MPPA cobra PM sobre operação na casa de poeta paraense que terminou com morte e tortura em Belém


Membro da Academia Paraense de Cordel, poeta Ubiraci Conceição teve casa alvo de ação policial, um familiar morto e neto, torturado. Familiares denunciam abuso policial e falta de mandado. MPPA e Alepa acompanham o caso. Ação da PM resulta em morte e suspeita de tortura; MP e Alepa cobram investigação
Reprodução/Redes sociais
A Promotoria de Justiça Militar solicitou informações à PM sobre uma operação feita na casa de um poeta paraense, em Belém. No último dia de março, policiais entraram na residência de Ubiraci Conceição, mataram um familiar e torturaram por 30 minutos seu neto.
Segundo a 1ª Promotoria de Justiça Militar, do Ministério Público do Estado, um ofício foi encaminhado à polícia no dia 4 de abril pedindo “informações sobre a existência de procedimento investigatório em andamento acerca dos fatos”.
A Promotoria afirmou que, caso as autoridades policiais do Pará não tenham adotado nenhuma investigação sobre o caso, que seja instaurado um “Inquérito Policial Militar para a devida apuração” do que aconteceu com a família do poeta.
A Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Pará (Alepa) também acompanha o caso e disse que “solicitou providências para assegurar a apuração rigorosa dos fatos e a responsabilização dos eventuais culpados”.
Segundo o presidente da Comissão, deputado Carlos Bordalo (PT), ofícios foram enviados ao Comandante-Geral da Polícia Militar do Pará, Dilson Júnior, e ao secretário de Segurança Pública e Defesa Social (Segup), Ualame Machado, para apuração e responsabilização dos fatos.
O g1 solicitou um posicionamento à Polícia Militar e à Segup para saber se providências foram tomadas, mas até a publicação desta reportagem não recebeu retorno. As comissões de Segurança Pública e de Direitos Humanos da OAB-PA foram procuradas, mas não se manifestaram.
Ubiraci Conceição tem 71 anos e nasceu na cidade de Breves, no Marajó. Ele é membro da Academia Paraense de Literatura de Cordel, produzindo poemas sobre a região marajoara.
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Ameaças à família
Antes da operação na casa do poeta, no dia 31 de março, policiais militares foram entre três a quatro vezes à residência de Ubiraci em busca de uma pessoa chamada “Davi”.
Segundo Ubiraci, os policiais tinham um mandado de prisão contra “Davi”, no qual constava o endereço da casa do poeta.
O idoso conta que mora em um local dividido em seis compartimentos, ocupados por filhos e netos. Segundo Ubiraci, uma pessoa chamada “Davi”, que não tem parentesco com ninguém da família, chegou a viver em um desses compartimentos dez anos atrás.
Policiais foram até a casa do poeta dias antes da operação policial.
Reprodução
Em uma última abordagem antes da operação principal, os policiais tentaram entrar na casa de Ubiraci em busca de “Davi”. O idoso não permitiu e os PMs ameaçaram voltar.
“Eles prometeram que iam voltar e entrar em casa. Eles fizeram essa ameaça: ‘espera que nós vamos voltar e nós vamos entrar na sua casa’”, disse o poeta.
Operação policial e morte do marido da neta
Em 31 de março, por volta das 16 horas, cerca de dez viaturas e mais de 30 policiais da Polícia Militar e do Batalhão de Rondas Ostensivas Motorizadas (Rotam) chegaram à casa do poeta.
De acordo com Ubiraci, sem apresentar um mandado que justificasse a entrada na sua casa, os policiais começaram a revistar o local e não deixaram ninguém da família sair.
“Quando eu disse que eles não iam entrar na minha casa, que não tinham mandado para isso, teve um policial que empurrou a mim e minha esposa”, lembra.
O idoso diz que, durante a chegada da polícia, o marido da sua neta decidiu correr e pular um muro que dá acesso à casa da irmã de Ubiraci, que fica em outra rua.
Os policiais o seguiram até os fundos da casa e a família só ouviu os tiros. Segundo o poeta, o marido da neta foi morto com cerca de seis tiros.
Família de poeta paraense denuncia abuso policial, em Belém
A polícia alegou à família de Ubiraci que houve troca de tiros, mas o idoso afirma que o familiar morto não estava armado.
“A gente queria ir para trás da casa para ver o que estava acontecendo. Aí eles cercaram, não deixaram ninguém passar. O marido da minha neta já estava morto e a gente nem sabia”, conta.
Após o tiroteio, os policiais colocaram o homem em uma rede e o jogaram dentro de uma viatura. A família alega que o Samu não foi chamado.
Tortura por 30 minutos
Ubiraci diz que, depois que o marido da neta já estava morto, os policiais começaram a revistar os compartimentos da casa. Fizeram uma primeira vistoria e não encontraram nada.
Em determinado momento, o neto de Ubiraci pulou entre os compartimentos da casa (as paredes não chegam até o teto) e chegou até o quarto onde estava o poeta.
“Em uma segunda vistoria, os policiais encontraram meu neto e eu não sabia que ele estava lá. Eles começaram a dizer que eu estava escondendo bandido, mas eu não vi quando meu neto chegou”, afirma.
Após encontrarem o neto do idoso, os policiais militares do Pará começaram a torturá-lo. Os PMs molharam lençóis com água e colocaram no rosto e na cabeça do neto do poeta durante mais de meia hora, na frente da própria família, informou Ubiraci.
“Eles ficaram dentro de casa, a gente não podia entrar. Fecharam a porta, botaram a gente para fora e ficaram só com meu neto. Aí depois disso, apareceu droga. E a gente, eu não uso droga, não trabalho com droga”, diz Ubiraci.
Segundo Ubiraci, o neto responde a processo criminal. Um aparelho com câmera de monitoramento foi arrancado pelos policiais e a família foi obrigada a entregar os celulares. Os telefones foram devolvidos após o fim da operação sem os chips.
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