Entenda se mais etanol na gasolina pode reduzir preço do combustível

O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, anunciou na segunda-feira (17) a proposta de aumentar de 27% para 30% a mistura de etanol anidro na gasolina. Especialistas ouvidos pela CNN afirmam que o impacto na inflação deve ser pouco ou mesmo zero, e que a medida não vai comprometer o desempenho dos automóveis.

A decisão de Silveira é baseada em estudos feitos pelo Instituto Mauá de Tecnologia (IMT), que atesta o desempenho dos carros movidos a gasolina mesmo com a mistura. Com a mudança, o governo federal pretende reduzir um pouco a inflação. A estimativa é de queda de R$ 0,13 por litro de gasolina.

Os preços devem cair, ainda que levemente, em razão da mudança na tributação da gasolina. A proposta será levada ao Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) ainda neste ano.

Segundo cálculos da consultoria Argus, o preço do E30 no terminal de Paulínia (SP) ficaria em R$ 5,22 por litro com todos os impostos, enquanto o valor do E27 ficaria em R$ 5,24 por litro.

“Essa diferença abre espaço para uma redução muito pequena, possibilitada pela renúncia fiscal de tributos federais que o aumento da mistura vai acarretar”, afirma o gerente de desenvolvimento de negócios da Argus, Amance Boutin.

Ainda nas estimativas da Argus, o preço do etanol anidro sem imposto está em R$ 3,23/l, enquanto o valor da gasolina vendida pela Petrobras está em R$ 3,03/l livre de imposto.

A soma da Cide, PIS/Pasep e Cofins sobre gasolina A é de R$ 0,8925/l, enquanto no etanol anidro incide apenas PIS/Pasep e Cofins no valor de R$ 0,1309/l.

Caso a redução seja de R$ 0,12 no litro da gasolina, o preço acumulado do combustível e a inflação podem diminuir em 2025, de acordo com os cálculos da LCA Consultoria.

“A nossa projeção, tomando como base o IPCA, é de uma alta acumulada em 2025 de 4,7% para a gasolina. Com essa mudança, espera-se encerrar o ano com uma alta de 2,5%. Ou seja, esses R$ 0,12 que vão sair do preço da gasolina podem mitigar o reajuste acumulado ao longo deste ano do combustível. Esse reajuste acontece devido a algum anúncio oficial da Petrobras ou pelo movimento de mercado”, explica o economista da LCA Fábio Romão.

“Caso essa mudança [na composição da gasolina] aconteça, o nosso prognóstico para o IPCA passaria de 5,56% para 5,44%, ou seja, tiraria 0,12 pontos percentuais do IPCA esperado para 2025”, projeta.

Os especialistas argumentam que o etanol anidro pode afetar ligeiramente a autonomia dos veículos, pois o componente tem menor poder calorífico em comparação com a gasolina, porém sem afetar a mecânica dos automóveis.

Nova composição

A mistura de etanol na gasolina começou com a política Proálcool de 1975. Instituído pelo governo militar de Ernesto Geisel, o programa foi uma resposta à crise do petróleo daquele período. Nesse meio tempo, o percentual de etanol variou de 10% a 22% na gasolina.

“O Brasil tem uma oferta abundante de etanol anidro, que é um tipo de oxigenante que aumenta a octanagem da gasolina de maneira significativa, ajudando no desempenho do combustível durante o processo de combustão. Além disso, o etanol permite reduzir as emissões de carbono na atmosfera”, afirma o gerente de desenvolvimento de negócios da Argus.

A nova mistura pode reduzir em 1,7 milhão de toneladas a emissão de gases de efeito estufa por ano, segundo dados do Ministério de Minas e Energia.

Além disso, a projeção do governo federal é que, com a adição de 30% de álcool por litro de gasolina, 760 milhões de litros do combustível deixem de ser importados anualmente.

Conforme os dados do governo apurados pela Argus, o Brasil importou 2,88 bilhões de litros de gasolina em 2024, enquanto exportou 2 bilhões de litros para outros países.

O consumo de gasolina pura (sem adição de etanol) foi de 32,2 bilhões de litros no ano passado, de acordo com dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).

O Brasil precisa importar petróleo refinado enquanto exporta petróleo bruto. Esse movimento acontece porque o parque de refino instalado no país não atende integralmente à demanda interna.

“Para complementar a oferta nacional, o Brasil precisa importar alguns combustíveis, como diesel e gasolina, enquanto exporta outros tipos de produtos, como combustíveis marítimos”, afirma Boutin.

No caso da gasolina, a dependência externa é pequena e varia de acordo com o consumo de etanol pela frota de carros.

“O país importa derivados de petróleo para compor um blend também. Esse blend facilita o refino. Ou seja, é necessário importar um outro tipo de petróleo para compor a gasolina. Com o petróleo extraído no Brasil isoladamente, isso não seria viável”, acrescenta o economista da LCA.

Na avaliação de Silveira, a mudança na composição da gasolina representa um aumento de 1,5 bilhão de litros na demanda por etanol e um investimento estimado em R$ 9 bilhões no setor.

Em paralelo, o país teve um aumento recente no volume produzido de etanol de milho na safra 2023/24 e, segundo avaliação do economista Fábio Romão, dados mensais mais recentes apontam um novo avanço em 2025.

“A maior proporção de etanol na gasolina pode favorecer, principalmente, o etanol de milho, que é o principal vetor de crescimento da oferta de etanol atualmente”, acrescenta Boutin.

“As estimativas para a produção de etanol de milho em 2025-26 estão entre 9 e 10 milhões de m³, acima dos 7,7 a 8 milhões de m³ esperados para a safra 2024-25. A alta deve ser sustentada pela expansão das usinas de etanol de milho e pela maior oferta do grão nos últimos anos, minimizando o efeito do mix mais açucareiro sobre a produção total de etanol”, completou o gerente de desenvolvimento de negócios da Argus.

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Este conteúdo foi originalmente publicado em Entenda se mais etanol na gasolina pode reduzir preço do combustível no site CNN Brasil.

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