Relembre a visita do papa Francisco ao Brasil

O papa Francisco visitou o Brasil pela primeira e única vez em julho de 2013, cerca de quatro meses após ser alçado pontífice. A passagem do líder da Igreja Católica pelo território brasileiro foi marcada por reflexões sobre o contexto da época.

O primeiro papa sul-americano assumiu a Igreja em um momento de denúncias de abusos sexuais e desvios de recursos. No Brasil, a tensão política foi responsável por diversas manifestações diante da presença do líder católico.

Francisco iniciou sua primeira visita ao Brasil chegando na Base Aérea do Galeão, no Rio de Janeiro, no dia 22 de julho de 2013. Ele foi recebido pela então presidenta Dilma Rousseff, marcando o início de sua participação na Jornada Mundial da Juventude (JMJ). Além de eventos na capital fluminense, ele também visitou o Santuário de Aparecida do Norte, no interior de São Paulo.

Chegada no Brasil

O papa discursou em português no Palácio Guanabara, após ser recebido pela presidente. Francisco também percorreu as ruas do centro do Rio no papamóvel, saudando os fiéis reunidos.

A chegada do papa foi marcada por tumulto e problemas de segurança, incluindo um engarrafamento na Avenida Presidente Vargas. O comboio que levava o pontífice ficou retido e uma multidão se aproximou do papa.

O próprio Francisco optou por não utilizar o papamóvel blindado, escolhendo um carro menor, com uma escolta mínima. Essa escolha refletiu seu desejo de maior proximidade com os fiéis.

Eventos e encontros

A passagem de Francisco no Brasil foi acompanhada por uma agenda cheia de encontros. Depois da cerimônia de boas-vindas no Palácio Guanabara, onde se encontrou com a presidente Dilma Rousseff e outras autoridades, o papa também participou de outros eventos.

O pontífice visitou a comunidade de Varginha, no Complexo de Manguinhos, onde fez uma oração em uma igreja evangélica da Assembleia de Deus. Ele ainda visitou a casa de uma família local. O papa também inaugurou um centro de atendimento para dependentes químicos no Hospital São Francisco, no bairro da Tijuca, zona norte do Rio de Janeiro.

Em sua mensagem de despedida, ele lembrou do encontro.

“Parto com a alma cheia de recordações felizes, essas, estou certo, que se tornarão oração. Neste momento, já começo a sentir saudades. Saudades do Brasil, deste povo tão grande e de grande coração, deste povo tão amoroso. Saudades do sorriso aberto e sincero que vi em tantas pessoas, saudades do entusiasmo dos voluntários. Saudades da esperança no olhar dos jovens no Hospital São Francisco. Saudades da fé e da alegria em meio à adversidade dos moradores de Varginha”, disse o papa antes de partir para Roma.

A visita ao Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida incluiu uma missa e bênçãos aos mais de 200 mil fiéis. O papa também se reuniu com religiosos da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) e com o Celam (Conselho Episcopal Latino-Americano).

A praia de Copacabana foi palco de eventos importantes da Jornada Mundial da Juventude, como a encenação da Via Sacra e a Festa da Acolhida, onde o papa Francisco falou aos jovens.

O Riocentro sediou o último encontro do papa Francisco com os voluntários do evento, onde expressou sua gratidão pela colaboração. A Missa de Envio, com aproximadamente três milhões de pessoas em Copacabana, marcou o encerramento da Jornada Mundial da Juventude.

Diálogo com a juventude

Impulsionado pela perda de adesão ao catolicismo do público mais jovem, Francisco tinha como principal destino, no Brasil, participar da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), evento anual que reúne jovens fiéis.
“A Igreja conta com vocês e o papa conta com vocês”, disse o papa.

Ele conclamou os jovens a serem revolucionários, indo contra a cultura do provisório e buscando a felicidade. Francisco desafiou os jovens a derrubar as barreiras do egoísmo, do ódio e da intolerância.

“Peço que vocês sejam revolucionários, peço para vocês irem contra a corrente, peço que se rebelem contra essa cultura do provisório. Tenho confiança em vocês em irem contra a corrente. Também tenham a coragem de ser felizes”, afirmou Francisco.

Como parte da agenda, o papa almoçou com jovens na sede da Arquidiocese do Rio.

Antes de voltar a Roma, Francisco participou de uma cerimônia de confissões de jovens na Quinta da Boa Vista e de um encontro com presidiários no Palácio São Joaquim.

Manifestações

A viagem ao Brasil também foi marcada por manifestações de grupos que criticavam os gastos públicos na jornada da juventude e defendiam outras pautas, como os direitos da comunidade LGBT e a legalização do aborto.

Um dos protestos foi um “beijaço gay” em frente à Igreja Nossa Senhora da Glória, no Largo do Machado, na zona sul do Rio de Janeiro. O ato iniciou uma série de manifestações diante da presença da autoridade católica.

Em outra manifestação, centenas de pessoas se reuniram na “Marcha das Vadias”, na orla de Copacabana, na zona sul do Rio de Janeiro. A manifestação aconteceu simultaneamente à vigília dos peregrinos da Jornada Mundial da Juventude (JMJ). As principais reivindicações da marcha incluíam o combate ao preconceito contra homossexuais, o enfrentamento da violência contra mulheres e a legalização do aborto.

Muitos participantes também aproveitaram para criticar a Igreja Católica. A ONG Católicas pelo Direito de Decidir distribuiu uma carta aberta ao papa Francisco solicitando mudanças na Igreja, como a revogação da condenação ao aborto e a bênção para a união de casais do mesmo sexo.

“Viemos apresentar um contra-discurso e demonstrar que a posição do papa e do Vaticano não é a única. Queremos transmitir essa mensagem para que as pessoas [que estão na JMJ] reflitam e se unam a nós”, declarou Kelly de Oliveira, representante da ONG.

O papa Francisco mencionou as manifestações em seus discursos, enfatizando a importância do diálogo construtivo e do respeito à laicidade do Estado. Ele ressaltou que o diálogo é uma alternativa entre a indiferença egoísta e os protestos violentos.

“Entre a indiferença egoísta e os protestos violentos sempre há uma opção possível: o diálogo, o diálogo entre as gerações, o diálogo entre o povo e todos somos povo, a capacidade de dar e receber, permanecendo abertos à verdade. Um país cresce quando suas diversas riquezas culturais dialogam de maneira construtiva”, disse Francisco.

Durante sua passagem pela Basílica de Aparecida, no estado de São Paulo, a Justiça concedeu liminar para impedir que manifestações bloqueassem a rodovia Presidente Dutra. Cartazes ligados a protestos foram proibidos nas proximidades da igreja.

Esquema de Segurança

A visita do líder religioso no Brasil foi marcada por uma complexa interação entre manifestações diversas e um robusto esquema de segurança.

Um grande contingente de forças de segurança foi mobilizado para garantir a segurança do papa. Mais de 20 mil agentes e militares trabalharam na defesa e na segurança pública, durante a semana em que permaneceu no Brasil. Em Aparecida (SP), o efetivo para o evento foi de dois mil homens, além de contingentes do Exército e da Polícia Federal.

Durante a passagem pelo Rio de Janeiro, a Marinha intensificou a segurança na orla e na Baía de Guanabara. O Exército organizou a segurança em locais com grande fluxo de peregrinos, incluindo a Central do Brasil, as avenidas Presidente Vargas e Rio Branco, o Aterro do Flamengo e a Praia de Copacabana.

As tropas de operações especiais realizaram inspeções para defesa contra ameaças químicas, biológicas, radiológicas e nucleares, além de se envolverem em ações de prevenção e combate ao terrorismo.

Apesar das medidas de segurança implementadas, ocorreram incidentes, como o congestionamento na chegada do papa e a descoberta de uma bomba caseira no Santuário de Aparecida.

O prefeito do Rio de Janeiro na época, Eduardo Paes, reconheceu as falhas na segurança durante a chegada do papa.

Este conteúdo foi originalmente publicado em Relembre a visita do papa Francisco ao Brasil no site CNN Brasil.

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