Como as tarifas de Trump devem afetar a economia dos brasileiros?

Ainda que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tenha recuado das tarifas globais, o novo regime pode impactar diretamente o bolso dos brasileiros.

O republicano afirmou nesta quarta-feira (9) que limitará suas tarifas recíprocas a 10% por um prazo de 90 dias. Ao mesmo tempo, ele anunciou que aumentaria as taxas de importação sobre a China para 125%, intensificando a guerra comercial com Pequim.

Em postagem na sua rede social, Truth Social, o republicano afirmou que as medidas entram em vigor imediatamente.

Para analistas ouvidos pela CNN, o Brasil pode sofrer com o clima de incerteza que ainda paira nos mercados globais.

Por outro lado, a medida também abre oportunidade ao tornar produtos brasileiros mais competitivos frente outros países.

Impacto nos juros

O cenário de incerteza tende a tirar dólares de ativos de risco, como bolsas de países emergentes, com investidores buscando portos mais seguros.

O Brasil registrou a saída líquida de US$ 8,297 bilhões no mês de março, segundo dados divulgados pelo Banco Central (BC) nesta quarta-feira (9).

Com o resultado, foi superado o saldo líquido negativo de US$ 6,6 bilhões de março de 2020, registrado no início da pandemia de Covid-19, até então o pior para o mês desde a série histórica iniciada em 1982.

O movimento de saída da divisa norte-americana ajuda a pressionar a inflação — que já está acima do teto da meta perseguida pelo BC —, impactando diretamente nos preços praticados no país.

O cenário dificulta a tarefa do BC em trazer a inflação para meta, tendendo a manter juros, já em 14,25% ao ano — maior patamar desde 2016 —, pressionados.

E o cenário internacional foi um dos motivos apontados pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do BC como desafios da política monetária.

Na ata do último encontro, o colegiado frisou: “O ambiente externo permanece desafiador em função da conjuntura e da política econômica nos Estados Unidos”.

Risco de recessão

Para o economista da Way Investimentos e coordenador de Economia da ESPM, Alexandre Espírito Santo, a trégua anunciada por Trump não traz alívio suficiente.

“O que vem ocorrendo não é bom para ninguém”, diz.

Na mesma direção, a economista e coordenadora do Insper One, Juliana Inhasz, diz que o Brasil tende a ser afetado negativamente com as incertezas globais.

A situação pode ficar ainda pior caso a economia dos Estados Unidos entre em recessão — quadro que perdeu força nesta quarta após o anúncio de Trump.

Uma possível crise na maior economia do mundo teria efeitos globais, refletindo em menor crescimento da economia de todo o mundo.

“Caso a recessão se instale na economia americana e se alastre mundo afora, poderemos ter também uma redução da venda de produtos brasileiros ao resto do mundo, refletindo um mundo crescendo menos”, ressalta a economista.

Além de sofrer com a perda de fôlego das atividades globais, o Brasil seria especialmente afetado pelo grande peso que a exportação de commodities tem na balança comercial.

Em valores, os produtos mais exportados pelo Brasil em 2024 foram óleos brutos de petróleo ou de minerais, com US$ 44 bi, soja, US$ 42 bi, e minério de ferro e concentrados, US$ 29 bi, de acordo com dados da Secretaria de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços.

“O Brasil produz commodities agrícolas, petróleo e minério de ferro, que perdem preço se o mundo entrar em recessão. Isso nos prejudica”, diz Espírito Santo.

Copo meio cheio

Por outro lado, o cenário também pode trazer oportunidades ao Brasil. A visão do “copo meio cheio” é baseada justamente na balança comercial.

Como o Brasil é um grande exportador, o afastamento de países do comércio com os EUA em retaliação às tarifas podem acabar auxiliando nas contas domésticas.

“Novos mercados poderão fortalecer as conexões comerciais brasileiras, impulsionando, em cenários específicos, o crescimento econômico”, diz Inhasz.

Acordos com todos

Trump disse que pretende fazer “acordos justos para todos” após anunciar uma pausa completa de três meses em todas as tarifas “recíprocas”, com exceção da China.

Mais cedo, o secretário do Tesouro dos EUA afirmou que a decisão de Trump de suspender as tarifas permitirá tempo para negociar novos acordos comerciais.

“Um acordo será feito com a China. Esse acordo será feito com cada um deles, e serão acordos justos. Eu só quero justiça. Serão acordos justos para todos. Mas eles não eram justos com os Estados Unidos”, disse Trump a repórteres em frente à Casa Branca.

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*Com CNN Internacional

Este conteúdo foi originalmente publicado em Como as tarifas de Trump devem afetar a economia dos brasileiros? no site CNN Brasil.

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