O Parkinson é a segunda doença neurodegenerativa mais comum no mundo, ficando atrás apenas do Alzheimer. Globalmente, são mais de 10 milhões de pessoas com a doença. No Brasil, esse número chega a 200 mil. Apesar da prevalência, ainda existem dúvidas acerca dela, como suas causas e a possibilidade de cura.
“Existe até um termo, que nos últimos anos tem sido muito falado, que é a ‘epidemia de Parkinson’. Tem uma estimativa que em 2040, a gente vai ter 17 milhões de pessoas acometidas pela doença”, afirma a neurologista Sara Casagrande, do Hospital das Clínicas.
Ela é uma das convidadas do Dr. Roberto Kalil, ao lado do professor Egberto Reis Barbosa, chefe do Ambulatório de Distúrbios do Movimento da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) para o “CNN Sinais Vitais – Dr. Kalil Entrevista” deste sábado (26).
No episódio desta semana — o segundo da série especial sobre o cérebro — Kalil conversou com os convidados a respeito dos sintomas. Ao contrário do que se imagina, os tremores não estão presentes em todos os casos de Parkinson. Já a lentidão é o sinal mais comum da doença.
“Lentidão é fundamental, é sintoma importante e obrigatório para o diagnóstico. O paciente tem lentidão na movimentação, normalmente de um lado do corpo. Então, a letra diminui, ele anda com menos movimentação de braço, a perna começa a ficar um pouquinho diferente para andar”, exemplifica Casagrande.
“Nesses últimos anos, foi identificada uma fase que é pré-motora, antes de surgirem as manifestações motoras. Nessa fase, você tem alterações do sono, depressão, obstipação intestinal, perda de olfato. Isso pode se arrastar durante anos, e o diagnóstico nunca é feito nessa fase. A suspeição vem quando aparece o quadro motor”, explica.
O professor explica que há estudos sendo feitos para tentar tratar pacientes na fase mais inicial da doença, antes dos sintomas motores.
Causa ainda não é definida e tratamento inclui atividade física
O Parkinson é uma doença neurodegenerativa relacionada à perda da dopamina, neurotransmissor que atua, entre outras funções, no controle motor. No entanto, a causa para a queda desse hormônio ainda não é totalmente conhecida.
Segundo Egberto Rei Barbosa, em geral, o Parkinson surge de uma combinação de fatores: ambientais, genéticos e o envelhecimento. “Em indivíduos mais jovens, você pensa mais em fatores genéticos. Quando começa mais tarde, a gente pensa mais em fatores ambientais”, explica.
Também não existe cura para o Parkinson. Uma vez diagnosticada a doença, o tratamento inclui a prática de atividade física. “A grande questão é que a gente não tem a medicação neuroprotetora. Você não entra com tratamento em paciente que não tem sintoma motor”, diz Casagrande. “Atividade física é o único tratamento que tem um impacto de neuroproteção. Se você tem diagnóstico, tem que fazer atividade física. Se não tem, mas tem história familiar ou outros riscos, atividade física é mandatório”, completa.
A alimentação também pode ter um efeito significativo no tratamento. “Quem toma café, tem menos chance de ter a doença. Em quem já tem a doença, o uso regular de café — três a quatro xícaras por dia — também oferece um efeito protetor. Outra coisa que, nesses últimos tempos, tem sido estudada é uma dieta próxima da dieta mediterrânea. Isso parece ter também um efeito protetor em relação ao aparecimento da doença”, afirma Barbosa.
Em casos específicos, também há a possibilidade de intervenção cirúrgica, a chamada “estimulação cerebral profunda”. “Essa cirurgia é indicada para aquele paciente que você já vem tratando e, após cinco, seis, oito anos de doença, começa a ter efeitos colaterais provocados pelo uso crônico da medicação. E os resultados cirúrgicos são bons. Você consegue oferecer uma qualidade de vida melhor por mais alguns anos para o paciente, do que se você continuasse só trabalhando com os medicamentos”, finaliza Barbosa.
O “CNN Sinais Vitais – Dr. Kalil Entrevista” vai ao ar no sábado, 26 de abril, às 19h30, na CNN Brasil.
Parkinson: como é o impacto do diagnóstico para os pacientes
Este conteúdo foi originalmente publicado em Kalil e convidados falam sobre possível “epidemia de Parkinson” no site CNN Brasil.