Caso Marielle: 7 anos após o crime, famílias miram condenação dos mandantes e novas respostas


‘Espero que em 2026 a gente fale apenas de saudade’, diz viúva da vereadora executada em 14 de março de 2018, junto com o motorista Anderson Gomes. Executores foram condenados e acusados de serem mandantes estão no banco dos réus. Parentes e amigos de Marielle e Anderson celebram a decisão do júri de condenar Ronnie Lessa e Élcio Queiroz, em outubro
Brunno Dantas/TJ-RJ
Desde 2018, 14 de março marca o dia em que a vereadora Marielle Franco (PSOL) e seu motorista, Anderson Gomes foram brutalmente executados. Pela primeira vez, em 7 anos, a data é lembrada com os acusados de serem os mandantes do atentado presos e com os assassinos confessos condenados.
Os irmãos Brazão e o delegado Rivaldo Barbosa foram detidos em 24 de março do ano passado, apontados como sendo os responsáveis pela execução da parlamentar. Eles negam.
Sete meses depois, os executores da psolista seriam sentenciados. O ex-policial militar Ronnie Lessa, o autor dos disparos naquela noite, recebeu a pena de 78 anos e 9 meses de prisão. O também ex-PM Élcio Queiroz, que dirigiu o Cobalt usado no atentado, foi condenado a 59 anos e 8 meses de prisão.
Os parentes, agora, esperam a condenação dos responsáveis e a resposta para todas as perguntas que ainda faltam.
“Para 2026, eu espero que continuemos tendo respostas. Que as nossas outras perguntas tenham respostas: Por que mandaram matar a minha mãe? Quem mandou matar? Mas, além disso, que a justiça seja feita de forma plena e que o legado da minha mãe”, diz Luyara Santos, filha de Marielle.
O g1 conversou com Luyara e Monica Benicio, viúva de Marielle Franco, e Agatha Arnaus, viúva de Anderson. Elas foram unânimes: para que as famílias tenham paz, é preciso que todos os envolvidos nas mortes sejam sentenciados.
“Continuamos na luta por respostas e esperamos que logo tenhamos um desfecho completo do caso. Eu queria a minha mãe aqui do meu lado. Mas, infelizmente ele não está. Depois de mais de 6 anos, enfim, a justiça está sendo feita de alguma forma”, afirma Luyara.
Ronnie Lessa, Domingos Brazão e Chiquinho Brazão
TV Globo e Reprodução
Condenação foi ‘vitória’, mas sem ‘alívio’, diz viúva
Por sua vez, Monica destaca que as condenações de Ronnie Lessa e de Élcio Queiroz são “uma vitória, mas que ainda não trouxeram uma sensação de alívio”.
“A condenação deles foi um marco. Foi uma vitória, mas ainda não trouxe uma sensação de vitória e alívio. Lutamos pela condenação de todas as pessoas que tiveram qualquer tipo de participação. Seja quem mandou [matar], quem planejou e quem executou. Entendemos que [a condenação] é uma reparação”, diz Benício.
‘Vida está mais leve’, diz viúva de Anderson
Marielle Franco e Anderson Gomes foram mortos no dia 14 de março, no Rio de Janeiro
Reprodução/TV Globo
A servidora pública Agatha Arnaus conta que “com a condenação dos executores a vida está mais leve”.
“Sinto que um peso começou a sair das minhas costas. Acho que isso teve um impacto muito relevante na minha vida e na vida do Arthur. De termos paz, aquele sentimento que a Justiça está sendo feita. Mas, é claro que falta muita coisa. São muitos processos [ainda]. [A condenação dos dois] não encerrou nada, mas deu um alívio”, destaca.
Quando o g1 perguntou o que elas esperam para o próximo ano, todas elas sentenciam: “Queremos a condenação de todos os envolvidos”.
“Eu espero que em 2026 a gente fale apenas de saudade, memória e que a justiça tenha sido feita — com a condenação dos mandantes e de todos os envolvidos. Que no ano que vem possamos falar da memória, pois a saudade dói”, sentencia Monica.
“Teremos muitas lutas ainda. Espero estar preparada para os próximos júris: o do Maxwell [Maxwell Simões Corrêa que foi mencionado como responsável por trazer as novas placas clonadas para o veículo Cobalt prata, usado no crime] e dos mandantes. Eu acho que todos [os júris] serão tão duros quanto o primeiro. É muito difícil ouvir que as pessoas conspiraram para matar um parente seu. Eles não tinham a noção do que tiraram”, conta Agatha.
Rivaldo e a surpresa
Luyara, Monica e Agatha voltaram a afirmar que ficaram surpresas com a prisão do delegado e ex-chefe da Polícia Civil do RJ Rivaldo Barbosa. De acordo com a Polícia Federal, ele foi o mentor do assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes.
Segundo a investigação, Rivaldo exigiu que Marielle não fosse morta entrando ou saindo da Câmara. “Tal exigência tem fundamento na necessidade de se afastar outros órgãos, sobretudo federais, da persecução do crime”, diz a PF.
A polícia concluiu também que, durante o tempo em que chefiou a polícia, o delegado buscava “desviar o foco da investigação daqueles que são os verdadeiros mandantes”.
“Foi surpreendente o suposto envolvimento do Rivaldo. A gente encontrou com ele logo após o crime. Vê uma pessoa que abraçou você, sua avó, seu avô, que dizia que iria lutar incansavelmente por respostas e essa pessoa, aparentemente, está envolvida, é bem difícil. Não tem como não se surpreender”, relata Luyara.
“A grande surpresa foi o nome do Rivaldo. A gente sabe do poder político da família Brazão há anos. Mas, o nome dele [do delegado] jamais entraria no meu radar. Ele acompanhava a investigação. O mais emblemático é que ele foi a primeira autoridade pública a receber as famílias. Ele nos recebeu com o cinismo enorme. Num primeiro momento ele ser solidarizou, fez promessas. Mas, vendo agora, tudo não passou de um jogo de cena. O Rivaldo chegou a falar que a Marielle e ele trabalharam juntos em casos de policiais mortos. Anos depois, descobre-se que ele foi uma peça fundamental no crime. Para mim foi desumano”, destaca Monica.
“Em relação ao Rivaldo, realmente, foi uma surpresa. Eu nunca tive contato com os irmãos Brazão, mas nós tivemos uma reunião com o Rivaldo — encontro que foi muito noticiado há época. Confesso que foi difícil. [Ele] Não era alguém desconhecido. Ele era uma autoridade do caso. Alguém que te abraça, diz para você que vai investigar, que vai solucionar, que vai te trazer a resposta… Mas, no final você vê que a pessoa estava conspirando. Cena de filme, que você convive com o inimigo. Foi assim que eu me senti”, ressalta Agatha.
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