Fotógrafo leva prêmio internacional após registrar a rotina de trabalhadores da reciclagem no Rio por 7 meses


Fotojornalista Fábio Teixeira receberá o Prêmio Internacional de Jornalismo Rei da Espanha, pelas mãos do monarca, após 14 anos de tentativas. Homem cuida de mulher doente
Fábio Teixeira
O fotógrafo Fábio Teixeira, natural de Piracicaba (SP), foi premiado pela 42ª edição do Prêmio Internacional de Jornalismo Rei da Espanha 2025 com o projeto “Os Desabrigados da Humanidade”, que retratou cotidiano de pessoas em situação de rua que trabalham com lixo e reciclagem no Rio de Janeiro (RJ). O trabalho levou sete meses para ficar pronto (veja abaixo 👇).
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O prêmio foi realizado pela agência espanhola de notícias EFE, uma das maiores do mundo, com a Agência Espanhola de Cooperação Internacional. A intenção, segundo as organizadoras, é reconhecer os melhores trabalhos jornalísticos da Espanha e América Latina.
Segundo a agência EFE, foram 256 inscrições de quase vinte países. Elas foram divididas em sete categorias: jornalismo narrativo, cooperação internacional e ação humanitária, jornalismo ambiental, jornalismo cultural, veículos de comunicação ibero-americana e fotografia, seção que Fábio Teixeira ganhou.
Fotografia vencedora
Fotografia vencedora da 42ª edição do Prêmio Internacional de Jornalismo Rei da Espanha
Fábio Teixeira
A fotografia vencedora retratou uma mulher deitada em um colchonete no chão de uma rua no Rio de Janeiro (RJ). A mulher tem partes do corpo que estão enfaixadas. Os olhos estão cobertos por um tampão por conta de uma doença, informou Fábio.
“Ela trabalha muito tempo com o lixo doméstico e com lixo industrial. Essa mulher teve o diagnóstico de tuberculose e deu um problema nos olhos, uma espécie de infecção viral. Agora, melhorou bem, mas ela não enxergava nada”, afirma Fábio Teixeira em entrevista ao g1.
O júri foi liderado pelo presidente da EFE, Miguel Ángel Oliver, Antón Leis, diretor da Agência Espanhola de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento (AECID) e por seis jornalistas de meios de comunicação e instituições de Portugal, Panamá, Argentina, México e Espanha. As informações são da plataforma EFE.
O fotojornalista foi o único brasileiro entre os vencedores deste ano.
Sensibilidade do trabalho
Pessoa descansa em lençol com coleção de bonecas
Fábio Teixeira
O retrato fez parte de uma fotorreportagem feita em 2024 ao longo de sete meses. O material deu luz à realidade de um grupo de pessoas em situação de rua no Rio de Janeiro que tem uma série de direitos humanos negligenciados, como o acesso à moradia, alimentação adequada, saneamento básico, educação, saúde e trabalho digno.
O grupo, segundo Fábio, era facilmente identificável: homens, mulheres e crianças. A maioria preta e, em muitos casos, doente por conta do cotidiano nas ruas e em contato com o lixo.
O fotógrafo informou que as pessoas desse grupo convivem diariamente com a morte de companheiros, doenças e as consequências, como atropelamentos, por viver nas proximidades da Avenida Brasil.
Para fazer o registro documental, Fábio se aproximou das personagens a fim de conseguir a confiança. Ato comum para documentaristas. O tempo serviu também para que o fotógrafo frequentasse e entendesse a realidade local. Depois, vieram os clicks com consentimento e de forma espontânea.
O material final enviado ao prêmio contou com o texto de Mirna Wabi-Sabi.
“Eu sempre trabalho em conjunto com o texto, porque o texto é muito importante para contar a história ao lado da imagem”, afirma Fábio.
14 anos de tentativas
Homem com tampão em olho carrega resíduos recicláveis
Fábio Teixeira
Fábio informou que essa é 14ª edição que se inscreve no Prêmio Internacional de Jornalismo Rei da Espanha.
O piracicabano nunca chegou nem perto da final. Mas, neste ano, pegará o prêmio das mãos do rei da Espanha, em Madri. A data ainda não foi definida por conta de conflitos com a agenda do rei, afirmou o fotógrafo.
O prêmio final é de 10 mil euros. O valor equivale a cerca de R$ 63 mil. Além disso, as organizações financiarão a ida e volta da Espanha, além da estadia do fotógrafo por lá.
Outro prêmio
Daniel [nome fictício] posa para foto. Em decorrência de um atropelamento, ele utiliza pinos no braço, está com pé enfaixado e utiliza muleta para andar.
Fábio Teixeira
Essa não é a primeira vez que o fotógrafo piracicabano leva um prêmio para a casa com esses registros. Em novembro de 2024, o g1 noticiou a vitória dele com a categoria principal do Prêmio Portfólio FotoDoc 2024 do Festival de Fotografia Documental, que teve 2.465 inscrições de brasileiros e estrangeiros divididas nas categorias Portfólio, Ensaios e Imagem Destacada.
‘Formação da opinião pública’
Homem carrega bonecas coletadas no lixo
Fábio Teixeira
Mônica Bento, vice-presidente da Associação de Repórteres Fotográficos e Cinematográficos no Estado de São Paulo (Arfoc-SP), relata a importância desse tipo de trabalho documental.
“O jornalismo tem como papel fundamental a formação da opinião pública, se atendo aos fatos. Então, esse tipo de narrativa aprofundada traz mais elementos para que as pessoas possam pensar, refletir, ter uma consciência sobre essa realidade e agir”, informa Mônica Bento.
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