
Idosa estava internada na UTI da Santa Casa de Misericórdia de Goiânia. Filho foi solto após audiência de custódia. Idosa é abandonada por filho advogado em unidade de saúde, em Goiânia
Divulgação/PC-GO
Após ser abandonada por filho advogado em uma unidade de saúde em estado gravíssimo, desnutria e com lesões, a idosa de 85 anos morreu nesta quarta-feira (9). A mãe estava internada na unidade de terapia intensiva (UTI) da Santa Casa de Misericórdia de Goiânia. A informação foi dada pelo delegado que investiga o caso, Alexandre Bruno, e confirmada pelo hospital.
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Alexandro Bruno informou ao g1 o suspeito será investigado por maus-tratos com resultado de morte, além de abandono material e exploração financeira. A pena é de 15 anos de prisão, informou o delegado. O nome do advogado não foi divulgado pela polícia e, por isso, a reportagem não obteve o contato da defesa para um posicionamento.
No dia da prisão do advogado, a OAB-GO afirmou que, apesar de a prisão não ter relação com o exercício da advocacia, apura todas as infrações que chegam ao seu conhecimento, visando garantir o amplo direito de defesa e o contraditório (veja a nota completa ao final da matéria).
A idosa ficou internada na Santa Casa de Misericórdia desde a última quinta-feira (3), permanecendo na unidade por seis dias acompanhada pelo outro filho que, segundo a polícia, internou a mãe no hospital um dia após o flagrante do abandono.
Denúncia
Uma assistente social do Cais onde a idosa foi abandonada fez uma denúncia e relatou que a mulher havia sido deixada na unidade de saúde por uma pessoa não identificada já em estado bastante debilitado. A idosa foi identificada pela polícia, que descobriu dois possíveis filhos, o que permitiu a localização do advogado.
“Tivemos o empenho da equipe em chegar ao Cais do Jardim América, visualizar a situação da idosa, e com a Superintendência de Identificação Humana, nós conseguimos qualificá-la e descobrir quem eram os filhos dela. Nesse sentido, descobrimos qual era o endereço”, explica o delegado Alexandre Bruno de Barros, responsável pelo caso.
Segundo a Polícia Civil, durante a abordagem em seu apartamento no Setor Oeste, em Goiânia, o advogado alegou aos policiais que cuidava da mãe da melhor forma possível. Ele disse ainda que, devido à piora do seu estado de saúde, a havia deixado no Cais do Jardim América dois dias antes, e que iria visitá-la depois.
Prisão
O advogado foi preso em flagrante suspeito de abandonar a mãe e conduzido à Delegacia Especializada em Apoio ao Idoso (DEAI), acompanhado por dois advogados do Conselho de Ética e Prerrogativas da Ordem dos Advogados do Brasil – Seccional de Goiás (OAB-GO).
Além do abandono, a polícia identificou que a idosa teve grande parte de sua pensão comprometida com empréstimos feitos pelo advogado. “Mais de 60% dos proventos dela estão comprometidos com empréstimos que beneficiam ele e não a idosa”, disse o delegado.
O investigador informou que o advogado foi solto após audiência de custódia realizada na sexta-feira (4). “Só que com a proibição de se aproximar da mãe, de se aproximar do apartamento”, esclareceu.
Pela segunda vez
Esta foi a segunda vez que o advogado foi preso por maus-tratos contra idosa, disse o delegado. O suspeito foi preso a primeira vez em junho do ano passado, quando foi liberado sem pagamento de fiança, mas com medidas restritivas para não chegar próximo à mãe.
Ainda segundo a Polícia Civil, o outro filho da idosa mora em São Paulo. Ao ser noticiado do incidente, comprometeu-se a viajar para Goiânia, arcar com os custos do tratamento da mãe e solicita a curatela da mãe.
🔍 Curatela é a responsabilidade jurídica de cuidar dos interesses de uma pessoa que esteja incapacitada.
Nota da OAB
A Ordem dos Advogados do Brasil – Seção Goiás (OAB-GO), por meio do Sistema de Defesa das Prerrogativas (SDP), acompanhou nesta terça-feira (1º de abril) a Operação Indignus, que supostamente envolve um advogado. A Seccional esclarece que, apesar de a prisão não ter relação com o exercício da advocacia, apura todas as infrações que chegam ao seu conhecimento, visando garantir o amplo direito de defesa e o contraditório.
A OAB-GO reforça que esse acompanhamento visa resguardar as prerrogativas profissionais e fiscalizar o cumprimento dos preceitos éticos da advocacia. Por fim, informa que não comenta eventuais prisões ou condenações de seus inscritos.