VÍDEO: Homem cai em voçoroca de 80 metros de profundidade em Buriticupu, no MA


Problema já existe há mais de 30 anos, mas nunca foi contido pelo poder público. Município está em situação de calamidade pública. Homem cai em voçoroca de 80 metros de profundidade em Buriticupu, no Maranhão
Um homem, identificado como Matheus, caiu dentro de uma das enormes voçorocas que crescem no entorno do município de Buriticupu, a cerca de 415 km de São Luís. Ele sobreviveu, mas, até as 10h30, os bombeiros ainda tentam resgatá-lo.
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De acordo com moradores da região, Matheus teria caído no início da manhã desta sexta-feira (7), mas ainda não se sabe o que causou a queda. A vítima mora no Residencial Eco Buriticupu, uma das regiões que estão sendo engolidas, aos poucos, por uma voçoroca.
Homem identificado como Matheus caiu em uma das voçorocas de Buriticupu
Curicao Mecânico
A voçoroca que Matheus caiu tem cerca de 80 metros de profundidade. Um vídeo (veja acima) mostra a vítima se mexendo, mas com dificuldade para se levantar. Bombeiros civis foram chamados para realizar o resgate, mas encontram problemas para conseguir se aproximar do local do acidente.
O g1 entrou em contato com a guarnição dos bombeiros militares em Açailândia, cidade vizinha responsável por Buriticupu, que até as 9h30 não sabiam da ocorrência. No entanto, afirmaram que enviaram uma equipe ao local.
Voçoroca do Residencial Eco Buriticupu avança a cada ano
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Arte g1 / Bianca Batista, Dhara Assis e Bruna Azevedo
No Residencial Eco Buriticupu, com centenas de casas construídas, muitos moradores já se mudaram porque não se sentem mais seguras perto da mesma voçoroca onde Matheus caiu. O valor dos imóveis já caiu mais de 50% e ainda assim os moradores dizem que não há quem aceite comprar.
O g1 mostrou o problema no ano passado, e o drama de uma das moradoras que teme perder a casa onde mora.
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“É horrível. Em tempos de chuva, eu não tenho vontade de sair de casa… porque eu fico preocupada de chegar e ter acontecido alguma coisa… é um horror”, afirma Kaillany Pinheiro, estudante e moradora do Residencial Eco Buriticupu, na época.
Buriticupu vive situação de calamidade pública
Casa é ‘engolida’ por voçoroca e assusta moradores em Buriticupu
Em fevereiro deste ano, a Prefeitura de Buriticupu decretou estado de calamidade pública por causa do novo avanço das voçorocas que acontece por causa do retorno do período chuvoso. Nos últimos meses, mais casas foram engolidas pelas crateras;
No final de janeiro, uma das residências foi engolida na Rua Vitória e provocou desespero nos vizinhos (veja no vídeo acima). A casa, que já tinha sido abandonada, foi levada para o abismo e as demais residências ao redor precisaram ser evacuadas.
O decreto municipal de calamidade pública, do dia 11 de fevereiro de 2025, afirma que há 1,2 mil pessoas em 250 moradias situadas em áreas de risco, nos bairros: Caeminha, Centro, Vila Isaias, Santos Dumont, Eco Buriti, Terra Bela, Sagrima e Terceira Vicinal.
Até 2024, 180 famílias estavam em situação de risco e, em 2025, mais famílias tiveram que deixar as residências próximas de onde as voçorocas já alcançaram.
Moradores se assustam após queda de casa em voçoroca, em Buriticupu
Reprodução/redes sociais
Por conta do novo avanço das voçorocas, a Justiça do Maranhão também determinou, no início de fevereiro, que o município de Buriticupu adote providências para a contenção das voçorocas, em diversos pontos da cidade. A sentença atendeu a um pedido do Ministério Público.
“O município de Buriticupu ainda não solucionou o problema de forma plenamente eficaz mesmo diante de reiteradas notificações do Ministério Público e dos compromissos assumidos em sede de conciliação, o que justifica a necessidade de uma decisão judicial impositiva”, justificou, na sentença, o juiz.
Crateras ameaçam centenas de moradores em Buriticupu, no Maranhão
Reprodução/Marinho Drones
Consta na decisão judicial que o município deve:
delimitar e isolar, no prazo de 30 dias, com sinalização adequada, todas as áreas com risco de desabamento e movimentos de massa decorrentes das voçorocas;
atualizar, no prazo de 30 dias, o cadastro de todas as famílias residentes nas proximidades das áreas afetadas, providenciando aluguel social para aquelas expostas a risco iminente.
apresentar, no prazo de 120 dias, um plano detalhado para execução de obras de contenção das voçorocas, com cronograma físico-financeiro;
implementar, em 180 dias, as medidas para mitigação dos impactos ambientais;
recuperar, ambientalmente, as áreas degradadas no prazo máximo de quatro anos
O prefeito de Buriticupu, João Carlos (PP), reeleito em 2024, afirmou que foram realizadas algumas obras de contenção no ano passado, que estariam ajudando a diminuir os transtornos das chuvas este ano, apesar das reclamações dos moradores de que o serviço ‘não teve resultado’.
João Carlos diz ainda que aguarda o envio de recursos e serviços prometidos pelo governo federal, pois estaria trabalhando sem apoios diante de uma realidade que a prefeitura não conseguiria resolver com os próprios esforços.
O g1 entrou em contato com o governo federal sobre as alegações de suposta falta de envio de recursos para os serviços em Buriticupu, mas não obteve resposta até a última atualização desta reportagem.
Moradores vivem à beira de precipícios formados por voçorocas em Buriticupu
Poucas obras de contenção
Provocado pela erosão do solo, o problema das voçorocas existe há mais de 30 anos na cidade e já causou destruição de casas e até mortes. Até hoje nunca houve solução ou contenção que evite de forma eficaz o avanço das crateras.
Segundo os moradores, nos últimos anos, houve apenas algumas ações paliativas em áreas críticas, como próximo de rodovias. Em outras regiões, as voçorocas seguem avançando e engolindo casas.
Em março de 2023, a Defesa Civil Nacional esteve em Buriticupu avaliando a situação. Na época, foi decretado estado de calamidade pública. O Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional se comprometeu em ajudar a resolver o problema.
Porém, desde então, a prefeitura diz que houve o repasse de apenas R$ 687 mil para aquisição de materiais de assistência humanitária para as famílias desabrigadas, desalojadas e afetadas pelo avanço erosivo das voçorocas.
Desmatamento causou crateras que ameaçam ‘engolir’ casas no MA
Kayan Albertin/g1
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Entenda as voçorocas
30 anos das voçorocas que engolem casas em Buriticupu
Em Buriticupu, enormes abismos se formam onde há pouca vegetação e o solo fica desprotegido. Conhecido como voçorocas – que significa terra rasgada em tupi-guarani – as crateras gigantes começaram a surgir na cidade há mais de 30 anos, a partir da rápida expansão urbana, como consequência do desmatamento da vegetação nativa. Alguns desses abismos têm até 70 metros de profundidade e 500 metros de comprimento.
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Devido à incidência do processo de erosão e dos riscos à segurança dos moradores, bem como ao meio ambiente, o Ministério Público instaurou Inquérito Civil e ficou acordado que o município iria delimitar e isolar áreas, interditar imóveis, remover as pessoas expostas aos riscos e realizar ações de contenções das voçorocas.
Situação preocupa quem vive próxima as crateras em Buriticupu
Reprodução/TV Mirante
Porém, segundo o promotor de justiça José Frazão Menezes, ao longo do processo houve dificuldade de comprovação das ações adotadas pelo município.
“Nossa expectativa agora é que não sejam apenas adotadas, mas devidamente comprovadas todas as providências determinadas pela justiça, vez que os prazos são perfeitamente exequíveis, não devendo mais se despender tempo discutindo-se judicialmente direitos tão evidentes, pois se referem à situação de risco envolvendo pessoas e o meio ambiente”, observou o membro do Ministério Público.
O que são as voçorocas
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As crateras são pequenos fenômenos geológicos que surgem como fendas no solo, geralmente provocadas pela água da chuva. Se nada é feito para conter, uma cratera pode chegar ao grau de voçoroca, quando atinge um lençol freático.
Em Buriticupu, as crateras se formaram a partir da rápida expansão urbana e como consequência do desmatamento da vegetação nativa em áreas de alta declividade. Na cidade, os abismos chegam até 70 metros de altura e 500 metros de comprimento e ameaçam ‘engolir’ casas.
Vista aérea mostra cratera em Buriticupu, no Maranhão, em 28 de março de 2023.
REUTERS/Mauricio Marinho
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