
Humanizar o atendimento e acolher as mães que estão enfrentando o luto gestacional é o objetivo da Lei sancionada nesta semana. O g1 ouviu a vereadora autora da Lei, Joice Alvarenga, e também conversou com a psicóloga Cristine Strassburger. A Lei que está em vigor desde o dia 17 de abril exige que hospitais em Formiga, no Centro-Oeste de Minas, disponibilizem leitos isolados a mães que tiveram bebês natimortos (quando o bebê nasce sem batimentos cardíacos) ou mães que perderam seus bebês no parto.
A medida representa um avanço na humanização do atendimento hospitalar e no acolhimento a mulheres que enfrentam o luto gestacional ou neonatal. Atualmente, as mães que passam por essas perdas ficam na mesma ala hospitalar das mães que estão com seus bebês nos braços.
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Ao g1, a vereadora Joice Alvarenga (PT) explicou que convidou o vereador Thiago Pinheiro (PDT) para assinar o projeto de lei com ela. Alvarenga destaca que ouviu várias mulheres que passaram pela perda neonatal e diante da dor relatada por elas viu a necessidade de criar essa lei.
“É injusto que mães que acabaram de perder seus filhos tenham que dividir o mesmo espaço com aquelas que estão celebrando a vida. São emoções opostas, que se chocam de forma muito dolorosa”, destacou.
A lei estabelece que hospitais da rede pública e privada se adequem em 30 dias. Além disso, os hospitais deverão afixar nos corredores dos setores de maternidade informações sobre essa lei.
“Em Formiga, temos somente a Santa Casa que tem o setor de maternidade e o Centro Obstétrico, então a Lei vai valer especificamente para ela. Mas hoje, há Projetos de Lei de matérias idênticas tramitando no Senado e na Câmara dos Deputados, para que isso seja uma realidade em todo o país”, comenta Alvarenga.
Mulher grávida
TV Globo/Reprodução
Acolhimento psicológico
O g1 ouviu a psicóloga Cristine Strassburger, que ressaltou os benefícios da lei no psicológico dessas mães. Além disso, Cristina revelou à reportagem que também já passou por uma perda gestacional e sabe o quanto é delicado um momento como esse.
“Perdi meu bebê com 8 meses de gestação, tive o parto, mas ele nasceu morto. Fiquei em um quarto separado, mas na mesma ala, então eu ouvia os bebês das outras mães chorarem, via os outros pais passarem com seus bebês. Então é muito pesado”, conta Cristine.
Principalmente por já ter sentido na pele essa dor, a psicóloga afirma que a separação de leitos para mães enlutadas é uma medida essencial de acolhimento e cuidado emocional.
“O luto perinatal, que é a dor vivida pela perda de um bebê durante a gestação ou logo após o parto, é uma das experiências mais devastadoras que uma mulher pode enfrentar. Estar em um ambiente onde outras mães estão vivenciando o oposto — o nascimento e a alegria de ter o bebê nos braços — pode intensificar sentimentos de dor, solidão, inadequação e até mesmo culpa”, explica
Ainda segundo a profissional, o ambiente que a mãe está também tem um papel fundamental no processo do luto e da superação dele.
“Proporcionar um espaço reservado para essa mãe é oferecer um tempo de recolhimento, de dignidade e de respeito à sua dor. Não se trata de excluir, mas de proteger emocionalmente. Projetos como esses não apenas reconhecem o sofrimento dessas mulheres, como também validam esse luto, que muitas vezes é invisibilizado socialmente”, afirma.
Projeto de Lei em Divinópolis
Em Divinópolis, cidade que fica a 73 km de Formiga, um projeto semelhante está tramitando na Câmara de Vereadores. De autoria da vereadora Kell Silva, o projeto batizado de ‘Lei Pilar’ está previsto para ser votado na próxima semana.
A vereadora também viveu na pele a perda gestacional. Kell passou por quatro perdas gestacionais. Seus bebês tiveram complicações e nasceram mortos. Para ela, a implementação da Lei Pilar vem minimizar parte da dor que essas mães sentem.
“A maternidade é um momento único na vida da mulher, principalmente, quando você se prepara para isso, quando você escolhe ser mãe. Então, quando você tem um óbito fetal ou um bebê natimorto, todas as expetativas da mãe, do pai, da família, desaparecem. E você tem um luto que precisa ser lidado, cuidado”, ressalta.
Ainda segundo a vereadora, isolar essa mãe de outras é cuidar para que essa mulher viva o seu luto e que esse momento seja um pouco menos sofrido para ela.
“No momento que o Hospital acolhe essa mãe, a separa, deixa ela viver esse momento de dor, sem ter que presenciar a alegria que ela tanto queria, mas que virou dor, é um começo para que esse processo do luto seja favorecido. Não é fácil e também temos que falar do pai, porque ele também sofre e ele no primeiro momento é o apoio da mulher, então estando só os dois ali vivendo isso juntos é muito importante”, encerra
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