Uma estudante do curso de Medicina da Universidade Federal do Acre (Ufac), identificada como Assúria Nascimento de Mesquita, de 20 anos, causou indignação ao divulgar uma série de comentários depreciativos e xenófobos em relação aos acreanos na última quarta-feira (9).
As publicações da aluna rapidamente se espalharam pela plataforma X (antigo ‘Twitter’), gerando uma onda de repúdio e motivando a atuação do Ministério Público do Estado do Acre (MPAC).
A jovem é filha de Assurbanípal Mesquita, atual secretário de Indústria, Ciência e Tecnologia do Acre (Seict). Sua trajetória acadêmica na Ufac teve início em 2022, quando ingressou no curso de Medicina através da segunda edição do Sistema de Seleção Unificada (SiSU).
Em suas postagens, a estudante expressou opiniões como considerar um elogio ser confundida com alguém de fora do estado por ser julgada “bonita e diferente o bastante para não ter nascido no acril (sic)”. Em outras ocasiões, afirmou ter “asco de acreanos” e manifestou o desejo de nunca mais precisar olhar para esse “povo tão seboso”.
Em um dos comentários, Assúria chegou a declarar que “a coisa que mais amo no meu namorado é que ele não é acreano”. A repercussão das falas da estudante foi imediata e provocou uma forte reação por parte dos alunos e da comunidade acreana.
Veja os posts na íntegra:

Diante da crescente repercussão negativa, Assurbanípal Mesquita, pai de Assúria, divulgou uma nota pública expressando sua solidariedade aos que se sentiram ofendidos e distanciando sua família das opiniões manifestadas pela filha. O secretário informou que teve uma longa conversa com Assúria, que demonstrou profundo arrependimento.
O Ministério Público do Estado do Acre (MPAC), por meio da Promotoria Especializada de Defesa dos Direitos Humanos e da Cidadania, tomou providências diante do caso, instaurando uma notícia de fato criminal e requisitando a abertura de inquérito policial para apurar a natureza discriminatória dos comentários.
O promotor de Justiça Thalles Ferreira enfatizou que o objetivo da investigação é apurar as circunstâncias e motivações por trás das declarações, bem como verificar se o caso configura crime de xenofobia. Ele citou a decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ), que considera crime de racismo a discriminação de brasileiros em virtude de sua origem nacional. O MPAC estabeleceu um prazo de dez dias para a instauração do inquérito policial.
A Atlética Sinistra, entidade representativa dos estudantes de Medicina da Ufac, também se manifestou publicamente, emitindo uma nota de total repúdio às manifestações preconceituosas. A Atlética reforçou seu compromisso com um ambiente universitário inclusivo e o dever ético dos futuros profissionais da saúde de combater todas as formas de preconceito.
De forma semelhante, o Diretório Central dos Estudantes da Universidade Federal do Acre publicou uma nota de repúdio veemente às declarações xenofóbicas, classificando-as como inadmissíveis e ofensivas à cultura acreana. O DCE exigiu que a UFAC adote medidas institucionais cabíveis e que o caso seja acompanhado pelas instâncias legais competentes, solidarizando-se com os estudantes e cidadãos acreanos que se sentiram atingidos pelas falas da estudante.
A CNN tenta contato com a estudante Assúria Nascimento de Mesquita, e o espaço segue aberto.
*Sob supervisão
Este conteúdo foi originalmente publicado em “Asco de acreanos”: MP investiga filha de secretário após posts xenofóbicos no site CNN Brasil.