Elon Musk diz que está retornando à Tesla, afastando-se, em parte, de seu papel de destaque e polêmico na administração Trump, que foi responsabilizado pela queda nos lucros e vendas da empresa.
A montadora relatou uma queda de 9% na receita, com a receita de automóveis recuando 20%. O lucro ajustado caiu 39%. Essas quedas foram maiores do que o previsto. Seu lucro líquido, a definição mais rigorosa de sua lucratividade, caiu 71% em relação ao ano anterior.
A Tesla alertou os investidores no início de abril que havia sofrido a maior queda nas vendas de sua história durante o primeiro trimestre, entregando 50.000 veículos a menos em comparação com os primeiros três meses do ano passado.
A queda nas vendas significou que a Tesla registrou as menores vendas em quase três anos.
O declínio é impressionante para uma empresa que até recentemente relatava um crescimento anual nas vendas entre 20% e 100% praticamente a cada trimestre, o que foi em grande parte responsável pelo alto preço de suas ações, que a fizeram valer mais do que qualquer outra montadora do mundo.
Musk disse aos investidores da Tesla nesta terça-feira (22) que reduziria seus esforços no Departamento de Eficiência Governamental (DOGE) para um ou dois dias por semana a partir do mês que vem.
“A partir do mês que vem, maio, meu tempo alocado para DOGE cairá significativamente”, disse Musk durante uma teleconferência de resultados da Tesla.
Mas Musk defendeu seu trabalho com o Departamento, dizendo que era necessário reduzir “desperdício e fraude” e pediu aos investidores que “olhassem além dos obstáculos e buracos imediatamente à nossa frente”.
Ele revelou a mudança depois que a Tesla informou que seu trimestre ficou muito aquém das previsões e que a escalada da guerra comercial estava prejudicando as perspectivas da empresa para o resto deste ano.
Embora a Tesla esteja menos exposta a tarifas do que a maioria das outras montadoras, ela disse que teria que rever suas diretrizes devido às atuais disputas comerciais.
“É difícil mensurar os impactos da mudança na política comercial global nas cadeias de suprimentos automotivas e de energia, em nossa estrutura de custos e na demanda por bens duráveis e serviços relacionados”, afirmou a empresa.
Trump impôs tarifas sobre importações de automóveis em 3 de abril e prometeu impor tarifas adicionais sobre peças nos próximos meses.
A Tesla fabrica os carros que vende nos Estados Unidos em fábricas americanas, portanto, está menos exposta a tarifas sobre carros importados do que outras grandes montadoras, mas importa peças para os carros que produz em suas fábricas norte-americanas.
Musk não culpou Trump especificamente pela incerteza sobre a política comercial, embora tenha tentado se distanciar do governo nessa questão.
“A decisão sobre tarifas cabe inteiramente ao presidente dos Estados Unidos”, disse ele. “Eu darei meu parecer. Já declarei muitas vezes que tarifas mais baixas são uma boa ideia para a prosperidade. Continuarei a defender tarifas mais baixas em vez de tarifas mais altas. É tudo o que posso fazer.”
Nas últimas semanas, analistas têm atribuído grande parte da culpa pela maior queda nas vendas da história da empresa ao papel controverso de Musk no governo Trump como chefe do DOGE, o que resultou em protestos em frente às concessionárias da Tesla e vandalismo em suas instalações.
Também houve uma queda acentuada nas vendas na Europa, onde Musk também se tornou politicamente ativo, apoiando partidos de extrema direita na Alemanha e no Reino Unido.
Musk alegou, sem apresentar nenhuma prova, que os manifestantes estavam protestando porque estavam recebendo o “desperdício e a fraude” que, segundo ele, o DOGE vinha eliminando. Ele também defendeu o trabalho do DOGE como o certo para o país e para a empresa.
“Acho que a coisa certa a fazer é combater o desperdício e a fraude e tentar colocar o país de volta no caminho certo”, disse ele. “Se o navio da América afundar, a Tesla irá junto.”
Ele também reconheceu que houve críticas ao tempo que passou no DOGE e não em seu trabalho à frente da Tesla. Mas disse que o trabalho de criação do DOGE está “praticamente concluído” e que agora ele pode se afastar e voltar a se concentrar na Tesla.
As ações da Tesla subiram 4% nas negociações após o expediente com o anúncio de Musk de que ele está se afastando do DOGE.
Musk também insistiu que a perspectiva de longo prazo para a Tesla é forte, apesar dos maus resultados no trimestre mais recente.
“O futuro da Tesla é mais brilhante do que nunca”, disse ele, afirmando que seus problemas não são nem de longe tão sérios quanto no passado.
Ele prometeu que o trabalho da Tesla em direção autônoma e robôs humanoides, que ainda não corresponderam às promessas anteriores de Musk, produziria um período de “abundância sustentável para todos”.
“Este é um futuro feliz”, ele prometeu.
As ações da Tesla quase dobraram de valor entre o dia da eleição e a máxima recorde em meados de dezembro, na esperança de que o novo governo implementasse políticas favoráveis à Tesla. Mas as ações perderam todo esse ganho pós-eleitoral, caindo 50% desde a máxima até o fechamento do pregão de terça-feira.
A empresa reafirmou que ainda planeja lançar “modelos mais acessíveis” até o final de junho, embora sua lista de capacidade para seus diversos modelos e fábricas não garanta a produção de tal modelo no restante deste ano.
A empresa também afirmou que seu “robotaxi” autônomo será lançado no próximo ano. A empresa prometeu que não terá volante, nem pedais de acelerador ou freio, e que um serviço inicial para viagens autônomas começará ainda nesta primavera.
Os problemas da Tesla não se devem apenas aos atrasos nos produtos, ao comércio e à resistência ao papel de Musk no governo Trump. A empresa também enfrenta uma concorrência cada vez maior de outras montadoras de veículos elétricos, incluindo as chinesas.
A montadora chinesa BYD, por exemplo, ultrapassou a Tesla em vendas de veículos elétricos por vários trimestres nos últimos anos, incluindo o primeiro trimestre deste ano, embora a Tesla sempre tenha mantido a liderança nas vendas anuais. Mas a Tesla está prestes a perder esse título em 2025, dadas as tendências atuais de vendas.
A China é o maior mercado para veículos elétricos e o segundo maior mercado da Tesla, depois dos Estados Unidos. As vendas na China não foram detalhadas no relatório de lucros de terça-feira.
Tarifas “recíprocas” de Trump não são o que parecem; entenda
Este conteúdo foi originalmente publicado em Tesla vê lucro despencar no 1º tri e soa alerta sobre guerra comercial no site CNN Brasil.