Veja o que se sabe sobre as máquinas de cigarro que desapareceram no depósito da Polícia Civil do RJ

MPF e Polícia Civil divergem sobre o material apreendido da máfia dos cigarros. Autoridades têm versões diferentes sobre máquinas de cigarros que estavam na Cidade da Polícia
A localização de parte das máquinas de uma fábrica de cigarro apreendidas em uma operação da Polícia Civil e do Ministério Público do Trabalho, em 2022, ainda é um mistério. As autoridades ainda tentam entender a maneira de como os equipamentos deixaram o depósito da Cidade da Polícia, na Zona Norte do Rio de Janeiro – o que foi descoberto em 2023.
Após ouvir as instituições e buscar os autos do processo que investiga a quadrilha de Adilson Coutinho Filho, o Adilsinho, o RJ2 mostrou o que se sabe até o momento do caminho das máquinas de fábricas clandestinas de cigarro.
Em julho de 2022, a Polícia Federal apreendeu 6 máquinas da quadrilha do bicheiro Adilson Oliveira Coutinho Filho, o Adilsinho.
As máquinas são:
Uma elaboradora de cigarros de 5 toneladas
Três embaladoras
Uma encelofanadora
Um compressos industrial
Os itens são estimados, no total, em pouco mais de R$ 1 milhão. A maior máquina, a elaboradora, tem seis metros de comprimento e pesa 5,7 toneladas.
Foi determinado que as máquinas ficassem no depósito da Cidade da Polícia enquanto não se realizava o leilão dos equipamentos, com a finalidade de indenizar trabalhadores em regime análogo à escravidão que foram flagrados nas fábricas de Adilsinho .
Ao todo, três fábricas (duas em Duque de Caxias e uma de Paty de Alferes) foram descobertas entre 2022 e 2024, com 49 trabalhadores, todos paraguaios. Mas a questão envolvendo as máquinas trata da operação de 2022.
O leilão conseguiu vender todos os equipamentos. A Polícia Federal suspeitava de quem poderia arrematá-los.
Em uma ação com a Subsecretaria de Inteligência da Polícia Civil, chips de rastreamento foram colocados em duas máquinas para se chegar aos verdadeiros compradores.
O RJ2 apurou que os investigadores encontraram os equipamentos, no depósito da Cidade da Polícia, desmontados e optaram por rastrear as maiores peças.
A partir dos dados dos chips e de informações que constam em processos judiciais que tratam do maquinário foi possível identificar até agora que uma máquina elaboradora foi furtada da Cidade da Polícia em fevereiro de 2023, às vésperas do Carnaval. Esse equipamento não foi encontrado até o momento.
Um dos outros itens, que tinha o chip de rastreamento era uma máquina do tipo encelofanadora, que serve para envolver o maço do cigarro com papel celofane.
As investigações mostram que ela foi comprada e retirada da Cidade da Polícia de forma legal. A empresa que venceu o leilão é a Sul Fluminense Indústrica e Comércio de Tabaco Ltda, que pagou R$ 75 mil. A empresa é sediada em Mendes, no Sul do Rio de Janeiro.
Outra empresa, a Indústria Amazônica de Cigarros arrematou três máquinas embaladoras, que colocam os cigarros nos maços. Esse é outro lote do leilão. Consta dos autos que a companhia retirou o maquinário da Cidade da Polícia de forma legal.
As máquinas destes dois lotes foram parar em Duque de Caxias e no Rio Grande do Sul em endereços, de acordo com a investigação, de pessoas que não tem nada a ver com os compradores. Para procuradores da República isso representa que as máquinas possam ter ido parar nas mãos de integrantes da quadrilha de Adilsinho.
Além disso, ao desembalar o equipamento, o comprador notou que estava faltando uma das máquinas arrematadas. A empresa pediu o ressarcimento do valor pago no leilão, o que foi determinado pela Justiça que mandou devolver R$ 45 mil à empresa.
Não se sabe se esta máquina embaladora, que sumiu, é uma das máquinas que era monitorada pela PF.
O outro equipamento rastreado, como o RJ2 mostrou na edição de terça-feira (8), emitiu a última localização em um galpão em Jardim Gramacho, Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. Depois, a bateria do equipamento acabou.
Ainda há um compressor: a empresa que adquiriu o equipamento, avaliado em R$ 30 mil, alegou que não o encontrou e também pediu a devolução do valor pago. O aparelho é avaliado em R$ 30 mil.
Para o Ministério Público Federal, a organização criminosa chefiada por Adilsinho tem forte entrada nas estruturas do Estado, compra agentes públicos, principalmente, ligado às polícias, que fazem desde a sua segurança pessoal e até o levantamento e vazamento de investigações.
A cronologia do caso
Julho de 2022 – Operação da Polícia Civil na fábrica em Duque de Caxias – Julho de 2022
Fevereiro de 2023 – A maior máquina, usada para fazer cigarros, foi furtada às vésperas do Carnaval de 2023, meses antes do leilão.
Junho de 2023 – Leilão das máquinas
Setembro de 2023 – Implantação dos chips
Outubro de 2023 – as máquinas começam a deixar o depósito
Janeiro de 2024 – desaparece o sinal
Os equipamentos:
A maior máquina, que pesa 5,7 toneladas, não foi encontrada até o momento;
Das três embaladoras, uma o comprador diz que não recebeu e a Justiça determinou o reembolso;
A encelofanadora foi parar num galpão no Rio Grande do Sul. Segundo o MPF, em endereços de pessoas que não participaram do leilão;
E o compressor, que segundo a empresa compradora, não estava na Cidade da Polícia
O RJ2 pediu entrevistas para as polícias Civil e Federal, além do Ministério Público Federal. As instituições preferiram se manifestar por notas.
O que diz o MPF
“A propósito dos questionamentos oferecidos, o MPF reitera sua manifestação apresentada em juízo por ocasião da análise da representação da autoridade policial por medidas que resultaram na deflagração da operação Libertatis.2.
Considera-se que há indícios de que parte dos maquinários que estavam alocados em depósito da Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro, previamente utilizados na produção clandestina de cigarros, foi desviada, uma vez que destinada a endereços e pessoas diversos dos arrematantes em processo judicial, conforme resultou do monitoramento feito por rastreadores, previamente instalados em maquinários que já haviam sido arrematados, na Justiça Trabalhista, por empresas que não possuíam autorização para fabricação de cigarro junto à Anvisa.
Em paralelo, e de forma autônoma, parcela dos arrematantes de maquinários deram falta de equipamentos que compunham os lotes por eles arrematados, tendo, inclusive, noticiado tal fato à Justiça Trabalhista, então responsável pelo procedimento de leilão e arrematação.
Configurados os indícios de desvio e subtração, seja pela destinação diversa detectada pelo monitoramento, seja pela reclamação dos arrematantes quanto a equipamentos faltantes, não é possível dizer, contudo, que os maquinários envolvidos nesses dois episódios, o do rastreamento e o da reclamação dos arrematantes, são os mesmos, tampouco que estão relacionadas ao desaparecimento de maquinário do depósito da PCERJ próximo ao Carnaval de 2023”.
A Polícia Civil
“A Polícia Civil informou que não procede a informação de furto de máquina encelofanadora e de máquina embaladora, conforme a reportagem do RJ2 mencionou. Na ocasião, inclusive, citaram que seriam duas máquinas encelofanadoras. Ambos os equipamentos descritos acima foram leiloados pela Justiça do Trabalho, com acompanhamento direto do Ministério Público do Trabalho. Em relação à instalação de rastreadores, todo o processo foi acompanhado pela Inteligência da Polícia Civil, bem como a investigação sobre o destino dos bens arrematados.
A máquina encelofanadora foi arrematada pela empresa Sul Fluminense Indústria e Comércio de Tabacos LTDA, cujo os sócios são naturais do Rio Grande do Sul. O auto de entrega (documento enviado à produção) datado de 09/10/2023 está assinado pelo representante da empresa e pelo oficial de Justiça. O que foi feito com o equipamento após a entrega, já não é de conhecimento e de responsabilidade da Polícia Civil.
A máquina embaladora foi arrematada pela Indústria Amazônica de Cigarros LTDA. O lote era composto por três unidades deste equipamento. O auto de entrega (documento enviado à produção) datado de 11/10/2023 está assinado pelo representante da empresa – que na ocasião estava acompanhado de um técnico – e pelo oficial de Justiça. Conforme já informado anteriormente, o que é feito com o material arrematado, após o ato de entrega, não é de conhecimento e de responsabilidade da Polícia Civil.
Vale ressaltar que a conferência dos bens arrematados é realizada no ato da entrega e consta nos autos a anuência da conformidade da entrega, inclusive com assinatura de responsáveis legais e do oficial de Justiça.
A investigação está em andamento na Corregedoria-Geral de Polícia Civil (CGPOL) e é parte do inquérito que também apura o furto da máquina elaboradora de cigarros. Conforme informado ontem, mais de 40 testemunhas foram ouvidas, e laudos periciais e imagens de câmeras de segurança foram analisados. Houve, ainda, troca de informações com a Polícia Rodoviária Federal e rastreio de veículos. As diligências, que são acompanhadas pelo Ministério Público, seguem para apurar a autoria do crime.”
A Polícia Federal
“A PF no Rio de Janeiro esclarece que não há inquérito em curso sobre desvios de novos equipamentos usados na fabricação de cigarros que estariam acautelados com a Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro”.
A propósito dos questionamentos oferecidos, o MPF reitera sua manifestação apresentada em juízo por ocasião da análise da representação da autoridade policial por medidas que resultaram na deflagração da operação Libertatis.
Considera-se que há indícios de que parte dos maquinários que estavam alocados em depósito da Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro, previamente utilizados na produção clandestina de cigarros, foi desviada, uma vez que destinada a endereços e pessoas diversos dos arrematantes em processo judicial, conforme resultou do monitoramento feito por rastreadores, previamente instalados em maquinários que já haviam sido arrematados, na Justiça Trabalhista, por empresas que não possuíam autorização para fabricação de cigarro junto à Anvisa.
Em paralelo, e de forma autônoma, parcela dos arrematantes de maquinários deram falta de equipamentos que compunham os lotes por eles arrematados, tendo, inclusive, noticiado tal fato à Justiça Trabalhista, então responsável pelo procedimento de leilão e arrematação.
Configurados os indícios de desvio e subtração, seja pela destinação diversa detectada pelo monitoramento, seja pela reclamação dos arrematantes quanto a equipamentos faltantes, não é possível dizer, contudo, que os maquinários envolvidos nesses dois episódios, o do rastreamento e o da reclamação dos arrematantes, são os mesmos, tampouco que estão relacionadas ao desaparecimento de maquinário do depósito da PCERJ próximo ao Carnaval de 2023.
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