Dia solar em Mercúrio dura dois anos no planeta; entenda

No alinhamento dos sete planetas do Sistema Solar ocorrido no dia 28 de fevereiro, um deles chamou particularmente a atenção dos observadores: Mercúrio. Isso se deu porque ele estava em seu ponto de máxima elongação, ou seja, a maior separação angular em relação ao Sol.

Por estar afastado do brilho da nossa estrela, o menor planeta do Sistema Solar pôde ser facilmente observado após o pôr do sol, principalmente no Hemisfério Norte, mas a janela de observação foi curta, pois Mercúrio se pôs pouco tempo após o crepúsculo.

No entanto, poder observar o planeta mais próximo do Sol a olho nu é sempre emocionante, principalmente porque o veloz mensageiro celeste (Mercúrio na mitologia grega) é um dos planetas menos estudados do Sistema Solar.

A forte gravidade solar e o intenso calor dificultam o envio e operação de espaçonaves na região. Além disso, a proximidade com o Sol faz com que o planeta só possa ser observado em curtos períodos ao amanhecer ou ao entardecer, quando está perto do horizonte.

Ainda assim, Mercúrio já foi visitado por duas missões terrestres:

  • a sonda Mariner 10, que mapeou 45% de sua superfície em 1974 e 1975; e
  • a Messenger, primeira a orbitar o planeta em 2011-2015.

Além das duas missões da Nasa, a BepiColombo, missão conjunta da Agência Espacial Europeia (ESA) e da Agência Japonesa de Exploração Aeroespacial (Jaxa), já realizou seis sobrevoos no planeta e está programada para entrar em órbita em novembro de 2026.

Mercúrio tem muitos detalhes e seu estudo oferece uma visão única sobre a formação e evolução dos planetas, dos sistemas solares e do próprio Universo. Conheça abaixo cinco deles.

Um dia solar em Mercúrio dura dois anos mercurianos


Imagens de Mercúrio obtidas com o instrumento MASCS da nave espacial MESSENGER • NASA/Johns Hopkins University Applied Physics Laboratory/Carnegie Institution of Washington

Em termos de translação, Mercúrio é o planeta mais rápido do Sistema Solar, completando uma volta ao redor do Sol em aproximadamente 88 dias terrestres, a uma velocidade média de 170,5 mil km/h.

A rotação, por sua vez, é extremamente lenta quando comparada com a da Terra. Para girar completamente em torno do próprio eixo, Mercúrio leva cerca de 59 dias terrestres.

Porém, devido à combinação de uma rotação lenta com uma translação rápida, um dia solar completo (de um nascer do Sol ao próximo) em Mercúrio dura aproximadamente 176 dias terrestres. Isso significa que um dia em Mercúrio corresponda a dois anos.

Mercúrio é um dos planetas mais quentes, mas também mais frios do Sistema Solar

Por ser o planeta mais próximo do Sol, é de se esperar que Mercúrio seja um dos planetas mais quentes (embora esse título pertença a Vênus). Durante o dia, a temperatura da superfície chega a 427°C.

Mas, pela falta de uma atmosfera que possa reter esse calor, as temperaturas noturnas no planeta caem para -179°C. Para se ter uma ideia de como essa temperatura é extrema, basta dizer que o planeta mais frio do Sistema Solar, Urano, com média de -224°C, fica a 2,9 bilhões de quilômetros do Sol.

Mesmo perto do Sol, Mercúrio tem grandes depósitos de água


Áreas sombreadas da região polar norte de Mercúrio (em vermelho) adquiridas pela MESSENGER • NASA/Johns Hopkins University Applied Physics Laboratory/Carnegie Institution of Washington/National Astronomy and Ionosphere Center, Arecibo Observatory

Apesar de estar mais perto do Sol do que os demais planetas, e ter temperaturas escaldantes quando sua superfície recebe a radiação solar, Mercúrio tem grandes depósitos de gelo de água em algumas crateras próximas aos seus polos norte e sul.

Descoberta pela Messenger em 2012, a água existente em áreas permanentemente sombreadas do planeta reforça a ideia de que esses depósitos congelados podem ser comuns, mesmo em planetas inóspitos para a vida como a conhecemos.

Núcleo grande e metálico está fazendo Mercúrio encolher

Excepcionalmente grande, o núcleo de Mercúrio compõe cerca de 85% do diâmetro do planeta, o que é quase o triplo do núcleo terrestre, que representa apenas 30%. Ele é composto principalmente de ferro, sólido internamente e derretido na parte externa.

Embora teorias anteriores sugerissem que impactos ao longo de bilhões de anos removeram parte da crosta do planeta e o deixaram com um núcleo metálico anormalmente grande, um estudo recente indica que o campo magnético solar pode ter sido o responsável por atrair as partículas do metal.

O resfriamento e a contração desse núcleo ao longo do tempo puxaram a crosta do planeta para dentro (pois o núcleo sólido ocupa menos volume), causando fraturas e mudanças geológicas. Com isso, Mercúrio é o único planeta do Sistema Solar que está encolhendo.

Mercúrio não tem atmosfera, mas tem uma exosfera fininha

A afirmação de que o menor planeta do Sistema Solar possui uma exosfera pode parecer contraditória. Afinal, essa região é a mais externa de uma atmosfera, que não existe em Mercúrio.

Na analogia de que uma atmosfera planetária seria como uma cebola com várias camadas densas e bem definidas, a “cebola mercuriana” teria só a película externa. Na verdade, uma casca tão fina e esparsa, que nem poderia ser chamada de contínua.

Além de não formar um envoltório, a exosfera de Mercúrio tem partículas que não interagem entre si, não oferece os efeitos protetores de uma atmosfera real e está em um processo constante de perda e reposição de partículas de oxigênio, sódio, hidrogênio, hélio e potássio.

Veja também: Missão conjunta euro-japonesa faz primeiro sobrevoo e fotografa Mercúrio

Este conteúdo foi originalmente publicado em Dia solar em Mercúrio dura dois anos no planeta; entenda no site CNN Brasil.

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