
O Paquistão anunciou nesta quinta-feira (24) o fechamento de seu espaço aéreo para companhias indianas, além da suspensão de todo o comércio bilateral — inclusive com países terceiros.
Segundo a agência de notícias Reuters, as medidas são uma retaliação ao governo de Nova Déli (Índia), que suspendeu unilateralmente o tratado de 1960 sobre o uso das águas do Rio Indo e fechou a única passagem terrestre entre os dois países.
A decisão indiana foi motivada por um ataque que deixou 26 mortos em uma área turística da Caxemira indiana, na última terça-feira (22), no episódio mais letal contra civis no país desde 2008.
Segundo a Reuters, a Índia atribuiu o atentado a “elementos transfronteiriços”, mas ainda não apresentou provas públicas. A polícia local divulgou nomes de três suspeitos, dois deles identificados como paquistaneses.
Em resposta, além das restrições comerciais e aéreas, Islamabad (Aeroporto Internacional do Paquistão) suspendeu a emissão de vistos especiais para cidadãos indianos e ameaçou congelar todos os acordos bilaterais com a Índia, incluindo o Acordo de Simla, firmado em 1972.
Este pacto estabelece as bases para o relacionamento entre os dois países e determina o respeito à linha de cessar-fogo na Caxemira.
Resposta do Paquistão
Ainda de acordo com a Reuters, o gabinete do primeiro-ministro paquistanês afirmou que essas medidas permanecerão enquanto Nova Déli continuar a “fomentar o terrorismo no Paquistão”.
O governo de Islamabad rejeitou “veementemente” a suspensão do Tratado das Águas do Indo e alertou que qualquer tentativa de desviar ou bloquear o curso do rio seria encarada como “ato de guerra”, prometendo responder “com todo o espectro do poder nacional”.
O tratado em questão, mediado pelo Banco Mundial, regula o uso compartilhado do Rio Indo e seus afluentes. Até então, havia resistido até mesmo a períodos de conflito aberto entre os dois países. O Paquistão depende fortemente dessas águas para irrigação e produção de energia elétrica.
A crise diplomática se agravou após o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, prometer que os responsáveis pelo ataque em Pahalgam, na Caxemira, seriam perseguidos e punidos.
“Eles cometeram o erro de atacar a alma da Índia. Aqueles que planejaram e executaram este ataque serão punidos além da sua imaginação”, afirmou Modi em um evento público, sem citar diretamente o Paquistão.
O premiê também convocou uma reunião com partidos da oposição para discutir a resposta do governo. No mesmo dia, manifestantes se concentraram em frente à embaixada do Paquistão em Nova Déli, entoando palavras de ordem contra o vizinho.
Segundo a mídia indiana, um filme com o ator paquistanês Fawad Khan, previsto para estrear no país, teve seu lançamento cancelado.
Ainda conforme a Reuters, as relações diplomáticas entre os dois países já estavam deterioradas desde 2019, quando a Índia revogou o status semiautônomo da Caxemira. Desde então, o Paquistão não manteve mais um embaixador em Nova Déli.
O ataque desta semana representa um revés para o discurso de estabilidade promovido pelo governo Modi, que buscava apresentar avanços na paz e no desenvolvimento da região.
Acusação indiana
A Índia acusa frequentemente o Paquistão de apoiar a insurgência na Caxemira, acusação que Islamabad nega, afirmando oferecer apenas suporte moral à causa pela autodeterminação.
Mais de 30 mil pessoas morreram desde o início da revolta na Caxemira, em 1989. Apesar de a violência ter diminuído nos últimos anos, o conflito continua latente.