Diagnóstico de autismo na fase adulta: especialista explica, como no caso de Bella Ramsey

Enquanto interpretava Ellie, uma personagem complexa e intensa na série The Last of Us, Bella Ramsey também vivia uma transformação pessoal significativa. Durante as filmagens da primeira temporada, a atriz britânica recebeu o diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista (TEA), algo que, segundo ela, trouxe um novo entendimento sobre si mesma.

“Foi como acender a luz de um quarto onde eu vinha tropeçando no escuro há anos. Finalmente, tudo se encaixou”, revelou Bella em entrevista recente. As informações são da Istoé.

Veja o impacto do diagnóstico tardio

A descoberta do autismo na vida adulta ainda é menos comum do que na infância, mas casos como o de Bella têm mostrado que essa identificação pode acontecer em qualquer fase da vida. Em entrevista à Vogue Britânica, publicada no dia 19 de março, a atriz, que se identifica como não-binária, comentou:

“Eu já falei sobre neurodivergência antes, mas por alguma razão eu não queria […] não queria dizer o que era”.

A experiência da artista reflete a de muitas pessoas que passam anos sem entender plenamente suas características e dificuldades. “Sempre me senti diferente. Tinha uma sensibilidade que as pessoas não entendiam, preferia rotinas previsíveis e me sentia exausta após interações sociais. Achei que era apenas parte da minha personalidade, mas o diagnóstico me mostrou que há uma razão para tudo isso”, completou Bella.

Como o autismo pode se manifestar em adultos?

O psicólogo Damião Silva, especialista em transtornos do neurodesenvolvimento, explica que muitas pessoas chegam à idade adulta sem saber que estão no espectro. Segundo ele, em diversos casos, o autismo só é percebido quando a pessoa vê traços semelhantes em familiares ou ao ter contato com mais informações sobre o TEA.

“Muitos adultos só começam a desconfiar quando veem traços nos próprios filhos ou após terem acesso a informações mais amplas sobre o TEA. O diagnóstico tardio pode trazer desafios emocionais, mas também é uma oportunidade de autoconhecimento e acolhimento”, explica o especialista.

Dentre os sinais mais comuns de autismo na fase adulta estão:

  • Dificuldade na comunicação social
  • Hiperfoco em interesses específicos
  • Sensibilidade intensa a estímulos sensoriais
  • Desafios para manter relacionamentos

Outro fator que pode atrasar a identificação é a chamada “camuflagem”, quando a pessoa aprende estratégias para mascarar suas dificuldades e se adaptar às expectativas sociais.

“São pessoas que podem ter desenvolvido estratégias para ‘mascarar’ suas dificuldades, o que retarda a identificação do transtorno”, explica Silva. O processo de diagnóstico do autismo na fase adulta envolve uma avaliação clínica detalhada, incluindo histórico de vida, entrevistas estruturadas e observação direta.

“Não é incomum que adultos cheguem ao consultório já com suspeitas bem embasadas. A validação profissional traz alívio e direcionamento”, destaca o psicólogo.

No caso de Bella Ramsey, o ambiente intenso das filmagens foi um gatilho para que ela começasse a se observar de forma mais profunda. “Estava lidando com emoções extremas, cenas de conflito e ambientes imprevisíveis. Percebi que precisava entender o motivo de certas reações minhas”, contou a atriz.

Veja como funciona o tratamento

Apesar de não ter cura, o autismo pode ser gerenciado com diversas estratégias terapêuticas, permitindo uma vida mais equilibrada e satisfatória. Entre as abordagens recomendadas estão:

  • Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC)
  • Terapia Ocupacional
  • Treinamento de habilidades sociais
  • Uso de medicação para tratar quadros associados, como ansiedade e depressão

O psicólogo reforça que o diagnóstico não define a pessoa, mas pode ajudá-la a compreender melhor seu funcionamento. “O importante é compreender que o TEA não define a pessoa, mas ajuda a entender aspectos importantes do funcionamento dela. Com apoio e informação, é possível viver com autonomia, bem-estar e aceitação”, afirma Silva.

Agora mais consciente de sua neurodivergência, Bella Ramsey tem utilizado sua visibilidade para abrir espaço para discussões sobre o autismo. “Não quero ser rotulada, mas sim reconhecida. Meu cérebro funciona de um jeito único, e isso faz parte do que sou como artista e ser humano. Saber disso só me dá mais força”, declarou a atriz.

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