O professor laureado, ou seja, um acadêmico homenageado por seu desempenho, que trabalha com diagnóstico precoce de ELA, Esclerose Lateral Amiotrófica, é um dos vários pesquisadores da Universidade de Harvard que receberam ordens de paralisação após o governo Trump congelar mais de US$ 2,2 bilhões em financiamento devido à recusa da universidade em atender às exigências políticas.
David Walt, professor da Escola Médica de Harvard e do Hospital Brigham and Women’s, relatou ter recebido um e-mail na terça-feira (15) do Departamento de Saúde e Serviços Humanos informando que o financiamento para uma bolsa de pesquisa sobre ELA estava sendo imediatamente cancelado.
“Este cancelamento custará vidas”, exclamou Walt a Richard Quest, da CNN.
O projeto do acadêmico se concentrou no diagnóstico precoce e nas opções de tratamento para ELA, também conhecida como Doença de Lou Gehrig, uma condição do neurônio motor que causa paralisia e afeta cerca de 30 mil pessoas nos Estados Unidos.
Sua bolsa valia mais de US$ 300.000 por ano, segundo o jornal estudantil Harvard Crimson.
O cancelamento do projeto ocorre após o governo Trump anunciar, na segunda-feira (14), que congelaria US$ 2,2 bilhões em bolsas plurianuais e US$ 60 milhões em contratos plurianuais em Harvard, após a instituição se recusar a atender às exigências para eliminar programas de diversidade, equidade e inclusão (DEI), proibir o uso de máscaras em protestos no campus e garantir práticas de contratação baseadas no mérito, entre outras medidas.
O reitor de Harvard, Alan M. Garber, declarou que a universidade não “renunciaria à sua independência ou aos seus direitos constitucionais” ao aceitar o acordo, que a Casa Branca enquadrou como um esforço para coibir o antissemitismo nos campi universitários.
Como muitas universidades, Harvard recebe financiamento do governo dos EUA para pesquisa e inovação.
O financiamento federal é a maior fonte de apoio à pesquisa da instituição de ensino, contribuindo com 58% da receita total patrocinada durante o ano fiscal de 2024, conforme a universidade.
O governo Trump tem criticado universidades e faculdades em todos os Estados Unidos, encerrando ou exigindo novas condições para bolsas de pesquisa, deportando estudantes internacionais e cortando o apoio federal geral à pesquisa científica.
Harvard está entre as primeiras instituições de elite a rejeitar diretamente as exigências da Casa Branca, embora outras também tenham demonstrado apoio a universidade após a instituição tornar pública sua posição.

As consequências na universidade da Ivy League foram rápidas — e as consequências serão enormes, alertaram cientistas.
“Isso terá consequências devastadoras para a inovação, educação e economia nos próximos anos”,
disse Walt.
Segundo ele, “os EUA, na minha opinião, estão cedendo nossa liderança em ciência e tecnologia para a China e outros países.”
Há poucos meses, Walt foi laureado com a Medalha Nacional de Tecnologia e Inovação, a mais alta honraria em sua área, concedida pelo presidente dos EUA.
Além do trabalho com a Esclerose Lateral Amiotrófica, o laboratório do professor atua na detecção precoce de doenças neurodegenerativas, câncer e outras doenças infecciosas, para descobrir novos medicamentos com potencial para cura.
“Se conseguirmos resolver qualquer um desses problemas, isso beneficiará muitos, muitos pacientes”, explicou ele. “Tirar essa oportunidade de mim e de outros pesquisadores dedicados, na minha opinião, é uma farsa.”
A Casa Branca redobrou a aposta na terça-feira (15), ameaçando revogar a posição de isenção fiscal da universidade e enfatizando que o presidente Donald Trump “queria que Harvard se desculpasse” pelo “antissemitismo flagrante que ocorreu em seu campus universitário contra estudantes judeus-americanos”.
Ainda não está claro quantos programas no total serão afetados pelo congelamento de verbas — mas os primeiros relatórios sugerem que milhões de dólares em financiamento para pesquisas médicas que salvam vidas já foram cortados.
Outras pesquisas afetadas
Entre os projetos afetados, o professor Donald E. Ingber recebeu duas ordens de paralisação de contratos para o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento Biomédico Avançado, que desenvolve vacinas, medicamentos, terapias e ferramentas de diagnóstico para emergências de saúde pública, informou seu assistente à CNN.
Um dos contratos rescindidos vale mais de US$ 15 milhões, segundo o Crimson.
Sarah Fortune, professora da Escola de Saúde Pública de Harvard, recebeu uma ordem de paralisação de sua pesquisa sobre tuberculose, segundo uma fonte da instituição com conhecimento das informações.
A pesquisa faz parte de um contrato de US$ 60 milhões do Instituto Nacional de Saúde (NIH) envolvendo Harvard e outras universidades dos EUA, relatou a fonte.
Na sexta-feira (11), antes do anúncio do congelamento do financiamento, um grupo de professores de Harvard processou o governo Trump para bloquear uma revisão de quase US$ 9 bilhões em verbas federais para a instituição de ensino.
A ação, movida pela filial de Harvard da Associação Americana de Professores Universitários, juntamente com a organização nacional, alertou que as ações da Casa Branca “já causaram danos graves e irreparáveis ao interromper pesquisas e investigações acadêmicas em Harvard, incluindo áreas que não têm qualquer relação com acusações de antissemitismo ou outras violações de direitos civis”.
Este conteúdo foi originalmente publicado em Pesquisador premiado tem bolsa cancelada após cortes de Trump em Harvard no site CNN Brasil.