Maior entrave na guerra é se Ucrânia cederá regiões ocupadas, diz Witkoff

O maior obstáculo para resolver a guerra da Rússia na Ucrânia é o “status” da Crimeia e das quatro regiões continentais ucranianas ocupadas pela Rússia, disse o enviado especial dos EUA Steve Witkoff, chamando-as de “o elefante na sala” nas negociações de paz.

Em uma entrevista com o apresentador de podcast Tucker Carlson, Witkoff — que também revelou que o presidente russo Putin havia o presenteado com um retrato de Donald Trump  por um artista russo — afirmou que o governo estava fazendo um progresso “que ninguém pensava ser possível” com a Rússia, mas que as questões de território ainda precisam ser resolvidas.

As quatro regiões continentais foram anexadas ilegalmente durante a invasão em grande escala da Rússia e Kiev se opõe veementemente a entregá-las.

 

 

Desde então, o Kremlin organizou referendos sobre a união com a Rússia em Donetsk, Luhansk, Zaporizhzhia e Kherson, que Kiev e a comunidade internacional condenaram como um exercício de propaganda, mas que Witkoff alegou ser evidência do desejo de se separar da Ucrânia.

“Eles falam russo”, disse Witkoff sobre as quatro regiões orientais. “Houve referendos em que a esmagadora maioria das pessoas indicou que quer ficar sob o domínio russo”, ele acrescentou.

A CNN já havia relatado que a votação nas regiões foi realizada sob a mira de armas, com um morador dizendo que os resultados eram uma conclusão precipitada.

Witkoff, enviado de Trump para o Oriente Médio que também desempenha um papel fundamental nas negociações com a Rússia, disse que as “questões constitucionais dentro da Ucrânia sobre o que eles podem conceder… com relação ao território” se tornaram “o elefante na sala” durante as negociações.

As negociações devem ser retomadas nesta segunda-feira (24) na Arábia Saudita, com autoridades dos EUA programadas para se encontrar com autoridades da Rússia e da Ucrânia.

“Os russos estão de fato no controle desses territórios. A questão é: o mundo reconhecerá que esses são territórios russos?”, perguntou Witkoff. “(O presidente ucraniano Volodymyr) Zelensky pode sobreviver politicamente se reconhecer isso? Esta é a questão central no conflito”, ele acrescentou.

Zelensky enfatizou no último fim de semana que a posição da Ucrânia “é que não reconhecemos os territórios ucranianos ocupados como russos.”

Os EUA levantaram a questão durante as negociações com delegados ucranianos na cidade saudita de Jeddah, afirmou Zelensky.

Ele acrescentou que espera que o entrave possa ser resolvido durante as conversas sobre paz posteriores, em vez de discussões sobre um cessar-fogo inicial. “Isso está arrastando o processo por muito, muito tempo”, disse ele.


Marco Rubio fala após reunião com Sergei Lavrov na Arábia Saudita. Encontro marca primeiro esforço entre EUA e Rússia para acabr com guerra na Ucrânia. • Reprodução/Reuters

“Gracioso” Putin

Witkoff disse que ficou impressionado com o quão “gracioso” o líder russo foi durante as discussões da dupla, elogiando-o como “inteligente” e “direto”.

Antes de se encontrar com Putin em Moscou, Witkoff afirmou que alguém no governo Trump o alertou para “tomar cuidado, porque ele é um ex-cara da KGB”, referindo-se à antiga carreira de Putin na agência de segurança da União Soviética.

Witkoff disse que minimizou os medos da pessoa, dizendo que o histórico de Putin na agência era uma medida de sua inteligência. “Antigamente, as únicas pessoas que entravam na KGB eram as mais inteligentes do país… Ele é um cara superinteligente”, ele se lembra de ter dito.

“Não considero Putin um cara mau”, afirmou o enviado dos EUA, dizendo que foi “gracioso” da parte do líder russo recebê-lo em Moscou para conversas no início deste mês.

Aquele encontro “ficou pessoal”, ele disse, lembrando como Putin “encomendou um lindo retrato do presidente Trump ao principal artista russo”, que Witkoff levou para casa para o presidente.

O enviado dos EUA afirmou também que, após a tentativa de assassinato contra Trump em setembro, Putin disse que “foi à sua igreja local e se encontrou com seu padre e rezou” por Trump, “não porque ele… poderia se tornar o presidente dos Estados Unidos, mas porque tinha uma amizade com ele”.

Trump ficou “claramente tocado” pela história de Putin e pelo retrato, disse Witkoff.

Ele deu a entender que resolver a guerra na Ucrânia poderia levar à cooperação em uma gama mais ampla de questões, e que os dois lados estavam pensando em “integrar suas políticas energéticas no Ártico”, compartilhar rotas marítimas, colaborar em inteligência artificial e enviar gás natural liquefeito “juntos para a Europa”.

“Quem não quer ter um mundo onde a Rússia e os Estados Unidos estejam fazendo, colaborativamente, coisas boas juntos?”, ele perguntou.

Este conteúdo foi originalmente publicado em Maior entrave na guerra é se Ucrânia cederá regiões ocupadas, diz Witkoff no site CNN Brasil.

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