
A partir do pontificado de Jorge Mario Bergoglio, Igreja passou a ser contrária a execuções de qualquer natureza. Francisco também fez gestos conciliatórios a homossexuais, trouxe à pauta a crise climática e promoveu mudanças na administração do Vaticano. Papa Francisco
Bruno Miani/A Tribuna Jornal
O Papa Francisco mudou a concepção da Igreja Católica sobre a pena de morte, em qualquer condição, e passou a defender a abolição da prática em todo o mundo. Ele também tocou em temas sensíveis para o catolicismo e trouxe à pauta a crise climática, com o intuito de reaproximar a Igreja das pessoas.
É o que afirma Filipe Domingues em entrevista à edição especial do Assunto desta segunda-feira (21), data da morte de Jorge Mario Bergoglio. Domingues é doutor em ciências sociais pela Pontifícia Universidade Gregoriana e diretor do Lay Centre, uma residência em Roma para alunos das universidades católicas.
A mudança sobre a pena de morte foi a única doutrinal promovida por Francisco. Além dela, porém, fez inúmeros gestos de caráter pastoral, que dizem respeito à prática da vida no ambiente religioso. “Francisco deixava abertas todas as possibilidades de aproximação”, diz Domingues.
“Por exemplo, sobre a questão dos homossexuais, o papa autorizou que casais em ‘situações irregulares’ — casais homossexuais, pessoas que convivem na mesma casa sem serem casadas, casais divorciados em segunda união, entre outros — recebessem bençãos. Um gesto para ir ao encontro dessas pessoas, mostrando que elas também são bem-vindas. Se a pessoa vai até a Igreja, pede benção e a resposta é ‘não’, o laço de relação é cortado”.
Outro tema importante do pontificado de Francisco foi a questão ambiental. Domingues lembra que, o Acordo de Paris, de 2015, por exemplo, foi muito influenciado por uma encíclica, um documento escrito pela papa e direcionada a eclesiásticos, com apontamentos, opiniões e posicionamentos da Igreja perante assuntos de interesse global.
No mesmo ano da formulação do Acordo, Francisco assinou a encíclica Laudato si, com críticas ao consumismo desenfreado e com apelos ao combate à crise climática. Nela, ele aponta que não existem duas crises separadas, a social e a ambiental, mas uma única crise, em que os dois aspectos se entrelaçam.
Domingues lembra ainda da formulação da nova constituição da Cúria Romana, a administração central da Igreja no Vaticano. “Foi um trabalho de dez anos, feio com cardeais e grupos de estudo, até a promulgação da nova lei, em 2023”.
Entre outras reformas, o texto inaugura mudanças no regimento interno do Vaticano, como permitir que qualquer pessoa batizada assuma cargos de liderança na Cúria, sem a necessidade de ser padre ou cardeal.
As pessoas que queriam mudanças acham que papa não fez o bastante. Então, o papa Francisco era progressista em algumas pautas, conservador em outras.
Ouça a íntegra do episódio aqui.
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O podcast O Assunto é produzido por: Mônica Mariotti, Amanda Polato, Sarah Resende, Gabriel de Campos, Luiz Felipe Silva e Thiago Kaczuroski. Apresentação: Natuza Nery. Nesta semana na apresentação: Alan Severiano.
O adeus ao Papa Francisco
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