover o objetivo do desarmamento.
“Os países parecem se afastar cada vez mais do seu compromisso com o desarmamento nos termos do tratado”, diz Wilfred Wan, Diretor do Programa de Armas de Destruição em Massa do SIPRI, no documento.