Em vida, papa Francisco criticou divórcios, mas estabeleceu exceções

O papa Francisco ganhou reconhecimento por equilibrar posturas progressistas e, ao mesmo tempo, tradicionais em questões familiares. Ao longo de seus 12 anos de pontificado, o pontífice acumulou rivalidades e críticas de diferentes lados do espectro ideológico.

No caso do matrimônio, um tema fundamental para a Igreja Católica e que já gerou divisões ao longo da história, a situação não foi diferente. Embora condenasse o divórcio, Francisco reconhecia exceções para a dissolução do casamento.

A questão do divórcio é uma das que mais enfureceram conservadores. No catolicismo o problema não é propriamente a separação de um casal, mas sim suas uniões posteriores, que fazem com que marido e mulher que se casaram de novo sejam considerados adúlteros e, portanto, proibidos de comungar.

Em uma audiência geral em agosto de 2018, na Praça São Pedro, o papa Francisco expressou sua visão sobre o fim do casamento, classificando “a moda do divórcio” como “uma coisa feia” e destacando que o ideal era a família unida.

“É uma moda, lemos até nas revistas: tal pessoa se divorciou. Por favor, isso é uma coisa feia. Eu respeito tudo, mas o ideal não é o divórcio, a separação, a destruição da família. O ideal é a família unida”, declarou Francisco durante uma audiência geral no Vaticano em agosto de 2018.

Ainda segundo o pontífice, a humanidade necessita do “amor duradouro” que “nos salva da solidão em meio às mentiras da cultura do momentâneo”.

Em outubro de 2024, em outra audiência geral no Vaticano, o papa afirmou: “As consequências dos matrimônios construídos sobre areia estão, infelizmente, sob os olhos de todos e quem paga são sobretudo os filhos… Os filhos sofrem com a separação e a falta de amor dos pais”, disse Francisco.

Essa declaração reflete a doutrina tradicional da Igreja Católica, que vê o casamento como uma união indissolúvel entre um homem e uma mulher. No entanto, Francisco também ressaltou, ao longo de seu pontificado, a importância de respeitar todas as situações, mesmo aquelas que não correspondiam ao ideal.

Antes de Francisco, o Código de Direito Canônico já permitia que um casal pedisse a declaração que seu casamento fosse considerado nulo. Mas o processo para reconhecer a nulidade do matrimônio era custoso e complexo burocraticamente.

O procedimento podia demorar até oito anos. O que Francisco fez foi simplificar esse trâmite, exigindo, por exemplo, que toda diocese possa iniciá-lo.

Exceções e misericórdia

Na exortação apostólica “Amoris Laetitia” (Alegria do Amor), um documento escrito por Francisco em 2016, o papa abordou a questão dos divorciados que voltam a se casar, enfatizando que essas pessoas não deveriam ser tratadas como excomungadas e poderiam continuar a fazer parte ativa da Igreja. Este documento deu a cada bispo o poder de decidir se pessoas que se separaram podem comungar.

O documento rendeu ao papa acusações de “heresia” por parte de dezenas de padres ultraconservadores e um questionamento público feito por quatro cardeais, incluindo o americano Raymond Leo Burke.

Além disso, Francisco reconheceu que, em alguns casos, a separação poderia ser “moralmente necessária”, especialmente quando havia violência ou exploração no lar.

Nos corredores do Vaticano, as visões de Francisco foram criticadas por cardeais e arcebispos que entendiam o comportamento do pontífice como um enfraquecimento das regras da Igreja.

“O mundo conservador carece de uma visão unificadora, algo que Bento XVI fornecia”, disse Sandro Magister, um autor conservador veterano, especialista na cobertura do Vaticano, meses depois da morte do papa anterior. “Ele [Bento] não tem herdeiro real, ninguém capaz de herdar seu legado de forma substancial.”

Agora, com a morte de Francisco, a Igreja Católica entra em um novo capítulo de sua história, e o futuro pontificado será observado atentamente por fiéis e especialistas ao redor do mundo.

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