A guerra comercial entre Estados Unidos e China é, na verdade, um conflito por hegemonia global, segundo avaliação do coordenador-geral do Grupo de Análise de Estratégia Internacional em Defesa, Segurança e Inteligência da Universidade de São Paulo (DSI-USP), Alberto Pfeifer.
Segundo Pfeifer, as ações de Donald Trump, frequentemente descritas como uma “montanha-russa de tarifas”, revelam uma estratégia mais profunda do que simplesmente disputas comerciais.
O especialista argumenta que o objetivo real dos Estados Unidos é conter o avanço da China no cenário internacional. “Não é uma guerra comercial, ela tem uma outra dimensão, é um conflito hegemônico, um conflito já estratégico”, afirma.
“Mas é muito certo o que Trump pretende fazer. Ele quer conter a China. É tão simples quanto isso. O que não é simples de entender é como fazer, a tática que ele vai entregar. Ele [Trump] vem com tentativa e erro. Foi essa a opção dele, é assim que ele aprendeu a negociar, a agir no mundo dos negócios. Primeiro ele chuta o ‘pau da barraca’, destrói tudo, bagunça tudo, para depois juntar os cacos e ver o que dá para fazer”, complementa.
Apesar da aparente instabilidade causada por essas ações, Pfeifer ressalta que esta estratégia não é exclusiva de Trump ou do Partido Republicano, mas reflete um consenso bipartidário nos Estados Unidos.
“No fundo, o que ele [Trump] quer, não apenas o Trump, mas o que o Partido Republicano quer, o que o Partido Democrata quer, o que os Estados Unidos querem, enfim, há vários governos, é conter o avanço chinês, parar com a possibilidade de a China de disputar hegemonicamente o controle das relações internacionais com os Estados Unidos”, explica.
Objetivos divergentes: EUA vs. China
Enquanto os Estados Unidos buscam manter sua posição dominante nas relações internacionais, a China, segundo o analista, não almeja necessariamente uma hegemonia global. O foco do governo chinês estaria mais voltado para a manutenção da coesão interna e a segurança de sua população, garantindo acesso a recursos essenciais.
“A China não quer ser hegemônica no mundo, ela quer manter a sua coesão interna e a segurança da sua população com acesso aos bens necessários, alimentos, energia, recursos minerais essenciais para manter a paz social”, conclui o especialista, destacando a complexidade interna da China como um “amálgama de culturas, de nacionalidades, de religiões”.
Este conteúdo foi originalmente publicado em Disputa tarifária EUA-China é por hegemonia global, diz Alberto Pfeifer no site CNN Brasil.