
Um novo vídeo promocional da principal companhia aérea israelense, a El Al, aborda de forma bem-humorada o desconforto vivido atualmente pelos israelenses durante viagens ao exterior. No vídeo, o cantor Hanan Ben Ari, figura conhecida em Israel, viaja com um amigo e se vê em situações constrangedoras em diferentes contextos. Para os taxistas, evita dizer que é de Israel; em um jogo de futebol, esquece-se da regra de não torcer em hebraico; na Starbucks, fornece um nome que não revele sua identidade judaica.
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A trilha sonora reforça a mensagem afirmando que, na El Al, “podemos ser simplesmente nós mesmos, sem nos desculpar”.
Pois, veja só, essa é justamente a situação que judeus — e israelenses (tão facilmente identificáveis) — enfrentam atualmente pelo mundo: escondem sua identidade para evitar confrontos, constrangimentos ou até mesmo situações de risco real. E isso não é um exagero: basta lembrar o pogrom ocorrido em Amsterdã, em novembro de 2024 (veja aqui), ou o episódio recente em que o ex-primeiro-ministro Naftali Bennett foi agredido verbalmente por manifestantes pró-palestinos durante uma palestra na Princeton University, nos Estados Unidos (assista aqui).

De forma muito semelhante (ainda que menos ostensiva, por ora) ao que ocorreu na Europa nos anos 1930, judeus agora checam com cuidado a cidade de destino e procuram “disfarçar-se” o suficiente para manter uma distância segura daqueles que os hostilizam — no passado, por causa de sua religião; hoje, alegadamente, por causa da guerra entre Israel e Gaza.
O globo diminuiu de tamanho
Uma tradição entre os jovens israelenses é fazer uma longa viagem após o serviço militar — dois anos para mulheres e três para homens. Os destinos preferidos são, geralmente, Ásia e América do Sul, por serem mais acessíveis financeiramente. Antes, era também uma oportunidade de integração com outros viajantes. Hoje, não mais: o receio quanto à reação alheia ao saber que se tratam de jovens que serviram na guerra em Gaza fala mais alto.
Para outros públicos, o globo também ficou menor desde o início do conflito. Além dos países que proíbem a entrada de israelenses — como Maldivas, Malásia e Catar —, há agora destinos onde manifestações de antissemitismo se tornaram tão evidentes que simplesmente não vale o risco. Em cidades como Londres ou Paris, turistas judeus evitam usar símbolos religiosos ou falar hebraico em público.
Portanto, o vídeo da El Al capta com precisão o sentimento atual do judeu no mundo: cautela, estranhamento e, muitas vezes, medo. Uma realidade bem distinta da vivida por cidadãos de outros países em guerra, como a Ucrânia, a Rússia ou o Congo, que, em geral, não enfrentam esse tipo de hostilidade por sua nacionalidade.
Isso não é antissionismo: é antissemitismo em sua forma mais explícita.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal iG