70% dos vereadores faltam ao 1° evento ‘Câmara na Rua’ para aproximar o Legislativo de SP dos moradores da periferia


Apenas 16 dos 55 parlamentares foram ao 1° ‘Câmara na Rua’, no CEU São Miguel, Zona Leste, no sábado (29). Presença não era obrigatória, mas infraestrutura do evento custou R$ 250 mil. Ausentes deram diferentes justificativas. Alguns dos vereadores ausentes: Lucas Pavanatto (PL), Murillo Lima (PP), Amanda Paschoal (PSOL), Rubinho Nunes (União), Zoe Martinez (PL), Luna Zarattini (PT), Amanda Vetorazzo (União), Fabio Riva (MDB), Jilmar Tatto (PT) e Adrilles Jorge (União)
Montagem/g1/Rede Câmara
Com o objetivo de melhorar a imagem do Legislativo Paulistano, ouvir os problemas locais da população e esclarecer o trabalho dos vereadores aos moradores das periferias da cidade, a Câmara Municipal de São Paulo iniciou no último final de semana uma série de eventos regionais onde os parlamentares vão aos principais bairros ouvir a população.
Porém, no primeiro encontro do “Câmara na Rua”, apenas 16 dos 55 parlamentares eleitos da capital paulista compareceram ao evento, que aconteceu no sábado (29), no CEU São Miguel, Zona Leste da cidade.
O número significa que houve 70% de ausências entre os parlamentares. Ou seja, menos de um terço dos vereadores paulistanos que tomaram posse recentemente, em 1° de janeiro de 2025, compareceu ao evento da própria Casa.
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O encontro custou cerca de R$ 250 mil em infraestrutura, que será aproveitado nas outras datas, segundo a Mesa Diretora da Câmara. O 2° evento semelhante acontecerá em 26 de abril, no CEU Parelheiros, Zona Sul.
‘Falta de compromisso com a população’
Apesar de não haver obrigatoriedade de presença, os especialistas afirmam que a ausência de 39 parlamentares em um evento institucional do Poder Legislativo sinaliza “falta de compromisso com a população”.
“Esse tipo de atitude é uma demonstração da falta de compromisso com o cidadão de São Paulo, sobretudo com as pessoas que estão na periferia, que são moradores das regiões mais carentes de recursos públicos”, disse a cientista política Camila Rocha, doutora pela Universidade de São Paulo (USP), diretora científica do Cebrap e integrante do Instituto Democracia em Xeque.
Banner do programa ‘Câmara na Rua’, da Câmara Municipal de SP, que aconteceu no último sábado (29), na Zona Leste de SP.
Douglas Ferreira/Rede Câmara
Para o professor Marco Antonio Carvalho Teixeira, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), há sinais claros de desinteresse de boa parte dos parlamentares na valorização da própria instituição onde atuam, no que ele chama de “sintoma de desinteresse pelo cidadão”.
“Esse tipo de evento não foi criado só pela Mesa Diretora da Câmara. Certamente, teve anuência da maior parte dos vereadores. E, quando a maioria falta, mostra um desinteresse na valorização da própria instituição que eles fazem parte, além de falta de interesse no próprio cidadão paulistano”, afirmou.
Procurados, os membros da Mesa Direitora e o presidente Ricardo Teixeira (União Brasil) não se pronunciaram sobre a ausência dos colegas. Disseram apenas que avaliam como “muito positiva” a participação popular no 1° encontro do projeto.
“Como iniciativa inédita e ousada que é, a Câmara avalia este primeiro Câmara na Rua como muito positivo. O próximo Câmara na Rua acontecerá dia 26 de abril, no CEU Parelheiros”, disse a Mesa Diretora em nota.
Segundo a nota, “o custo do Câmara na Rua, realizado dia 29 de março no CEU São Miguel, foi de cerca de R$ 250.000. Este valor foi gasto com a infraestrutura para realizar o evento, que registrou a presença e circulação de mais de mil pessoas entre o início da exposição e o término da tribuna livre”.
A instituição ressaltou ainda que “boa parte dessa estrutura (como os banners e os painéis que compõem os estandes) será reaproveitada nas próximas edições que acontecerão ao longo do ano”.
Campeões de votos se ausentaram
Lista dos 55 vereadores que deveriam ter participado do 1° encontro do ‘Câmara na Rua’, no último sábado (29), no CEU São Miguel, na Zona Leste de SP.
Douglas Ferreira/Rede Câmara
Na lista de ausentes do “Câmara na Rua”, chamam atenção nomes campeões de votos na cidade, como Lucas Pavanatto (PL), Amanda Paschoal (PSOL), Murillo Lima (PP), Rubinho Nunes (União Brasil) e Luna Zarattini (PT). Todos eles estão na lista dos nomes mais votados da cidade.
Dos dez vereadores que mais tiveram votos no pleito de outubro do ano passado, apenas quatro estiveram no “Câmara na Rua”. A maioria deles são mulheres: Ana Carolina Oliveira (Podemos), Sargento Nantes (PP), Sandra Tadeu (PL) e Pastora Sandra Alves (União Brasil). (Veja lista completa abaixo).
Os demais, conhecidos pela presença forte nas redes sociais e pela “lacração” nos vídeos e cortes que compartilham na web, não deram as caras no evento de São Miguel.
Em consulta à lista de presentes, é possível ver que nem o líder do governo Ricardo Nunes (MDB) na casa – vereador Fabio Riva (MDB) – esteve no evento.
👉 Mais abaixo, veja o que disseram os ausentes citados nesta reportagem.
Rubinho Nunes (União Brasil) e Murillo Lima (PP), por exemplo, são presidente e vice-presidente da Comissão de Política Urbana da casa. Recém-eleito, o colegiado analisa e emite pareceres sobre os principais temas urbanísticos da cidade.
Fazem parte dele justamente os vereadores Fabio Riva (MDB), Gabriel Abreu (Podemos), Isac Félix (PL), Marina Bragante (Rede Sustentabilidade) e Nabil Bonduki (PT).
Desses todos, apenas Marina Bragante marcou presença em São Miguel. O petista Nabil Bonduki disse que estava em outra atividade oficial da casa, ligada à Escola do Parlamento da Câmara Municipal .
Palavra dos especialistas
Vereadores da capital sairão para as ruas ouvir a população
O “Câmara na Rua” é um programa de sessões legislativas itinerante, criado pelo Poder Legislativo para justamente reverter a imagem negativa dos vereadores na sociedade.
Na pesquisa “Viver em SP: qualidade de vida”, divulgada em janeiro deste ano pela Rede Nossa São Paulo, 62% das pessoas disseram não ter vontade alguma de participar da vida política da cidade.
Para 55% dos entrevistados, a atuação da Câmara Municipal era ruim/péssima.
É muito grave um parlamentar não participar de um evento que tem a intenção de melhorar o seu próprio trabalho e trazer mais pessoas para o debate público. É um sintoma que deveria preocupar a própria democracia.
Na avaliação dele, “para parte deles, o cidadão só é tratado como eleitor”. “Ele não tem outro valor fora do potencial de voto que pode trazer a um parlamentar. O que é uma tristeza, porque uma vez que um vereador é eleito, ele é um representante de toda a cidade. Não só do grupo que o elegeu”, comentou.
Segundo Teixeira, a baixa participação dos vereadores em eventos institucionais representa também uma “preguiça” dos parlamentares em disputar espaço com quem pensa diferente ou apresenta demandas divergentes.
“Um evento institucional como esse significa uma oportunidade do parlamentar para possíveis eleitores que não têm político próprio e vai ver ali o debate saudável entre um representante do MDB, do PT, do PSOL, do PL. Mas, para a maioria deles, é muito trabalhoso disputar atenção com quem pensa diferente. Pregar sozinho nas redes sociais, falando com convertidos fiéis, é mais fácil e menos trabalhoso”, afirmou.
Auditório do CEU São Miguel, lotado para o ‘Câmara na Rua’, realizado no sábado (29)
Lucas Bassi e Douglas Ferreira/Rede Câmara
Na avaliação de Camila Rocha, do Instituto Democracia em Xeque, a baixa participação dos parlamentares considerados “lacradores da internet” significa cálculo político e eleitoral da maioria deles.
Mesmo os políticos que se valem bastante das redes sociais também fazem cálculos eleitorais pensando em termos de regiões onde têm mais voto e apelo. Provavelmente, alguns levaram isso em consideração ou viram como uma atividade menor do ponto de vista de pessoas presentes.
Ela pondera ainda que, diante da falta transparência nos gastos dos recursos da Câmara Municipal, práticas como essa, assim como o orçamento participativo, aproximam o cidadão do Legislativo.
“[No entanto,] essas práticas vêm sendo sistematicamente boicotadas, minimizadas ou canceladas. Então [essa ausência de vereadores] é bastante sintomático desse processo de afastamento do cidadão e falta de transparência da Câmara nos últimos anos”, disse Rocha.
O que dizem os faltosos citados:
Lucas Pavanato (PL)
“Sobre a ausência do vereador, ele já tinha um compromisso de mandato marcado no sábado (29), data que aconteceu o evento”.
Rubinho Nunes (União Brasil)
“Optei por realizar outra agenda, atrelada a operações de combate a pancadões, algo mais efetivo para a população. Tenho 100% de presença em todas as sessões da Câmara, inclusive das comissões. O ‘Câmara na Rua’ tem valor por abrir espaço à escuta da população, mas essa escuta eu já realizo diariamente, sete dias por semana.”
Fabio Riva (MDB):
“O vereador Fabio Riva informou que havia comunicado previamente ao presidente da Câmara, Ricardo Teixeira, sobre sua impossibilidade de comparecer ao evento ‘Câmara na Rua’ devido a um compromisso previamente agendado no dia (29/03) do Movimento de Moradia do qual faz parte. No entanto, ressaltou a importância da iniciativa, que prestigia vereadores com atuação local, e afirmou que estará presente nos eventos realizados em sua região de trabalho”.
Amanda Paschoal (PSOL)
“Primeiramente, a Câmara na Rua é uma iniciativa excelente, e que precisa ser valorizada. Reaproximar o legislativo do povo de São Paulo, e de suas reais necessidades, é primordial. E essa aproximação regional é uma prioridade do nosso mandato. Precisamos estar nas ruas pra ouvir o que nossa gente tem a dizer, e o que espera do nosso próprio trabalho. Infelizmente, não pude comparecer nesse sábado por conta de um conflito de agendas, mas, tão logo for possível, fortalecerei a iniciativa presencialmente”.
Adrilles Jorge (União Brasil)
“Viajei a Vitória [ES] para uma palestra”.
Amanda Vettorazzo (União Brasil)
“A presença da vereadora Amanda Vettorazzo em eventos públicos divulgados previamente está comprometida desde que a Justiça expediu mandado de soltura para o Sr. Rafael Oliveira, réu em processo criminal. Durante a campanha, ele perseguiu a vereadora com uma faca e foi detido por policiais em evento público, ficando preso por quase 6 meses. Em contrapartida, a vereadora faz desde o início do seu mandato visitas presenciais regulares conhecidas como ‘gabinete itinerante’, em diferentes bairros da cidade, não sendo necessária a divulgação prévia de agenda e, portanto, mantendo sua segurança e compromisso com o trabalho de atendimento ao povo paulistano”.
Luna Zarattini (PT)
“A vereadora Luna Zarattini (PT) parabeniza a iniciativa ‘Câmara na Rua’, que busca aproximar a política institucional do cotidiano da população. No entanto, no último sábado, a parlamentar cumpriu agendas de diálogo com moradores do Jardim Ângela e do Campo Limpo, na zona sul de São Paulo, onde discutiu demandas urgentes como saúde, mobilidade e habitação. Vale destacar que, muito antes deste projeto institucional da Câmara, a vereadora já mantém o compromisso semanal de estar nas periferias, ouvindo a população e construindo políticas públicas a partir das necessidades reais das comunidades. A participação popular não pode ser um evento pontual, mas um exercício permanente de democracia. Luna reforça seu compromisso com a transparência e a presença ativa nos territórios, e seguirá priorizando o contato direto com quem mais precisa da ação do poder público”.
Jair Tato (PT)
“Já tinha atividades marcada”.
Zoe Martinez (PL)
“O Câmara na Rua é uma iniciativa importante, que apoio integralmente. Nesta edição, estive em compromisso previamente agendado no interior do Estado, mas enviei minha assessoria para acompanhar de perto as demandas da população. Seguimos trabalhando dentro e fora do plenário, sempre ouvindo e atuando onde o povo está.”
Nabil Bonduki (PT)
“No dia 29 de março, das 10h às 13h, o vereador Nabil Bonduki deu uma Aula Magna para o Projeto Repórter do Futuro, destinado à formação de alunos de Comunicação em temas relacionados com a cidade – como modelo de desenvolvimento urbano, valorização dos espaços públicos e sustentabilidade. Essa atividade, realizada no Centro MariAntonia da USP, inclusive, conta com o apoio da Escola do Parlamento da Câmara Municipal de São Paulo e foi agendada com bastante antecedência. Vale ressaltar que a presidência da Câmara não pactuou dia, horário e local do Câmara na Rua, antecipadamente, com os demais vereadores.”
Dr. Murillo Lima (PP)
Procurado pela reportagem, não se manifestou.
Veja a lista dos 16 vereadores que compareceram ao evento:
Vereadores de São Paulo participam da mesa do 1° encontro do ‘Câmara na Rua’.
Lucas Bassi/Rede Câmara
Ana Carolina Oliveira (Podemos)
Ricardo Teixeira (União)
Edir Sales (PSD)
Sandra Tadeu (PL)
Silvão Leite (União)
João Jorge (MDB)
Senival Moura (PT)
Celso Gianazzi (PSOL)
Hélio Rodrigues (PT)
Joao Ananias (PT)
Sansão Pereira (Republicanos)
Milton Ferreira (Podemos)
Alessandro Guedes (PT)
Janaina Paschoal (PP)
Sargento Nantes (PP)
Marina Bragante (Rede)
Lista completa dos vereadores que faltaram ao evento:

Adrilles Jorge (UNIÃO BRASIL)
Amanda Paschoal (PSOL)
Amanda Vettorazzo (UNIÃO BRASIL)
André Santos (Republicanos)
Carlo Bezerra Jr. (PSD)
Cris Monteiro (Novo)
Danilo do Posto de Saúde (Podemos)
Dheison (PT)
Dr. Murillo Lima (PP)
Eliseu Gabriel (PSB)
Ely Teruel (MDB)
Fabio Riva (MDB)
Gabriel Abreu (Podemos)
George Hato (MDB)
Gilberto Nascimento (PL)
Isac Félix (PL)
Jair Tatto (PT)
Keit Lima (PSOL)
Kenji Palumbo (Podemos)
Luana Alves (PSOL)
Lucas Pavanato (PL)
Luna Zarattini (PT)
Major Palumbo (PP)
Marcelo Messias (MDB)
Nabil Bonduki (PT)
Paulo Frange (MDB)
Professor Toninho Vespoli (PSOL)
Renata Falzoni (PSB)
Roberto Tripoli (PV)
Rubinho Nunes (União)
Rute Costa (PL)
Sandra Santana (MDB)
Silvia da Bancada Feminista (PSOL)
Silvinho (União)
Simone Ganem (Podemos)
Sonaira Fernandes (PL)
Thammy Miranda (PSD)
Zoe Martinez (PL)
O g1 tenta contato com os demais ausentes da lista.

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